Marca da presença de sobrevivente permanece intacta na boate Kiss após 10 anos do incêndio

Eduarda Costa

Marca da presença de sobrevivente permanece intacta na boate Kiss após 10 anos do incêndio
Dez anos depois da tragédia, a presença do sobrevivente Rafael Gusmão, 31 anos, ainda está materializada dentro da boate Kiss. A mesa – onde seria comemorado seu aniversário naquele último final de semana de janeiro de 2013 –, ainda está preservada, sobrevivendo ao tempo em meio aos entulhos da boate. Além desta marca material, o sobrevivente leva consigo as memórias também intactas daquela noite, entre elas, uma olfativa que é ativada sempre que ele sente o cheiro de fumaça. 

– Eu sempre comento com meus amigos que o cheiro da fumaça, seja de churrasco ou de qualquer fogo, me leva automaticamente para a Kiss. Na verdade, o cheiro que eu sinto é do cianeto da espuma da boate. Acho que é uma coisa que vou levar pro resto da vida – relata.

Fotos: Nathália Schneider (Diário)

Hoje sushiman-chefe, Rafael trabalha a duas quadras do prédio em que funcionava a Kiss. Na noite do incêndio, foi um dos últimos a sair do local com vida, mas permaneceu até às 7h30min daquele domingo auxiliando o Corpo de Bombeiros no salvamento das vítimas, por conta de um treinamento de primeiros socorros. 

– Eu vi muita coisa horrível. Ajudei a colocar mais de 20 corpos no estacionamento do supermercado. Teve três meninas que tentei trazê-las de volta, mas era bem complicado. Eu fiquei ajudando e ajudando, quando vi já era de manhã. Eu estava em choque, mas eu não percebia. Na madrugada, logo que saí, liguei para os meus pais, que pediram para eu não entrar lá de novo, então eu fiz o que pude do lado de fora, foi automático – relembra. 

10 anos depois, novos sonhos

Nesta década, Rafael chegou a morar em sua cidade natal, Santana do Livramento, mas retornou a Santa Maria a convite do melhor amigo, para investirem juntos em um novo sonho: a culinária japonesa. Desde abril de 2022, ele é o braço direito de um restaurante oriental no centro da cidade, que funciona no modelo de delivery. 

Recentemente, ele se tornou pai da pequena Maria Cecília de Almeida, que nasceu no dia 18 de dezembro. Entre as metas para 2023, está conquistar a titulação profissional da área em que trabalha, com um curso de proeficiência em sushi, que abrange desde a abertura dos peixes até a confecção das peças. Este treinamento ocorre apenas duas vezes ao ano, em São Paulo e Porto Alegre. Rafael planeja realizá-lo no mês de maio, no Rio Grande do Sul. 

Rafael com a foto da filha, Maria Cecilia, de um mês.

As lembranças da noite

Na foto tirada na noite que antecedeu o incêndio, Rafael (camisa azul) com as amigas Jeanine Miranda (de azul), Glauciele Goulart (de branco), Thiago Rafael (atrás, de verde) e Mariana Freitas (de dourado). Todos sobreviveram.

As meninas e o primo, que aparecem junto a ele no registro da festa, já haviam ido embora por conta, segundo ele, da superlotação e do calor de dentro da boate. Na hora do incêndio, ele estava sozinho na mesa e conta que conseguiu se salvar por conhecer a boate. 

– Eu tive um reflexo instintivo de colocar a minha camiseta no rosto, eu me ajoelhei e fui me guiando pela parede. Nós caímos no chão, tinha gente embaixo de mim e também pisando em mim. Eu fui um dos últimos a sair, acho que depois quase ninguém sobreviveu. Porque já estava todo mundo caído, fraco, no chão, pedindo ajuda.

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