pedofilia no esporte

OUÇA: mãe conta como descobriu que filho era abusado por homem que se passava por treinador de futebol

Naiôn Curcino e João Pedro Lamas

Conversa entre o adolescente (cinza) e o criminoso (verde)

SÉRIE PEDOFILIA NO ESPORTE

Estamos no país do futebol. É assim que o Brasil é conhecido mundialmente. É óbvio que as práticas esportivas no Brasil não se restringem ao mundo da bola e das chuteiras. Infelizmente, todo jovem que sonha com uma carreira no esporte está vulnerável a abusadores. Técnicos, olheiros, empresários e profissionais que atuam na área, especialmente no futebol, acabam transformando esses sonhos em pesadelos.

E essa realidade não é apenas nos grandes centros. Em Santa Maria e região, pelo menos sete adolescentes podem ter sido vítimas de um homem de 32 anos que se passava por técnico e empresário de futebol. Ele foi preso em casa, no Bairro Santa Marta, na Região Oeste, após a Polícia Civil de Cruz Alta chegar ao seu nome quando a mãe de um menino de 14 anos descobriu que o suspeito aliciou seu filho para que o adolescente enviasse fotos nu em posições pornográficas.

O zelo dessa mãe, atenta com às novas tecnologias, foi o que salvou o filho das garras desse homem, preso em Santa Maria no dia 15 de novembro do ano passado. Como de costume, em uma noite, ela pegou o celular do filho para fiscalizar com quem o adolescente conversava. E foi em um descuido do aspirante a jogador de futebol, que esqueceu de apagar as mensagens do aplicativo WhatsApp, que ela descobriu os planos do falso técnico e empresário de se encontrar com o filho dela em um hotel de Cruz Alta.

O modo de agir desses criminosos é como um roteiro. Além das conversas em que combinava de se encontrar com o adolescente, o suspeito prometia muitas coisas, como promessa de ascensão no esporte e, principalmente, presentes. Após isso, foram feitos pedidos insistentes de fotos e vídeos do menino nu e em posições pornográficas. Algo que com a "lábia", como a mãe e o delegado responsável pelo caso definem o modo de persuasão do suspeito, ele conseguiu.

Foto: Naiôn Curcino (Diário)
Ela também relata como foi a reação após ver as conversas, fotos e vídeos e as consequências do crime na vida da família

O Diário teve acesso às conversas entre o suspeito e o adolescente de 14 anos e selecionou alguns trechos com conteúdo considerado mais brando. A mãe do adolescente vítima também aceitou falar com o Diário. Leia e escute abaixo o que ela contou.

Diário - Como foi a descoberta das conversas e fotos?

Mãe - Ele conhecia o meu filho pela internet, há uns dois anos. Ele chegou a ligar para nós, dizendo que queria agenciar o meu filho. Aí, eu e meu esposo decidimos que não, porque o meu menino é bem novo. Se fosse para levar em algum lugar, a gente mesmo leva. Aí, deletei o número dele do celular do meu filho, troquei o número do meu filho e pedi para que ele não conversasse mais. Mas ele tinha outro contato e conseguiu o celular novo do meu filho há uns seis meses e começaram a conversar de novo. Pelo que vi nas conversas, foram normais no início, e, aí, no começo de novembro, ele começou a pedir fotos e outras coisas. Só que o meu filho deletava as conversas. Então, toda a vez que eu olhava o celular dele, não tinha nada. E, nessa vez, ele não tinha deletado, porque ele não sabe quando eu olho, apesar de saber que eu olho.

Diário - Como reagiu depois de ver tudo isso?

Mãe - Num primeiro momento, fiquei apavorada pelo que eu vi e li. Depois disso, a gente quer fazer justiça com as próprias mãos, mas tem que manter a calma. Conversei com o meu esposo, e ele pediu que eu procurasse a polícia. Mantive a calma naquela noite e, pela manhã, procurei a polícia.

Diário - Algum dia imaginou que o sonho do seu filho poderia ser usado por alguém para abusá-lo?

Mãe - O meu filho quer ser profissional de qualquer jeito e acabou iludido. É tudo que a criança sonha ser, né? Pega no ponto fraco dela, ela é iludida por aquilo e vai cair. Apesar de que, pelas conversas, qualquer pessoa iria cair, porque a lábia dele era grande. Eu sempre deixei claro para o meu filho que isso existe. Nunca imaginava que aconteceria com ele. Sempre disse que qualquer coisa tinha que dizer para nós. E, mesmo assim, olha o que aconteceu. Eles fazem uma lavagem cerebral na criança, vão dando um jeitinho até conseguir. Ainda que eu descobri antes de ocorrer algo. Mas, e essas mães que nem sabem? E essas 24 mães que ele falou o nome? A maioria nem sabe que o filho teve isso. Eu denunciei porque não pensei só no meu filho, pensei num todo. Podia ter livrado o meu filho, mas, e se ele pegasse outro, e outros, e sabe-se lá mais quantos?

Diário - Como está o seu filho hoje?

Mãe - Ele ficou com um pouco de medo depois. O meu filho é muito quieto, não é muito de conversar. Se a gente vai falar com ele, ele chora as vezes, ou fica quieto, abaixa a cabeça e não responde. Estamos fazendo um tratamento psicológico. Acho que fica um trauma sim.

Diário - O que você diria para outras mães que também têm filhos com esse sonho?

Mãe - Para essas mães que ainda podem passar por isso, do filho ter caído na lábia desses indivíduos: que sejam fortes, se precisarem de força, nós, mães, temos que nos unir. E olhem mais para os seus filhos. Muitas mães fecham os olhos, confiam, largam internet e confiam que estão jogando. Falta de informação não é, porque, hoje em dia, tudo é muito aberto. Mas, cuide, olhe, veja o que está fazendo, note se está vindo com presente, de onde está saindo. Sou uma mãe muito protetora e pretendo continuar sendo.

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