Foto: Vinicius Becker (Diário)
Rebeca come bolo, derruba panela, sobe em mesa e já até virou motivo de mobilização após um “sequestro” – com direito a pedido de resgate. Aos cinco anos, ela virou um atrativo no Bairro Camobi, em Santa Maria, e é a mascote oficial da Escola Municipal Júlio do Canto.
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Animal de estimação

A história de Rebeca é contada por Nilza Colpo de Moraes, 53 anos, artesã e costureira, que adotou o animal a desde o Natal de 2020. Ela chegou na casa da família aos quatro meses e, deste então, virou a pet de estimação.
– Tudo o que tu imaginar Rebeca faz – relata Nilza.
A rotina da cabra não é comum: sobe em sofá, mesa, puxa panela do fogão, come bolo e briga com os cachorros.
– Até a roupa do varal, ela recolhe para mim – acrescenta a tutora.
Desde pequena, Rebeca mostrou personalidade no lar da família Colto. Em uma de suas aparições mais inusitadas, foi flagrada com uma faca na boca, como se estivesse "afiando a lâmina na parede". O vídeo se propagou pelas redes sociais.
Dentro de casa, o apego é evidente. Nilza "fala" com ela todos os dias – e garante que a cabra responde. A cabra faz parte da rotina e não perde uma festas de fim de ano, quando se reúne com toda a família. Rebeca também impõe respeito. Não aceita “marido” no pátio. Segundo a tutora, ela já rejeitou três cabritos diferentes. Na casa, só ela manda – e os cachorros que se cuidem porque sobra até para eles.
Como é um xodó, a dona garante que o animal não está à venda. Segundo ela, vizinhos já tentaram negociar, mas ouviram de Nilza que o animal não tem preço. Em tom de brincadeira, ela diz que a cabra “vale mais do que gente” – e que, depois de tudo o que viveram juntas, não há mais como imaginar a vida sem ela.
O sequestro que "parou o bairro"
Enquanto estavam em uma festa no Bairro Tancredo Neves, dois homens teriam chegado e colocado o animal embaixo do braço, segundo o relato da tutora. A notícia chegou por telefone e, em minutos, causou comoção na família.
Foi então que Nilza publicou um apelo nas redes sociais e foi inundada por mensagens e compartilhamentos. Chegaram a pedir resgate – primeiro de R$ 1 mil , depois, de R$ 500. Desesperada, a família registrou um boletim de ocorrência, e a comunidade também se mobilizou. Após quatro horas, um conhecido localizou Rebeca em uma vila próxima e intermediou a devolução no valor de R$ 150. Com o resgate pago, a cabra foi resgatada.
Duas casas depois da família Colpo, o ex-funcionário público Ciro Soares, 86 anos, relembra a mobilização em torno do resgate da cabrita.
– Ficamos mobilizados, foi quase toda a vila aqui – relembra ele.
Assim como os vizinhos, a comunidade escolar não ficou de fora e também se mobilizou:
– A gente soube pelo grupo da escola. E, no momento, que o pessoal da coordenação, a diretora, a vice souberam, a gente já colocou no grupo que a gente tem com os pais, justamente, para mobilizar a comunidade. Muita gente veio perguntar porque realmente se preocupou, porque, como eu já disse, "ela é basicamente um xodó da escola". Então, toda a comunidade se mobilizou e tentou ajudar de alguma forma, porque a nossa Rebequinha é tesouro – conta a agente administrativa Júlia do Carmo.
Celebridade escolar

É só atravessar a pacata Rua Bolívia, em frente à Escola Municipal Júlio do Canto, que a Rebeca vira celebridade entre alunos, professores e servidores da rede escolar. Foi ali que a cabra conquistou o título de mascote da instituição. Ela participa das festas da escola e tira fotos com os estudantes. Sua última participação foi no show ao vivo com o cantor Beto Pires em uma festa junina no último sábado (5).
Segundo a vice-diretora Veridiana Duraczinski, todos associam o nome da escola ao da cabra. Na última festa junina, por exemplo,a cabra teve uma entrada especial ao lado da professora de artes, com direito a música e aplausos.

– Sempre estamos compartilhando as coisas da Rebeca, ela faz parte da história da escola também. Então, ela sempre está aqui. Os alunos sempre estão em contato com ela – conta a vice-diretora.
A agente administrativa Júlia do Carmo relata que Rebeca virou uma atração turística da escola. No dia a dia do trabalho, ela começou a fotografar o animal que logo ganhou as redes sociais. Segundo ela, os alunos mais antigos já se acostumaram, mas os novos seguem encantados com a cabr, que atende pelo nome e é tratada como um pet. Júlia chegou a fazer um pedido para a dona:
– Nilza, vocês nunca vão comer a Rebeca? Porque a gente ama muito ela. É uma relação muito bonita e diferente que a gente criou aqui na comunidade. Ela é meio que o xodó do Júlio do Canto. Ela faz parte também da escola – frisa Júlia sobre o apego com o animal.
Posso adotar uma cabra?

Santa Maria não possui uma lei municipal específica que proíba a criação de cabras em áreas urbanas. O único trecho que trata da presença de animais na zona central é o artigo 139 do Código de Posturas, que veta apenas a criação de suínos e bovinos nessa região. Caprinos não são mencionados na legislação.
Ainda segundo o mesmo artigo, a criação de outros animais domésticos é permitida desde que o local ofereça condições adequadas de higiene e sanidade.
A cabra também é reconhecida como animal doméstico pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A Portaria nº 93/1998, em seu artigo 2º, III, define como domésticos os animais "submetidos a manejo sistemático e que vivem em estreita dependência do homem". Por essa classificação, a posse de cabras não exige autorização especial do órgão ambiental, bem como os demais na lista abaixo:
Animais considerados domésticos:
Abelha
Avestruz
Bicho-da-seda
Búfalo
Cabra
Cachorro
Calopsita
Camundongo
Cavalo
Porquinho-da-India
Coelho
Gado bovino e Gado zebuino
Galinha e Galinha-d’angola
Gato
Hamster
Jumento
Marreco
Minhoca
Ovelha
Pato-carolina e Pato-mandarim
Pavão
Peru
Porco
Rato
Confira a lista completa [neste link]