
Muito mais do que um testemunho de fé, a vida do venerável diácono João Luiz Pozzobon revela a força da vivência comunitária e o papel da solidariedade na construção da religiosidade popular. Foi com esse espírito que começou nesta terça-feira (9), na Universidade Franciscana (UFN) em Santa Maria, o Congresso Internacional Nos Passos do Peregrino, encontro que reúne especialistas do Brasil e do exterior para discutir como a trajetória de fé, humildade e compromisso comunitário do diácono se tornou também patrimônio cultural e referência para o turismo religioso.
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Com tradução simultânea em espanhol, a programação inclui conferências, painéis e apresentação de trabalhos acadêmicos em áreas como história, teologia, turismo, comunicação e patrimônio cultural. Entre os participantes, estão pesquisadores vindos da Espanha, Portugal, Alemanha, Itália, Argentina e Paraguai, que compartilham estudos e descobertas sobre o impacto de Pozzobon na Igreja e na sociedade.

Para o arcebispo de Santa Maria, dom Leomar Brustolin, o congresso representa um marco decisivo no processo de canonização de Pozzobon. Ele destaca que o Vaticano exige não apenas testemunhos de fé, mas também uma base sólida de estudos técnicos e científicos, algo que, segundo ele, começa a ganhar forma com a realização do encontro:
— O Vaticano exige também um conhecimento mais técnico, teólogos, cientistas, refletindo historiadores e por isso, esse evento é um divisor de águas no processo, porque nós estamos chegando a um grau de aprofundamento que não tínhamos e que agora, tem gente da Espanha, de Portugal, da Alemanha, e que vão fazer conferências. Isso tudo vai ser compilado em um texto que vai ser publicado, o que ajuda também a termos algo mais consistente para a história do Pozzobon. Um padre acabou de me falar, agora, que vai fazer uma dissertação de mestrado sobre pós-graduação. Então, eu espero que venha teses de doutorado também, porque é um novo tipo de saber.
Ele também ressaltou o impacto que a possível beatificação pode trazer para Santa Maria em termos de turismo religioso:
— Se o Pozzobon for beatificado, que é uma hipótese muito provável, isso vai exigir um novo posicionamento da região em relação a isso. Todos os lugares onde teve um beato, naturalmente há uma expectativa de que se torne santo e essas regiões, elas sofrem uma modificação em termos de vocação. Elas se tornam vocações mais turísticas, muito mais espirituais, tem que ser muito mais hospitaleiras. Isso é muito bom, porque isso, além de fazer as pessoas serem mais valorizadas, a região ser valorizada, dá um desenvolvimento integral. Insistimos muito nessa expressão integral, porque é espiritual, cultural, social e até econômico. Isso vai levar muito tempo, mas é normal.

Emoção por ver de perto o que foi deixado por Pozzobon

Um dos nomes de maior destaque do congresso é monsenhor Melchor Sánchez de Toca Alameda, subsecretário do Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé. Responsável por analisar toda a documentação do processo de canonização no Vaticano, ele disse que, embora já conhecesse profundamente a história do diácono pelos depoimentos e registros oficiais, foi somente em Santa Maria que conseguiu transformar aquela imagem abstrata em algo real:
— Para mim, que tive a oportunidade de ler todos os documentos da causa de canonização do servo de Deus, agora Venerável João Luiz Pozzobon, é uma grandíssima emoção é estar aqui no Congresso Internacional. Eu tinha lido os dois documentos, os depoimentos das testemunhas, mas era uma ideia abstrata da sua vida. Apenas quando eu cheguei aqui e pude conhecer pessoalmente onde ele morou, onde ele morreu, o santuário, as capelas que ele construiu e as escolas que ele visitou e São Pedro Ribeirão, onde ele foi batizado, onde ele casou, a imagem de Pozzobon virou real. Esse Congresso Internacional não é apenas uma exaltação de um filho predileto de Santa Maria, mas tem o uma mensagem para a igreja universal e também naturalmente para esta terra.
Ao visitar o armazém e a casa onde o diácono viveu, a experiência se tornou ainda mais marcante:
— Eu sabia do que ele escrevia, o que ele dizia. Mas ver como os meus olhos, onde ele morava, onde ele vivia com a sua mulher, os filhos, foi uma grande emoção.

Peregrinos de várias partes do mundo

O padre Vitor Possetti, um dos responsáveis pelo processo de canonização, ressaltou que a diversidade de nacionalidades presentes em Santa Maria revela o quanto a vida de Pozzobon inspira pessoas ao redor do mundo. Para ele, receber estudiosos, religiosos e devotos vindos de países como Argentina, Espanha e Itália demonstra a dimensão transformadora do testemunho do diácono:
— É muito especial perceber como a vida do João Pozzobon é um testemunho transformador, inspirador para pessoas em várias partes do mundo. E poder recebê-los aqui e permitir uma experiência bonita dessa, enriquece tanto quem vem de fora, quanto a gente que tá aqui no dia a dia, Chegaram pessoas de vários lugares para conhecer um pouco mais da vida do João Pozzobon, mas não só isso. Eles reconhecem eles um testemunho inspirador, transformador para muitas pessoas.
Sobre o andamento da causa de canonização, ele explicou:
— A grande novidade desse ano foi que o João Pozzobon foi declarado Venerável. Então, foi concluído a parte das virtudes heroicas. Agora, na próxima etapa, aguardamos o reconhecimento de um possível milagre para que então ele seja beatificado. Já existe um possível milagre, que é aqui da nossa região, que a gente não pode ainda dizer a pessoa nem qual o motivo, mas uma cura física que já está sendo analisado lá no Vaticano, preparado a documentação para que seja passada pela perícia médica e depois segue o trâmite comum lá até que possa ser reconhecido esse possível milagre. Se assim for, então eles seria beatificado.

Um olhar histórico e social

Já a pesquisadora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), professora historiadora Dr.ª Maria Medianeira Padoin, que também integra o grupo de palestrantes do evento, destacou a trajetória histórica e comunitária de Pozzobon. Ela lembrou que a trajetória do diácono não pode ser dissociada da herança cultural dos imigrantes italianos e da forte vivência comunitária, marcada pela solidariedade entre famílias que se apoiavam na construção das casas, da igreja e no sustento da comunidade:
Tu percebe como toda aquela experiência que ele teve desde criança, as dificuldades que ele teve e, acima de tudo, a fé, vai ser o grande sustentáculo de toda a vida dele. Então, ele enquanto apostolado tem essa missão de viver em comunidade, de levar a esperança a todos, sem distinção. E ele tinha uma humildade, um grande conhecimento do próprio ser humano e da fé
— Ele sempre disse que ele tinha um desejo, uma saudade, uma inquietude que ele não sabia o que era, nunca nada estava satisfazendo ele. E ele sempre foi um homem de oração e de convivência sem familiar e quando ele conhece o movimento de Schoenstatt, isso que ele sentia desde novo começou a desaparecer. E quando ele assume a campanha, ou melhor, ele assume a imagem da mãe peregrina para levar nas famílias pelo ano do Jubileu, ele sente que é aquilo, ou seja, a missão. Ele sentiu isso, percebeu isso - recorda.

Santa Maria precisa conhecer Pozzobon, diz arcebispo

Dom Leomar também aproveitou o congresso para fazer um alerta em relação ao próprio vínculo da cidade com a memória do diácono. Ao Diário, o arcebispo diz que ainda há um longo caminho a ser percorrido para que a população local valorize com mais intensidade a história de João Luiz Pozzobon, mesmo diante da dimensão internacional que sua obra já alcançou:
— Um pequeno desafio que eu já coloquei para vocês também e que a gente vai conseguir vencer, que é tornado mais conhecido na cidade de Santa Maria. Nas missas onde vamos e pedimos que levante a mão quem conhece ele ou a história dele, é pouquíssima gente. Eu fiz a mesma coisa em Cuiabá, a maioria conhece. Por onde eu vou, as pessoas dizem 'o bispo de João Luiz Pozzobon'. E aí dizem ‘O povo aqui deve estar muito feliz', e eu digo: ‘não, o povo de lá nem sabe’. A expressão diz que o 'Santo de casa não faz milagre'' então, aqui o Santo de Casa vai ter que fazer milagre com o povo de Santa Maria, mas eu acho que vai conseguir.

Veja a programação do congresso para esta quarta (10)
- 8h30 – Oração Inicial e Abertura do segundo dia
- 8h45 – Painel: “Fama de Santidade e Legado do Diácono João Luiz Pozzobon”
– Pe. Francisco Bianchin, SAC (Último pároco de João Pozzobon)
– Ana Echevarria (Expansão internacional da Campanha – Argentina)
– Humberto Pozzobon (Filho de João Pozzobon)
– Pe. Antônio Bracht, ISch (Vice-postulador e Diretor Nacional do Movimento de Schoenstatt – Brasil)
– Ir. M. Rosequiel Fávero (Coordenadora do Jubileu 75 anos da Campanha da Mãe Peregrina)
- 10h15 – Intervalo com coffee break
- 10h30 – Momento Cultural
- 10h45 – Conferência Final: Santidade, Causa de Beatificação e a originalidade do Diácono João Luiz Pozzobon
- 12h – Encerramento e Benção de Envioent
Encontro Internacional da Campanha da Mãe Peregrina
Além do congresso, de quarta à noite até domingo (14), o Santuário Tabor, em Santa Maria, sediará o Encontro Internacional da Campanha da Mãe Peregrina, celebrando os 75 anos de missão iniciada pelo Venerável Diácono João Luiz Pozzobon, em 10 de setembro de 1950.
São 23 delegações internacionais e cerca de 800 participantes inscritos, vindos de diferentes países e culturas, todos unidos por um mesmo amor e compromisso com a Mãe Três Vezes Admirável de Schoenstatt.Veja, abaixo, a programação para os cinco dias de evento:
Programação
Quarta-feira (10)
- 18h30 – Jantar no Centro Mariano
- No ginásio poliesportivo do Clube Recreativo Dores:
- 19h30 – Acolhida dos países e dos estados do Brasil
- Celebração de Abertura
- Santa Missa em ação de graças pelos 75 anos da CMPS
- Procissão até o Santuário Tabor
Quinta-feira (11)
- Café da manhã nos hotéis
- No ginásio poliesportivo do Clube Recreativo Dores:
- 8h30 – Acolhida e oração inicial
- 9h – Santa Missa
- Momento formativo: “Olhar da história para o futuro – Missionários da Esperança”
- Testemunhos: “Sinais que nos enchem de esperança”
- 13h – Almoço (restaurantes)
- A partir das 15h – Oficinas temáticas (no entorno do Santuário Tabor)
- 18h30 – Jantar (Centro Mariano)
- 20h – Reza do terço e bênção (ginásio poliesportivo do Clube Recreativo Dores)
Sexta-feira (12)
- Café da manhã nos hotéis
- No ginásio poliesportivo do Clube Recreativo Dores:
- 8h30 – Acolhida e oração inicial
- 9h – Santa Missa
- Momento formativo: “João Luiz Pozzobon, exemplo de missionário da esperança, que motiva a CMPS rumo ao futuro”
- 13h – Almoço (restaurantes)
- A partir das 15h – Oficinas temáticas (no entorno do Santuário Tabor)
- Jantar: Centro de Tradições Gaúchas
- Momento familiar cultural
Sábado (13)
- Café da manhã nos hotéis
- Pela manhã:
- Atividades em diferentes idiomas: Colônia italiana, Casa Museu João Pozzobon, Santuário Tabor
- 11h – Santa Missa (São João do Polêsine/RS e Faxinal do Soturno/RS)
- Almoço italiano – Paróquias da Quarta Colônia
- Pela tarde: Continuidade da programação da manhã
- 18h30 – Jantar (Centro Mariano)
- 20h – Momento de louvor mariano (Santuário Tabor ou ginásio da escola Coração de Maria)
Domingo (14)
- 8h – Romaria da Primavera
- Procissão do Santuário Tabor ao Santuário Basílica Nossa Senhora Medianeira
- 10h – Santa Missa no Santuário de Nossa Senhora Medianeira e renovação da coroação das imagens peregrinas
- Almoço de encerramento
- 14h30 – Reza do terço e bênção (Santuário Tabor)
Programação aberta ao público
Além das atividades do Encontro Internacional, o Jubileu contará com eventos abertos para todos:
- Quarta-feira (10)
- 19h30 – Santa Missa de Abertura das Celebrações
- Domingo (14)
- 8h – Romaria da Primavera (com a Santa Missa)
Venerável Diácono João Luiz Pozzobon
Quem foi ele?
- Nasceu em 12 de dezembro de 1904, em Ribeirão, localidade de São João do Polêsine. De origem pobre, largou os estudos para ajudar o pai na lavoura;
- Em 7 de setembro de 1947, Pozzobon participou do lançamento da pedra fundamental do santuário de Schoenstatt, onde teve início o seu contato com a Mãe Peregrina. Três anos depois, em 10 de setembro, começou a Campanha da Mãe Peregrina;
- Ordenado diácono pelo bispo dom Érico Ferrari, em 1972. Passou a fazer casamentos, batizados e enterros. Não podia rezar missas e absolver pecados;
- Em 1979, a fama de Pozzobon ganhou o mundo. Ele visitou a Europa, conheceu o papa João Paulo 2º e foi para a Argentina falar da Mãe Rainha;
- Em 27 de junho de 1985, aos 80 anos, foi atropelado por um caminhão quando ia para uma missa, no Santuário de Schoenstatt, às 6h30min, e morreu.
Exemplo de fé
- Em 1950, o Diácono recebeu uma imagem da Mãe Rainha. Com o tempo, colocou como propósito rezar 15 terços por dia (825 preces);
- Ele deu a ideia de, a cada 30 famílias, colocar uma imagem da Mãe Peregrina, para passar de casa em casa. Ele distribuiu 2,7 mil imagens da Mãe pela região. Em 2011, havia mais de 200 mil réplicas da imagem em 96 países;
- João Pozzobon carregava 19 kg nas peregrinações. A imagem da Mãe Rainha pesava 11 kg, e a pasta que levava com vestes e outros materiais religiosos, 8 kg;
- Ele percorreu 140 mil quilômetros a pé com a imagem no ombro para visitar famílias, escolas, presídios e hospitais;
- Pozzobon criou a Vila Nobre da Caridade, no Cerrito, com 14 casas que abrigam famílias pobres. Ele ajudava a conseguir emprego e a fazer as crianças estudarem.