Após crimes, Gare tem policiamento reforçado e moradores criam alternativas de segurança

Foto: Renan Mattos (Diário)
Homicídio, furtos e depredações na estação ferroviária e na Vila Belga intensificaram trabalho da polícia

A Polícia Civil vem investigando uma sequência de delitos na região do antigo complexo ferroviário de Santa Maria. Os primeiros fatos começaram a ser registrados em junho, na Vila Belga. Lâmpadas, bojos, fios e outras partes de cerca de 15 luminárias de fiação subterrânea que adornam a Vila Belga foram alvos de bandidos. Depois, durante uma reportagem sobre esses furtos na Vila Belga, um cinegrafista da RBS TV acabou sendo roubado em plena luz do dia. E, no dia 11 de agosto, um desentendimento resultou em um homicídio na Estação Férrea, próximo aos trilhos. Os moradores da região resolveram agir. Eles criaram um grupo no WhatsApp e usam o canal para trocar informações sobre a movimentação no local. Além disso, a comunidade deve custear um sistema de videomonitoramento nas ruas da Vila Belga (veja mais abaixo).  

O Diário mostrou também a depredação dos vagões na Gare. Um dos vagões, de 1937, que levava engenheiros para inspecionar as linhas férreas e que foi reformado para a visitação de turistas em 2012 acumulava lixo, garrafas e roupas velhas. Delitos que foram praticados em meio ao aumento da circulação de pessoas naquela região da cidade desde a implantação da Guarda Municipal no local e da abertura do Mercado Público de Santa Maria - a área compreende parte das regiões central e norte de Santa Maria.

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A partir da onda de saques ao sistema de iluminação, o patrulhamento da Brigada Militar no centro da cidade foi estendido à Vila Belga. Embora os furtos não tenham sido registrados, a área é de baixa criminalidade em relação a outras localidades, conforme o comandante do 1º Regimento de Polícia Montada (RPMon) da Brigada Militar, tenente-coronel Erivelto Hernandes Rodrigues. Em julho, além dos furtos na Vila Belga e do assalto ao cinegrafista, houve também um arrombamento e um furto de celular no local.  

Três dias depois do assassinato na Gare, a reportagem do Diário foi até o local e presenciou três guardas municipais fazendo o monitoramento da região - a sede fica junto à Gare, no Bairro Perpétuo Socorro. Uma viatura da Polícia Civil também foi vista enquanto poucos visitantes tomavam sol naquele endereço.

O casal Evandro Oliveira, 39 anos, e Fábia Robaldo, 37, moradores de Amambai (MS), visitava a antiga plataforma de embarque da Gare na tarde do último dia 14. Os turistas levaram os filhos de Fábia, Antony, 4 anos, e Renata, 14, para conhecer a parte turística de Santa Maria. Oliveira, que morou em Santa Maria em 2016, ouvia que a região era perigosa, mas, naquela dia, achou o local seguro.

- Está cheio de guardas. Não me sinto inseguro - declarou.

Foto: Renan Mattos (Diário)

OS CASOS REGISTRADOS RECENTEMENTE 

Furto de postes e luminárias, entre junho e julho deste ano 

• Investigação está em andamento na 1ª Delegacia de Polícia de Santa Maria. O delegado Carlos Alberto Gonçalves disse que está trabalhando com as imagens captadas por câmeras de segurança e outras diligências, mas não dá mais detalhes
• Material não foi recuperado e, até o momento, ninguém foi preso
• Conforme a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação, o conserto dos postes poderá ser contemplado no projeto de revitalização do Centro Histórico da cidade, que inclui a Vila Belga. O projeto está concluído e orçado em R$ 15 milhões. A prefeitura deve buscar os recursos junto aos ministérios competentes para viabilizar o plano

Roubo a cinegrafista da RBS, no dia 27 de julho 

• Investigação está com a 1ª DP de Santa Maria
• Polícia identificou o suspeito. É um adolescente de 16 anos que foi apreendido em Porto Alegre depois de ser abordado com uma arma e uma porção de maconha. Ele está no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) da Capital
• A carteira roubada não foi recuperada

Homicídio de Douglas Moreira dos Santos, 27 anos, no dia 11 de agosto 

• Segundo o delegado Gabriel Zanella, titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Santa Maria, a motivação do crime e o autor dos disparos já foram identificados. A polícia continua trabalhando no caso

REGIÃO DA GARE GANHOU ATENÇÃO DA BM
O funcionamento do Mercado Público na Gare já havia mudado a rotina da Brigada Militar. Além de se tornar rota do patrulhamento sistemático dos PMs, o antigo Mercado dos Ferroviários conta também com segurança privada.

Vinícius Nunes, 23 anos, que trabalha na administração do prédio, diz que os vigilantes do mercado ficam até o fechamento das atividades do pub que funciona no local, o último estabelecimento a fechar, por volta das 4h. Nunes conta que, no dia em que ocorreu o homicídio na plataforma de embarque, do lado oposto ao mercado, a Brigada Militar chegou a passar cinco vezes pelo local durante a tarde.

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- Meia hora antes (do assassinato), a Brigada estava aqui - relatou Nunes. 

Para o comandante do 1º Regimento de Polícia Montada (RPMon), tenente-coronel Erivelto Hernandes Rodrigues, por conta da motivação do homicídio, o crime poderia ter acontecido em qualquer outro local.

- Até onde a gente sabe, foi uma execução por dívida. Aconteceu ali como poderia ter acontecido em qualquer outro local pela vontade do agente ativo. Isso é uma das coisas que, durante o inquérito, vai se confirmar - avalia o comandante.

Foto: Renan Mattos (Diário)
Família de Amambai (MS) que visitou o local turístico de Santa Maria disse sentir-se segura lá

COMUNIDADE SE UNIU PARA MONITORAR 
A preocupação com o patrimônio e a segurança da Vila Belga acabou mobilizando os moradores e simpatizantes a tomarem medidas como a criação de um grupo de WhatsApp para compartilhamento de informações de acontecimentos ou pessoas em atitudes suspeitas. Há cerca de 20 dias, mais de 70 pessoas, incluindo um contato da Guarda Municipal, estão na comunidade virtual.

Outra medida deve estar funcionando nos próximos dias. A instalação de cerca de 20 câmeras de segurança que serão monitoradas em rede pelos próprios moradores. Segundo a presidente da Associação de Moradores Ferroviários da Vila Belga, Mirna Floresta, o sistema será bancado pela entidade, com a mensalidade ou anuidade dos associados, e já ganhou adesão até de outras entidades.

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- Largamos um comunicado de casa em casa dizendo que precisávamos tomar medidas depois dos últimos acontecimentos. A gente não pode só esperar pelo poder público - defende Mirna. 

Uma das poucas câmeras que já existem no local flagrou um dos furtos no dia 15 de julho, na Rua Doutor Wauthier, via que homenageia o engenheiro belga que construiu o conjunto habitacional de ferroviários, Gustave Wauthier. Na imagem, divulgada pelo site do Diário, duas pessoas participam da ação.

PATRULHAMENTO
Segundo Mirna, desde a ativação do grupo, os furtos pararam de acontecer. Segundo ela, a Brigada Militar e a Guarda Municipal têm feito patrulhamento dia e noite pelas ruas históricas.

O superintendente da Guarda Municipal, Sandro Nunes, disse que a instituição vem dialogando com lideranças da Vila Belga para pôr em prática o conceito de segurança comunitária preventiva, assim como acontece em Camobi, desde a criação da Associação Camobi Segura. Nesse modelo, a comunidade fica atenta a qualquer atitude suspeita no bairro e conta com os órgãos policiais e ferramentas de comunicação instantânea para evitar a criminalidade.

- Como diz a Constituição, a segurança é um dever do Estado e responsabilidade de todos. Só vejo essa forma de obter sucesso na segurança pública nos dias de hoje, quando a sociedade se organiza e consegue evitar e inibir o crime - argumenta o superintendente.