Sapo Theo e unicórnio Theodora ajudam estudantes de Santa Maria a compreender o Transtorno do Espectro Autista

Os ursinhos de pelúcia chegaram para mostrar, de forma lúdica, que cada diferença merece respeito.Fotos: Vinicius Becker (Diário)

Em Santa Maria, duas turmas da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Pinheiro Machado ganharam colegas nada convencionais: um sapo que adora dinossauros e peças de Lego, mas não suporta comidas crocantes, e uma unicórnio verde e tímida, que não gosta de ambientes muito barulhentos. Eles não têm matrícula, mas conquistaram lugar especial entre os alunos da pré-escola durante a Semana da Inclusão, que termina nesta sexta-feira (29).

Theo e Theodora, ursinhos de pelúcia do projeto Universo Atípico, carregam características do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e ajudam a ensinar, de forma lúdica, sobre empatia e respeito. A instituição, que fica no bairro de mesmo nome, é a terceira do município em número de alunos com o transtorno.

Os ursos, que carregam o cordão do TEA, chegam acompanhados de uma caixa com objetos e um diário. O material descreve as preferências, as dificuldades e os níveis de suporte necessários, além de trazer informações para que as crianças aprendam a reconhecer sinais de desconforto, a convidar o colega para brincar e a se sensibilizar em situações de crise. 

Entre desenhos, frases e colagens, as crianças registram no diário como foi a convivência com Theo e Theodora.Foto: Vinicius Becker (Diário)


O projeto

Autora do projeto, Bruna fala sobre como o projeto ensina, de forma lúdica, sobre respeito às diferenças.Foto: Vinicius Becker (Diário)

A autora da iniciativa é Bruna Trindade Dias, 36 anos, mãe de Arthur, de 9 anos, diagnosticado com TEA em nível 1 de suporte. Ela é fundadora da Associação Universo Atípico, que reúne cerca de 240 famílias santa-marienses, além de profissionais e diretores escolares.

A ideia surgiu quando uma das mães do grupo compartilhou uma experiência realizada em Curitiba, envolvendo a capivara de pelúcia Dorotea. Bruna percebeu que o projeto dialogava perfeitamente com a realidade de Santa Maria e entrou em contato com instituições. O objetivo, segundo ela, sempre foi levar informação para dentro das escolas de forma acessível também às crianças.

A autora da iniciativa é Bruna Trindade Dias, 36 anos, mãe de Arthur, de 9 anos, diagnosticado com TEA em nível 1 de suporte. Bruna é fundadora da Associação Universo Atípico, que reúne cerca de 240 famílias santa-marienses e conta ainda com a participação de profissionais e diretores escolares.

Para ela, além da formação de professores, é fundamental que os colegas compreendam os comportamentos e as necessidades das crianças atípicas. Isso ajuda a reduzir o bullying, fortalece a convivência e dá mais suporte para o trabalho em sala de aula. Ela também enfatiza a importância de uma boa relação entre famílias e escolas. 

Cobramos uma escola que seja inclusiva, mas precisamos também ser parceiros dessas escolas, uma vez que é difícil para esses professores e a diretoria se adaptar. Os pais precisam ser esses parceiros da escola, e não só cobrar. Precisamos cobrar do Poder Público. Mas nós, enquanto família atípica, precisamos também dar esse suporte que a escola precisa.


Foto: Vinicius Becker (Diário)


Bruna conta que a própria trajetória foi transformada após o diagnóstico do filho. Apoiada pela Casa da Criança e por uma professora, a família buscou terapias e encontrou no acolhimento escolar a segurança necessária. 

O meu filho veio para ressignificar. Hoje eu falo que, dentro da maternidade atípica, precisamos ver não só como uma condição que é difícil, que é cansativa, mas também como um caminho de transformação.


Inclusão que começa cedo: Theo ensina com dinossauros, Lego e suas diferenças

O sapo TheoFoto: Vinicius Becker (Diário)


Atualmente, a Emef Pinheiro Machado conta com pouco mais de 500 alunos matriculados, dos quais 54 já possuem diagnóstico de TEA e outros seguem em investigação.

A professora Franciele Mazzardo Marzari (foto abaixo), 36 anos, apresentou o sapo Theo para a turma. Mãe de Matheus, de 6 anos, também com o Transtorno do Espectro Autista, ela acredita que a inclusão é peça-chave no processo educativo

Sempre tive essa questão de incluir e trabalhar sobre o respeito, afinal, todos somos diferentes por dentro e por fora. No momento que me tornei mãe e depois, com a descoberta do meu filho ser uma criança atípica, me vi mais envolvida em estudos, terapias, buscando estar mais atenta. Busquei por uma especialização em educação especial justamente entender não só sobre o transtorno, mas entre tantas outras deficiências que acompanham nossas crianças. E o trabalho só vem se desenvolvendo em cima disso, em histórias que envolvam as temáticas de cooperação, respeito, cuidado ao próximo. Toda essa experiência foi muito positiva.

Foto: Vinicius Becker (Diário)


Franciele conta que o trabalho com o urso iniciou na segunda-feira (25), quando o sapo chegou à turma do pré acompanhado de uma caixa. Dentro, havia livros sobre dinossauros, peças de Lego, carrinhos e outros objetos de interesse, além do diário que registrava preferências e restrições. A cada dia, uma atividade nova foi proposta.

Na terça-feira (26), após a leitura da história Meu amigo tem autismo, a turma conversou sobre as semelhanças e diferenças entre o personagem e os colegas. Theo participou do lanche, sempre respeitando seus gostos alimentares: arroz, feijão e massa. Nada de alimentos crocantes, como a farofa, que ele rejeita. A recusa simboliza a hipersensibilidade sensorial comum em crianças com TEA.


Foto: Vinicius Becker (Diário)


Na quarta-feira (27), Theo acompanhou as atividades de Educação Física e a leitura do livro Vicente, o diferente. Depois, as crianças participaram da dinâmica do lençol: cada balão representava um aluno e, juntos, precisaram carregá-los sem deixar que caíssem ou estourassem. A experiência simbolizou o cuidado e a cooperação necessários para incluir a todos.

Já quinta (28), a turma trabalhou em uma produção oral sobre quem era o Theo, o que gostava e como se comportava. O sapo seguiu participando de todas as atividades, e fica até esta sexta (29).

O sapo também acompanha as crianças na merendaFoto: Vinicius Becker (Diário)


Quando o barulho incomoda, Theodora ensina a importância do respeito

Theodora, o unicórnio tímido que prefere ambientes silenciosos, virou companheira das crianças nesta semana.foto: Vinicius Becker (Diário)


Na sala ao lado, a professora Andressa Diniz Vizzoto, 37 anos, apresentou a unicórnio Theodora aos alunos. As crianças logo entenderam que ela é tímida e não gosta de barulho. Assim, ela foi acolhida em mesas mais silenciosas, acompanhou leituras e até evitou o lanche e o recreio por causa do excesso de som. Ela conta que a experiência foi tão bem recebida pela turma e que muitos ficaram chateados ao saber que a nova amiga iria embora.

Mãe de Sarah Maria, de 4 anos, também com TEA, Andressa acredita que a vivência pessoal ampliou o olhar sobre a inclusão: 

Acho maravilhoso ser mãe de uma criança atípica e ser professora, porque me ajuda a entender melhor os meus pais e quando eu chego e digo: ‘Eu também sou mãe atípica’, os pais se sentem acolhidos.

Foto: Vinicius Becker (Diário)


Na mesma turma, está o pequeno Heitor Portella Schallemberger da Costa, de 6 anos, acompanhado pela monitora Lissandra Souza de Melo. Diagnosticado com nível 2 de suporte, ele chegou à escola no ano passado apresentando dificuldades de interação e episódios de agressividade. Com o acompanhamento constante em casa, na clínica e na escola, hoje, o menino já participa de brincadeiras como pega-pega e consegue expressar o que deseja. Para Lissandra, ver o projeto em prática foi emocionante: 

É incrível. Na verdade, acho que gratificante é a palavra que resume bem, porque passamos por tantos ambientes em que não há inclusão. Então, quando isso começa desde as crianças, é muita gratidão.

Lissandra e HeitorFoto: Vinicius Becker (Diário)



A escola e a comunidade

da: A vice-diretora Simone destacou que o projeto Universo Atípico soma-se às ações já desenvolvidas na Pinheiro Machado para acolher os estudantes com TEA, reforçando o compromisso da escola com a inclusão.Foto: Vinicius Becker (Diário)


Para a vice-diretora, Simone Marafiga Degrandi, 40 anos, a adesão ao projeto reflete o trabalho contínuo da escola em parceria com as famílias. Segundo ela, a ideia surgiu justamente das mães, que trouxeram a proposta à equipe. A atividade foi incorporada à Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Múltipla, mas seguirá nos próximos meses, alcançando desde a pré-escola até os alunos da Educação de Jovens e Adultos. 

A Pinheiro Machado é uma escola que vem trabalhando a questão da inclusão e que, na verdade, a comunidade procura para matricular os filhos em função disso. Acredito que nosso trabalho tem sido bem positivo, bem importante aqui na comunidade — afirma.

Foto: Vinicius Becker (Diário)


Como participar

O projeto Universo Atípico busca expandir suas ações a outras escolas do município. A associação se coloca à disposição para apoiar famílias em investigação ou com diagnóstico confirmado.

As escolas interessadas podem entrar em contato pelo Instagram @universoatipicosm ou diretamente com a equipe da associação.

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