exemplo a ser copiado

Grupo de WhatsApp comunitário reduz roubos, arrombamentos e abigeatos em Camobi

Camila Gonçalves

Foto: Charles Guerra (Diário)
Comandado pelo capitão Lacerda (à frente), o 3º Batalhão da Brigada Militar, com sede em Camobi, conseguiu reduzir índices de criminalidade no bairro com a ajuda da Associação Camobi Segura

"Meliante de mochila preta e blusa preta acabou de assaltar estabelecimento agora". A mensagem de WhatsApp é enviada às 16h05min pelo dono da empresa alvo do ação criminosa - o nome do estabelecimento não foi divulgado a pedido do proprietário. Às 16h24min, o celular da Sala de Operações da Brigada Militar (BM) dispara a seguinte mensagem: "Está preso". O diálogo de 11 minutos se passa no grupo de WhatsApp da Associação Camobi Segura, entidade criada por empresários do Bairro Camobi para auxiliar os órgãos de segurança pública. O resultado dessa parceria público-privada foi a redução de indicadores criminais em Camobi no primeiro trimestre deste ano: reduziram os roubos a estabelecimento comercial, os arrombamentos e os abigeatos.

ESTATÍSTICA
Números referentes ao período de janeiro a março de 2017 e 2018, conforme a Brigada Militar 

Roubo a estabelecimento comercial

  • 2017 - 4 
  • 2018 - 1

Abigeato

  • 2017 - 3 
  • 2018 - 1

Arrombamento

  • Não foram divulgados números absolutos, mas a Brigada Militar afirma que esse tipo de crime teve redução de 50% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado 

O furto relatado acima aconteceu em dezembro do ano passado. O meliante ao qual o empresário se referiu havia furtado seis discos de corte e algumas ferramentas de uma madeireira do bairro. O dono percebeu que o rapaz havia carregado a mercadoria e avisou a polícia pelo aplicativo. Depois disso, mensagens de outros membros do grupo indicaram para onde o suspeito havia se deslocado. Um deles enviou até foto do suspeito. Além de prender o suspeito em flagrante, a Brigada Militar recuperou o material.

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MELHOR COMUNICAÇÃO 
Esse é só um dos exemplos de como a comunidade e os órgãos de segurança têm trabalhado em conjunto desde a criação da associação. O dinheiro aplicado pela associação (para compra de material para os órgãos de segurança, conserto de viaturas e até reparos na sede do Batalhão da BM em Camobi) vem das mensalidades pagas pela comunidade. O grupo no WhatsApp é só uma das iniciativas da entidade. De lá para cá, a comunicação por meio do aplicativo se aperfeiçoou. A comunidade aprendeu a identificar atitudes suspeitas e a informar com precisão os dados para que a polícia prendesse os suspeitos ou até fizesse uma abordagem evitando os crimes.

Para o comandante do 3º Batalhão da Brigada Militar, com sede em Camobi, capitão Alexandre Pires Lacerda, a diminuição do número de ocorrências se deve à interação da Brigada Militar com a comunidade.

- A certeza de que a denúncia terá uma resposta rápida fez com que o cidadão veja que essa interação dá certo. O tempo de resposta diminuiu. Não é preciso ficar escravo do 190. Essa relação aumentou a confiança da comunidade com a Brigada Militar - diz o capitão Lacerda. 

MODELO COPIADO
Outros bairros já buscaram informações sobre como a comunidade de Camobi implantou a associação. Segundo o presidente da Camobi Segura, Adriano Deglioumini, moradores do distrito de Arroio Grande e do Bairro Tancredo Neves buscam um sistema parecido. O aplicativo já é usado em Arroio Grande, em parceria com a Brigada Militar. Adriano lembra que montar uma associação com foco na segurança comunitária não é uma receita de bolo.   

- Se conseguirmos adaptar microcélulas, pequenos grupos de moradores, podemos formar uma cidade inteira segura - avalia o presidente.  

EM ESCOLAS
A Brigada Militar também já adaptou o modelo para implantá-lo junto às escolas. O grupo destinado ao atendimento das instituições de educação conta com 21 colégios do bairro. Para isso, a BM criou a Patrulha Escola Segura. Dois policiais militares são destinados a fazer rondas de motocicleta nas escolas. Eles abordam pessoas com comportamento suspeito, para coibir a venda de drogas na porta das instituições, brigas, entre outros casos. Pelo aplicativo, dirigentes de cada turno das escolas de Camobi comunicam situações de risco e acionam a presença da patrulha. 

Em entrevista ao Diário em janeiro deste ano, o delegado Antônio Firmino de Freitas Neto, responsável pela 4ª Delegacia de Polícia, que cobra a região de Camobi, havia dito que a Associação Camobi Segura colaborou em cerca de 70% das prisões em flagrante feitas pela Polícia Civil. Firmino aposta que a soma de comprometimento das lideranças da associação, a colaboração da comunidade, o apoio financeiro do empresariado e o bom relacionamento entre BM e Polícia Civil são os ingredientes da receita que deu certo em Camobi. 

- Além do apoio material que a associação nos dá, de trazer o tema da segurança nas reuniões e falar sobre a criminalidade no bairro, a velocidade que as prisões têm acontecido se deve à colaboração da associação. É um "sistema de câmeras" muito eficiente - elogia Firmino.

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A ASSOCIAÇÃO

Criada em dezembro de 2015, a Associação Camobi Segura já implantou as seguintes ações:

  • Mediação de grupo no WhatsApp com mais de 300 membros, entre eles, representantes da Brigada Militar (BM), da Polícia Civil, do Batalhão Rodoviário da BM, da Polícia Rodoviária Federal (PRF), do Corpo de Bombeiros e da Guarda Municipal
  • Investimento de R$ 70 mil em conserto de 18 viaturas, compra de tablets, material para pintura do esquadrão da BM de Camobi, entre outros. Fundo é alimentado por mensalidade paga por empresários
  • Operação Férias Tranquilas - Projeto da Brigada Militar em parceria com a associação, que funciona de dezembro a março. Uma dupla de PMs faz a ronda em endereços cadastrados. Qualquer morador de Camobi pode fazer o cadastro na Brigada Militar. A ideia é guarnecer as casas que ficam vazias no período das férias
  • Para fazer parte da Associação Camobi Segura, entre em contato com o grupo de WhatsApp (55) 99990-2402 ou pela página da Associação no Facebook 


Foto: Charles Guerra (Diário)

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COMUNIDADE TEM DE PARTICIPAR
O professor e coordenador do Núcleo de Segurança Cidadã da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma), Eduardo Pazinato, explica que experiências como a Associação Camobi Segura surgiram nos Estados Unidos na década de 1970. Estudos na área de segurança comunitária apontam que o sucesso de projetos desse tipo é a sinergia entre as carências das estatais e a capacidade e o apoio social e financeiro comunitário.  

No entanto, chama a atenção Pazinato, só o dinheiro não basta. Para o especialista em segurança, a comunidade precisa se inserir e participar, e não apenas reivindicar.
- Não creio que o mero suporte financeiro seja o melhor caminho. O senso de identidade e pertencimento dos membros deve ser empregado para o aprimoramento das estratégias de policiamento orientado à resolução de problemas, que depende dessa troca de informações - acredita o professor.

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