júri da kiss

Engenheiro responsável pelo projeto acústico da Kiss diz que não recomendou uso de espuma

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Foto: TJRS (reprodução) 

Responsável pelo projeto acústico da boate Kiss após a reforma de 2012, o engenheiro civil Miguel Ângelo Teixeira Pedroso prestou depoimento na tarde desta quinta-feira no júri. Ele foi chamado pelo Ministério Público. Por causa da idade, em acordo entre todas as partes, ele teve prioridade e pôde ser chamado antes das demais testemunhas. 

Segundo o engenheiro, "em nenhum momento" o uso da espuma como revestimento foi recomendado por ele. As investigações apontaram que foi a queima da espuma na boate que produziu a fumaça tóxica e causou a morte da maioria das vítimas.

Durante a fala, Pedroso, que também é militar da reserva, revelou detalhes do projeto, elaborado em 2011 e executado no ano seguinte. Conforme o depoimento, Elissandro Spohr, um dos ex-sócios da boate, foi quem apresentou a Kiss ao engenheiro e mostrou quais as necessidades da estrutura, já que havia reclamação de vizinhos em relação ao barulho da boate.

- A primeira coisa que eu vi foi que, no lado esquerdo, a parede estava forrada de espuma de borracha, uma espuma cinza, que não é adequada para isolamento acústico. Se faz o isolamento do ruído aéreo através da criação de uma massa de isolamento, para que o som seja impedido de passar. Não por coisas absorventes, como espuma. A minha sugestão era que se revestisse todas as paredes com uma outra camada de alvenaria. Além disso, uma camada de fibra de vidro, para isolamento acústico - explicou. 

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De acordo com o depoimento da testemunha, a única sugestão que Elissandro não teria acatado era a da colocação da alvenaria no fundo da boate, porque lá não teria vizinhos. Além disso, o engenheiro sugeriu que a lage superior, o teto, também recebesse uma camada de gesso acartonado (a preço de R$ 75 o metro quadrado) e lã de vidro. Pedroso entregou o projeto com todas as sugestões e cobrou R$ 8 mil pelos trabalhos - Elissandro negociou e pagou R$ 6 mil pelo projeto, à vista. 

- Eu acompanhei também a execução da obra quase diariamente. Depois de finalizada, no início de 2012, o Elissandro entregou uma cópia para a promotoria, que tinha firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Passado um mês, fiquei sabendo que o Ministério Público queria fazer uma visitação na obra para ver se foi feito tudo como previsto. Acompanhei a equipe do promotor, que foi lá, tirou fotografias, fiscalizou e estava tudo de acordo com o que estava previsto no projeto, sem nenhuma espuma - descreveu.

Durante o depoimento, Pedroso citou o engenheiro Samir Samara como sendo o responsável por indicá-lo a Elissandro para realizar o projeto acústico. A advogada Tatiana Borsa, que defende o réu Marcelo de Jesus dos Santos, ex-vocalista da banda Gurizada Fandangueira, pediu ao juiz que Samir Samara seja intimado como testemunha para depor durante o júri, já que foi citado por Pedroso e havia prestado depoimento em outras fases do processo. O pedido foi negado pelo magistrado.

Em contato com o Diário, Samir disse que não tem nada a esclarecer. Confirmou que, de fato, indicou Pedroso para realizar o projeto, por conta da especialidade dele, mas apenas isso. Afirmou, ainda, que já prestou depoimento no caso, durante o processo, e falou que teria ido até o júri se tivesse sido arrolado antes como uma das testemunhas

NOVAS RECLAMAÇÕES

Alguns meses depois, Pedroso novamente recebeu contato do réu Elissandro. Conforme o ex-sócio, havia novas reclamações de vizinhos de vazamento de ruídos. 

- O Elissandro me disse que queria colocar espuma. Eu expliquei que espuma é para conforto acústico e não isolamento. Não pode botar espuma, não interessa botar espuma - afirmou.

Depois disso, o engenheiro disse que voltou, pelo menos, três vezes para Santa Maria para tentar falar com os vizinhos e com Elissandro, para fazer novas medições, mas não conseguiu falar com ninguém. 

- Depois disso, parei de vir e parei de ser solicitado. Minha contribuição com a Kiss parou por ali - sentenciou. 

Perguntado pelo juiz Orlando Faccini Neto se, em algum momento, recomendou o uso de espuma, Pedroso foi taxativo:

- Em nenhum momento, pelo que acredito em termos técnicos em relação ao isolamento acústico, já que não é eficiente. 

O INCÊNDIO

Quando aconteceu o incêndio, Pedroso afirmou que estava em Recife. Ficou sabendo da tragédia pela televisão e ouviu seu nome ser colocado como um dos responsáveis pela tragédia pela defesa de Elissandro. 

- Eu estava tranquilo, porque eu sei o que fiz. Peguei o telefone, liguei para o delegado e falei que eu queria prestar o meu depoimento 

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