Sobrevivente do incêndio na boate Kiss vive nas ruas há 12 anos; AVTSM contesta relato

Sobrevivente do incêndio na boate Kiss vive nas ruas há 12 anos; AVTSM contesta relato

Foto: Mateus Ferreira

Sobrevivente do incêndio na boate Kiss, que causou a morte de sua companheira, Mário* vive nas ruas há 12 anos. No centro da cidade, cuida motocicletas e é onde também dorme. Além dele, outras 390 pessoas em situação de rua na cidade, um crescimento de 56,4% em relação a 2023, quando a Secretaria de Desenvolvimento Social registrou 250 pessoas.


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 Ele teve uma vida difícil desde o nascimento, quando foi abandonado em uma área de matagal no interior de Santa Cruz do Sul – foi encontrado ainda com a placenta por um caminhoneiro que decidiu criá-lo como filho. Com uma infância humilde, cresceu em Santa Maria e chegou a servir ao Exército Brasileiro, participando até mesmo de uma missão de paz no Haiti. Construiu sua vida com esforço, trabalhando como vigilante em diversos lugares da cidade.


– Eu trabalhava de vigilante na universidade (UFSM) durante a semana, e final de semana ia para o antigo Bombai, era um bar famoso aqui na cidade. Emprego tinha, e eu aproveitava para ter renda e ajudar a família – conta.


Mário teve um relacionamento e até mesmo filhos, mas tudo mudou na madrugada de 27 de janeiro de 2013. Ele estava trabalhando na boate Kiss ao lado da sua mulher na segurança. O incêndio que marcou para sempre a história de Santa Maria tirou a vida dela e deixou nele cicatrizes que vão além do corpo.


– Eu acordei no Hospital Conceição em Porto Alegre com um dreno no corpo, não fazia ideia do que tinha acontecido, foi então que me falaram que minha esposa tinha falecido. Perdi a pessoa que mais amei na vida e não estive no velório e nem no enterro dela – recorda Mário, emocionado.


A dor e a depressão tomaram conta dele. Como consequência, perdeu a vontade de seguir em frente. E foi assim que começou sua vida nas ruas. Montou uma barraca perto dos Correios, onde permaneceu por sete anos, até a instalação das grades no prédio público. Depois, mudou-se para a Rua Alberto Pasqualini, a antiga 24 Horas, onde “mora” hoje. Para sobreviver, cuida de motos.


– Aqui na rua, eu conheço muita gente, já são 12 anos nessa região. Sou tranquilo, respeito todo mundo, não pego nada de ninguém, ganho uns trocados cuidando as motos e consigo me alimentar ao longo do dia. Ali na esquina, divido o espaço com outro amigo, a gente se dá bem e nos ajudamos – relata, referindo-se ao local onde ambos colocam os colchões para dormir, embaixo de uma marquise.


Preconceito

Mesmo sem um lar, Mário diz que mantém sua dignidade. Ele não bebe, e faz questão de enviar dinheiro para os filhos, mesmo sem contato com eles, para não passarem dificuldades. Questionado sobre como é viver nas ruas de Santa Maria e como encara essa situação, ele conta o que vive diariamente:

 
– Sou discriminado, tem pessoas que passavam ali nos Correios e tapavam o nariz. Desviavam de mim, mas minha vontade era abraçá-los, explicar que meu abraço era para tentar tirar esse sentimento ruim que as pessoas têm de nós. Posso disser que vivi muita coisa nessa vida e aprendi muito.


AVTSM afirma que morador de rua não é sobrevivente do incêndio da Kiss

Por meio de nota, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) esclarece que o morador de rua entrevistado pela reportagem, que vive no centro de Santa Maria, não é sobrevivente da boate Kiss, diferentemente do relato ao Diário publicado em reportagem nas edições impressa e online de segunda-feira (5).

Confira abaixo a íntegra da nota.

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