Foto: Vinicius Becker (Diário)
A 15ª Abertura Oficial do Plantio da Soja, realizada nesta sexta-feira (3) em Júlio de Castilhos, foi marcada por expectativas para a nova safra e, sobretudo, por fortes críticas à falta de apoio do governo federal ao setor produtivo. Entre os discursos, o do presidente da Cotrijuc, Estanislau Bertoldo de Quevedo, chamou a atenção pela ênfase na necessidade de união política e pela análise detalhada da situação econômica dos produtores.
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Segundo Quevedo, o momento exige mobilização conjunta entre todas as instâncias.
— A solução não é mais técnica, ela é política. Nós temos que homenagear desde vereador, prefeito, secretários estaduais e federais, porque vocês vão ter que trabalhar junto com as nossas entidades representativas para traduzir a verdade que foi falada há pouco pelo vice da cooperativa. Não existe solução só técnica, são as duas juntas. E elas estão cada vez mais distantes — afirmou.
Quevedo destacou o papel estratégico da soja para a economia e para a segurança alimentar.
— É a principal cultura de commodity do Rio Grande e a principal proteína que alimenta a humanidade. Além da proteína, é fonte de biodiesel e também de alimentos. É uma cultura muito nobre por natureza. Nós somos a grande esperança do mundo nessa cultura e nas demais, para não deixar o mundo passar fome — afirmou.
Ele lembrou ainda da recente eleição da Farsul, onde a representatividade do setor foi reafirmada com 123 sindicatos presentes em um total de 137.
— Foi uma votação maciça. O Domingos Lopes assume com muita honra a presidência, e eu continuo como primeiro vice, representando a metade norte do Estado, sempre em defesa da soja e das culturas que formam a riqueza do Rio Grande do Sul”.
Vazio sanitário e calendário agrícola
Ao falar de questões técnicas, o dirigente ressaltou a importância do cumprimento do vazio sanitário da soja, que neste ano foi fixado de 3 de julho a 30 de setembro. Segundo ele, a medida é essencial para conter a ferrugem asiática.
— Se não fizermos o controle da soja guaxa, podemos perder toda a lavoura para a ferrugem. É uma cultura agressiva e precisamos desse vazio para interromper o ciclo.
Sobre o plantio, Quevedo explicou que, oficialmente, a semeadura pode começar em 1º de outubro e seguir até 28 de janeiro, com exceções autorizadas pela Secretaria da Agricultura para áreas irrigadas.
— Conseguimos, de forma política e técnica, um resguardo de 10 a 15 dias a mais, porque muitas vezes o milho em pivô central é plantado até os primeiros dias de fevereiro. A lei precisa ser exequível, e felizmente conquistamos essa adequação.
Dívidas, custos e falta de seguro agrícola
A parte mais dura do discurso foi reservada à situação econômica dos produtores, que enfrentam o acúmulo de dívidas e margens cada vez mais estreitas. Quevedo lembrou a sequência de adversidades climáticas: secas em anos como 2019, 2021, 2022 e 2023, seguidas por enchentes em 2024.
— Antes as secas vinham a cada seis, sete anos. Agora, tivemos uma conjunção anômala. E junto disso vieram os custos altos: fertilizantes chegaram a subir a R$ 170, máquinas a R$ 180. Hoje os preços caíram, mas os insumos continuam lá em cima. Sempre se pagava o custeio com 28 sacos, hoje são necessários 40 sacos para quitar.
Segundo ele, a ausência de seguro agravou a crise.
— Nos anos de 2021 e 2022, quando tivemos grandes perdas, o seguro não cobriu. Ficamos com a dívida acumulada, que não seria nossa se houvesse cobertura. Seguro agrícola não é para proteger só o produtor, é para proteger a economia do Estado - afirmou, lembrando que em outros estados há subvenções que chegam a mais de 20%.
Renegociação insuficiente
Quevedo criticou os critérios de renegociação anunciados pelo governo federal, que deixaram de fora municípios fortemente afetados, como Júlio de Castilhos. Ele destacou a importância da aprovação do PL 52/2024, que buscava garantir condições melhores de pagamento.
— O projeto foi aprovado por votação maciça na Câmara, mas enquanto tramitava, o governo editou a Medida Provisória 1314, que prorrogou vencimentos apenas até 30 de junho de 2024. Isso tirou o custeio da safra 24/25, justamente a mais prejudicada. Também ficaram de fora parcelas a vencer a partir de 2028. Ou seja, vai haver sobreposição de dívidas, e quem não está em dificuldade hoje estará em breve, se não houver complementação das medidas.
“Trabalhando e perdendo”
O presidente da Cotrijuc encerrou com um apelo por mobilização política para corrigir o que chamou de distorção injusta com os produtores.
— Nós somos as principais vítimas desse processo. Estamos trabalhando e perdendo. É triste, mas é a realidade. Precisamos evoluir, porque do jeito que está, ninguém, por mais eficiente que seja em produtividade, vai conseguir honrar as contas — concluiu.
O que diz o governo federal
O deputado governista Paulo Pimenta (PT) afirmou que, entre quarta e sexta, teve diversas reuniões com os ministérios da Agricultura e da Fazenda para tentar solucionar o problema e incluir os municípios da região na renegociação das dívidas dos agricultores. Ele avalia que será possível reincluir Júlio de Castilhos e as outras cinco cidades.