Foto: Vinicius Becker (Diário)
Durante visita oficial ao Vaticano, o arcebispo metropolitano de Santa Maria, dom Leomar Antônio Brustolin, percebeu o grande interesse da Santa Sé no processo de canonização do diácono João Luiz Pozzobon, conhecido pela Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt, que completou 75 anos em 2025.
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O arcebispo esteve em Roma no final de setembro, onde participou do Jubileu dos Catequistas, e incluiu encontros com diversos Dicastérios (departamentos da Cúria Romana responsáveis pela administração da Igreja), entre eles o Dicastério para as Causas dos Santos, que conduz os processos de beatificação e canonização. Em junho deste ano, o processo de canonização avançou com a publicação do decreto que reconhece as virtudes heroicas de João Luiz Pozzobon, fazendo com que ele fosse declarado venerável pela Igreja Católica.
— Quando cheguei lá, levei material do último congresso realizado aqui em Santa Maria, muitas fotos e um relatório completo de tudo, que foi anexado ao processo. E o que percebi foi um interesse muito grande de Roma com o diácono Pozzobon, pela condição de diácono permanente. Isso facilita muito o caminho da beatificação e da canonização – explica.

Análise do milagre
A causa do diácono está agora para uma das etapas mais complexas: a análise do suposto milagre atribuído à sua intercessão. O processo exige pareceres técnicos e científicos que atestem a inexplicabilidade do caso.
— A gente sempre usa a expressão ‘suposto milagre’, porque quem tem que confirmar para nós que foi milagre não é a Igreja, são os médicos. Essa análise é feita por uma junta médica italiana, que não conhece nada do caso, e vai analisar todos os laudos médicos e exames que saíram daqui. Pode ser que peçam revisão. Este é um momento em que o próprio Vaticano fica refém, no sentido mais positivo, do que a ciência disser. Eles precisam constatar: "Aqui nós não sabemos explicar como essa doença foi curada". Se isso vier dos cientistas, os cardeais analisam. Fora isso, o restante do processo está favorável.
O arcebispo explica que, caso o milagre não seja confirmado, a causa não regride.
— Se não for reconhecido, não zera. A etapa já concluída é mantida, mas será preciso apresentar outro caso — explica.
Ele conta que o processo é conduzido com absoluto sigilo, inclusive sobre a identidade da pessoa que teria recebido a graça.
— Tudo é mantido em segredo para proteger o agraciado. A prudência milenar da Igreja evita que se exponha alguém antes da confirmação. Imaginem se for dito que foi milagre, e depois os médicos disserem que não foi? Como essa pessoa se sentiria?
Como um milagre chega ao Vaticano
O arcebispo também detalhou o caminho percorrido por um caso de possível milagre até chegar a Roma. Segundo ele, normalmente a família da pessoa curada procura a Igreja após receber dos próprios médicos a informação de que a recuperação é inexplicável pela ciência. Primeiro, a Igreja Católica estuda os escritos e testemunhos de vida do beato. Depois, vem a parte médica.
— Geralmente a família reconhece que houve milagre porque os médicos dizem: "olha o que aconteceu aqui a gente não explica". Então, os médicos têm que assinar e detalhar, vai prontuário hospitalar, os exames todos, como se fosse uma espécie de histórico da saúde da pessoa. Também vai estudo de caso, literatura sobre o problema, é algo extremamente científico. Se toda a primeira parte era análise de escritos e de testemunhos de vida do beato, essa segunda parte é ela é totalmente científica. Inclusive, se a algum laudo for muito genérico, muito aberto, eles mandam refazer. Isso vai para um grupo que não necessariamente tenham fé, tanto que eles nem usam a palavra milagre. Eles só podem dizer: de fato, na literatura médica mundial, este fato é inédito. A partir daí, a Igreja avalia o aspecto espiritual e o possível reconhecimento”
Encontro com o Papa Leão e celebração na Basílica de São Pedro
A visita de dom Leomar a Roma teve outro momento marcante: o encontro com o Papa Leão, durante o Jubileu dos Catequistas, que reuniu cerca de 280 brasileiros na comitiva nacional.
— O papa recebeu-me pessoalmente. Eu o conhecia como cardeal Prevost, e agora, pela primeira vez, como papa. Disse a ele que era do Brasil, do Rio Grande do Sul, e que presidi a comissão nacional. Também pude entregar um livro de Nossa Senhora de Guadalupe, que escrevi durante a pandemia da Covid-19. Eu disse que ele não iria ler porque o livro estava em português, mas ele começou a abrir, olhar as imagens e ler. Foi um encontro muito fraterno.
A viagem também proporcionou um dos momentos mais emocionantes da vida de dom Leomar: celebrar uma missa no altar principal da Basílica de São Pedro, com cerca de 300 brasileiros.
— Foi uma emoção muito grande. Celebrar na Catedral de São Pedro, em português, é algo que marca a vida de qualquer sacerdote. Um momento de profunda comunhão e gratidão.
Dom Leomar disse ainda que o papa destacou a importância de transmitir a fé às novas gerações, uma preocupação que tem mobilizado toda a Igreja. Segundo o arcebispo, essa é uma pauta que também ecoa no Brasil.
— O papa nos falou muito sobre a importância de transmitir a fé às novas gerações. E percebemos que aqui no Brasil, não falo só de Santa Maria, falo do país todo, estamos muito alinhados com essa grande preocupação do Vaticano, que é renovar a fé na Europa e na América. A fé católica está crescendo na África e na Ásia, mas na Europa e na América há um enfraquecimento. O desafio é entender por que aquilo que recebemos de nossos avós não estamos conseguindo passar para nossos filhos e netos.
Apesar disso, o arcebispo vê motivos para esperança.
— Mesmo onde há enfraquecimento, como na Europa, o catolicismo não decresce no mundo porque outras regiões estão descobrindo a beleza da fé. Esse movimento mostra que a Igreja está viva e em constante transformação.