Foto: Vinicius Becker (Diário)
A mobilização dos sindicatos municipais de Santa Maria voltou a refletir diretamente no cotidiano da população nesta sexta-feira (28). Ainda na madrugada, a aposentada Teresa Steindorf, 85 anos, chegou à Farmácia de Medicamentos Especiais, na Avenida Presidente Vargas. Eram 5h15min, e cerca de 30 pessoas já aguardavam na fila que, ao longo da manhã, estendeu-se pela calçada e dobrou a esquina da Rua Conde de Porto Alegre, na região central da cidade.
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Segundo Teresa, a cena não é inédita, mas se intensificou com o atendimento reduzido em razão da paralisação dos servidores. Ela conta que, na quinta-feira (27), tentou retirar seus medicamentos, mas desistiu diante da quantidade de pessoas.
– Ontem (quinta) eu vim aqui e voltei, não deu para aguentar, era muita gente, e hoje (sexta) vai ser pior. Porque, se chove, o que o pessoal vai fazer? Já estamos parados com esse sol medonho aqui. É muito triste isso para nós, que somos de idade. Mas nos vemos obrigados a vir, porque precisamos do remédio. É um medicamento caro que não temos condições de comprar – afirma.
O cenário observado sintetiza os efeitos das mobilizações que se estendem há quase um mês em Santa Maria. A cidade vive duas greves simultâneas, motivadas pela proposta de Reforma da Previdência enviada pelo Executivo ao Legislativo em novembro. Com a paralisação do Sindicato dos Professores Municipais (Sinprosm) e do Sindicato dos Municipários (SMSM), diversos serviços essenciais operam com equipes reduzidas, incluindo a assistência farmacêutica, que segue com 30% do efetivo, conforme determina a legislação para períodos de greve.
Mobilização dos municipários

A paralisação dos municipários, iniciada em 24 de novembro, pressiona pelo recuo da Reforma da Previdência. A greve tem previsão inicial de 10 dias, mas a categoria autorizou a prorrogação caso não haja negociação e planeja novos atos para a próxima semana. Os servidores pedem a retirada dos quatro projetos que compõem a reforma da pauta da Câmara. Durante o período, outros setores da administração municipal, como unidades de saúde, também podem operar com restrições.
Desde o início da greve, a farmácia adotou um sistema de 250 fichas diárias, distribuídas entre 8h e 13h. Além disso, os novos cadastros para a retirada de medicamentos também ficaram restritos a 25 fichas por dia, sendo que antes eram 60. A limitação tem gerado preocupação entre usuários que dependem de medicações contínuas.
No entanto, de forma excepcional, nesta sexta-feira, o Setor de Dispensação da Farmácia distribuiu fichas das 8h às 11h, sem limite de quantidade. Após esse horário, o atendimento passou a ocorrer exclusivamente para quem já havia retirado a ficha. Já no Setor de Processos, foram disponibilizadas 30 fichas para o atendimento ao público.
A Farmácia Municipal de Medicamentos Especiais fornece remédios previstos nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), destinados principalmente ao tratamento de doenças raras ou de baixa prevalência, que exigem terapias de alto custo e/ou alta complexidade.
Em balanço, a prefeitura informa que cabe a cada unidade organizar seu funcionamento conforme a adesão dos funcionários à greve. A Assistência Farmacêutica mantém 30% dos serviços ativos.
Mobilização dos professores municipais

Enquanto isso, a greve dos professores foi deflagrada em 5 de novembro. O movimento também busca pressionar a prefeitura e os vereadores pela revisão do projeto de reforma. De acordo com a categoria, há pontos considerados prejudiciais aos professores, como a forma de cálculo dos benefícios e a aplicação de desconto previdenciário a partir de um salário mínimo, além da falta de diálogo na construção da proposta. Na última quarta-feira (26), a categoria decidiu manter a paralisação até pelo menos o dia 3 de dezembro, quando uma nova assembleia deverá avaliar os rumos do movimento.
Em entrevista ao Diário, a coordenadora de comunicação do Sinprosm, Celma Pietczak, ressaltou a força da mobilização.
– Ontem (quinta) mostramos que nossa mobilização está forte. Conseguimos impedir a votação do parcelamento do nosso 13º, com o apoio de muitos vereadores. Dizemos não à Reforma da Previdência. A greve cresce a cada dia, e a vigília na Câmara é prova disso – declarou.
Conforme explicado por ela, a categoria já conta com uma carta de compromisso assinada por 12 dos 21 vereadores, propondo que a votação dos projetos seja postergada para março de 2026. O documento foi apresentado em plenário na quinta-feira (27), durante a sessão da Câmara, pela vereadora Alice Carvalho (PSol).
De acordo com balanço divulgado pela prefeitura, 70 das 86 escolas da rede municipal informaram sua situação até as 7h desta sexta: 41 seguem com aulas, 26 funcionam parcialmente em greve, mas mantendo o atendimento aos alunos, e três estão totalmente sem atividades.
Enquanto isso, moradores como Teresa seguem na fila antes do amanhecer, esperando que a situação se normalize e que o atendimento volte a funcionar plenamente. A aposentada, como muitos que aguardavam na calçada nesta manhã, resume o sentimento de parte da população afetada pelas paralisações: a necessidade permanece, mesmo em meio às dificuldades.
Nota da prefeitura
"A Secretaria de Saúde segue acompanhando os impactos no atendimento à população na Farmácia de Medicamentos Especiais, que se deve, principalmente, à greve dos servidores, somado à demanda acumulada do último feriado e do ponto facultativo. Estão sendo reorganizados fluxos de atendimento com as equipes na tentativa de minimizar os transtornos. Porém, em função da continuidade do movimento grevista, a revisão desses atendimentos tem de ser feita diariamente."