fim de um ciclo

Familiares de vítimas comentam o resultado do júri e reforçam: não é vingança

Jaiana Garcia

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)/
Ligiane e Flávio deixando o Foro, com a imagem de Nossa Senhora Aparecida

Quando a sentença do juiz Orlando Faccini Neto foi proferida, Flávio Silva, presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), chorava abraçado ao advogado Pedro Barcellos de mãos dadas com a esposa, Ligiane Righi da Silva, com quem sempre manifestou pedidos por Justiça. Flávio superou os julgamentos da sociedade, os problemas de saúde, os desafios da luta, mas jamais vai conseguir superar a perda da filha, Andrielle, 22 anos, uma das 242 vítimas do incêndio. Logo após a leitura da pena dos quatro réus acusados pelo incêndio, Flávio, em um círculo de familiares e sobreviventes, falou sobre o fim de um ciclo:

Quatro réus do Caso Kiss são condenados, mas vão recorrer em liberdade

- Meu agradecimento a cada mãe e cada pai. Passamos por momentos muitos difíceis, enfrentando recursos e decisões, mas conseguimos trazer esses réus para o júri popular. Nós não temos momentos a comemorar, apenas a conquista da Justiça. Para mostrar para quem nos tachou de vingativos que isso nunca foi verdade. Nós sempre lutamos pela Justiça e isso prevaleceu. É tanto amor que temos pelos nossos filhos, que esse sentimento mesquinho de vingança e rancor não tem lugar no nosso coração. Essa vitória é da população. Para que sirva de lição para alguns empresários que agora sabem que se fizerem algo errado poderão ser punidos. Para que nunca mais se repita! 

Anotações, processo e remédios: o que ficou no tribunal após o júri da Kiss

A luta para que a tragédia não caia no esquecimento ainda permanece. Ao ser questionado sobre os próximos passos, Flávio diz que terá tempo para decidir e relembrou dos momentos difíceis que passou nos dias que antecederam o julgamento:

- Foi muito dificíl. Teve momentos que eu achei que não ia conseguir, mas eu pensava que precisava ficar firme e vivo para acompanhar o desfecho dessa história. Esse problema que agravou minha saúde tem nome de endereço. Isso prova que somos mais fortes do que tudo. Não vejo ética em um profissional que tenta colocar um pai como testemunha do assassino da própria filha. Eu sofri muito durante dois anos com essa história. Ele acabou desistindo da meu testemunho, há alguns meses. Ele me provocou durante os debates, sem que eu pudesse ter direito à defesa. Ele sabe que sou muito explosivo. Tive que aguentar, mas não podia dar motivo para qualquer nulidade ou abandono do plenário.

Flávio esteve em plenário, por diversas vezes, com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, presente do cantor sertanejo Daniel. Ao fim do júri, em frente ao Foro Central, ele desceu as escadas carregando a imagem nas mãos. Ao lado da esposa, a volta para casa, depois de quase nove anos, foi com a sensação de dever cumprido. 

- Não vamos ter nossos filhos de volta, mas vamos conseguir evitar que outros jovens morram. 

"É uma coisa pesada que a gente conseguiu tirar do peito" 

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Mara, à direita, acompanhou os 10 dias de julgamento 

Mara Dal Forno, que também acompanhou os 10 dias de julgamento em Porto Alegre, é mãe de Melissa, que morreu na tragédia. Ela conta que os pais estão aliviados depois da sentença, em entrevista ao programa Bom Dia, Cidade, na CDN: 

- É tão grande o alívio que a gente tem agora, não é uma festa completa. Por que se fosse, a gente sairia dali e abraçaria os nossos filhos. É uma coisa pesada que a gente conseguiu tirar do peito. Foram dias puxados, cansativos, com muita carga emocional. A gente acordava todos dias pelas 6h, 6h30min, e pensava: vou la de novo e ouvir todas aquelas coisas, umas muito boas, mas umas muito ruins. 

Mara comentou sobre imagens pesadas, do dia da tragédia, que foram exibidas aos jurados durante o julgamento. Para ela, as imagens representam a dor deles e devem sim ser mostradas, desde que evitem nossas tragédias: "uma dor no coração dessas, nunca mais", completa. 

"Uma resposta para sociedade" 

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Adherbal Ferreira esteve no júri no sábado e domingo 

Adherbal Ferreira, primeiro presidente da AVTSM e pai de Jeneffer, que morreu em 27 de janeiro, também comentou sobre o desfecho do caso. Ele acompanhou a maioria dos dias de júri de Santa Maria, mas conseguiu ir a Porto Alegre ver presencialmente o sábado e o domingo de trabalhos. Ao conversar com a reportagem, ele lembra que não há "ganhadores", porque todos perderam com a tragédia: 

- Nós aguardamos todos esses anos para que a justiça fosse feita, em todas as suas instâncias. Como restou quatro réus, que são, de fato, os principais causadores do fato, esse momento tão aguardado vem como uma surpresa. Pela opinião pública, pensávamos que pudesse não ter justiça. Vale lembrar que ninguém imaginou vingança. Todo tempo as familiares queriam justiça, uma resposta para a sociedade.

Sobre o que muito foi comentado, que os quatro réus não queriam matar ninguém, Adherbal comenta: 

- Ninguém queria matar ninguém, isso é verdade, eles foram lá para fazer o seu trabalho, se divertir. Mas nossos filhos também não queriam sair para morrer. A opinião pública está dividida, existem muitas pessoas que acham que eles são inocentes. Eu sei que ninguém queria que isso acontecesse, mas as escolhas foram acontecendo e chegou onde chegou. As pessoas de Santa Maria estão bastante dividas. Não foi uma decisão nossa, foi uma decisão do júri popular, que representa a sociedade.

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