Foto: Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria
Ao longo de 45 anos, a Tertúlia Musical Nativista revelou grandes nomes da cultura gaúcha.
A palavra “Tertúlia”, segundo o dicionário, significa "reunião de amigos". E foi exatamente esse o espírito do movimento que deu origem à Tertúlia Musical Nativista de Santa Maria: aproximar músicos, compositores, arranjadores, cantores e intérpretes no mesmo palco, criando um ambiente fértil para o surgimento de talentos e para o fortalecimento da identidade cultural do Rio Grande do Sul.
A Força dos Festivais e a Importância da Tertúlia
No Brasil, os festivais de música ganharam força nas décadas de 1960 e 1970, moldando estilos, revelando obras e projetando vozes que se tornariam eternas. Mas no Rio Grande do Sul esse movimento se transformou em algo muito próprio.
A Califórnia da Canção, em Uruguaiana, foi pioneira ao criar uma plataforma que unia competição, poesia e afirmação cultural. Inspirado por esse modelo, o então radialista Xirú Vasseur idealizou um festival em Santa Maria, que buscasse firmar a produção regional e fortalecer a identidade musical local. Assim nasceu a Tertúlia Musical Nativista.
Quando ela nasce, em março de 1980, surge como um grande acampamento na Estância do Minuano, zona sul de Santa Maria, junto acontecia o Rodeio Crioulo Estadual e, a partir disso, assumiu um papel que iria muito além de um festival competitivo, mas um espaço de convivência artística, de troca e de celebração da música regional.

Hoje, a Tertúlia é um dos mais tradicionais e longevos festivais nativistas do Estado que ao longo dos seus 45 anos de história, foi responsável por revelar nomes, eternizar músicas e ajudar a construir um dos períodos mais ricos do cancioneiro gaúcho.
Um palco para revelar talentos
Em suas primeiras décadas, quando os festivais representavam a principal vitrine para artistas em busca de reconhecimento, a Tertúlia foi decisiva para o surgimento de músicos que hoje integram a elite da música regional gaúcha. Muitos deles subiram ao palco pela primeira vez em Santa Maria, apresentando canções que, mais tarde, se tornariam símbolos da cultura do Estado.
Um dos casos mais emblemáticos é o de “Canto Alegretense”, apresentada originalmente na 2ª Tertúlia, em 1981, por Antonio Augusto Fagundes (Nico) e Bagre Fagundes Filho Bagre. A música foi interpretada por Bagre e Grupo Inhanduhy e não recebeu premiações naquela edição, no entanto, viria a se transformar em um dos hinos afetivos do Rio Grande do Sul.
Na mesma edição, outro jovem talento começava a despontar: Renato Borghetti, escolhido o melhor instrumentista aos 19 anos, hoje um dos mais famosos acordeonistas do Brasil.

Entre as histórias marcantes, está também a de João Chagas Leite. Ele é o único músico a vencer duas edições consecutivas da Tertúlia: a 3ª, em 1982, com Penas, e a 4ª, em 1984, com Pampa, Campo e Querência. Chagas Leite, falecido recentemente, teve na Tertúlia um dos pilares de sua consolidação artística.

Berço de grandes nomes
Ao longo das décadas, a Tertúlia revelou e impulsionou artistas que hoje representam a essência da música regional. Entre eles:
- Luiz Carlos Borges, vencedor da 1ª edição (1980)
- João de Almeida Neto, vencedor da 2ª (1981) e 5ª Tertúlia (1984)
- César Passarinho, campeão da 6ª edição (1985)
- Elton Saldanha, 2º colocado na 7ª (1986)
- José Claudio Machado, vencedor da 9ª Tertúlia (1988)
- Daniel Torres e Neto Fagundes, revelados na 10ª Tertúlia (1989)
- Délcio Tavares, vencedor da 14ª edição (1993)
- Dante Ledesma, 2º lugar na 17ª Tertúlia (1999)
- Pirisca Grecco, vencedor da 20ª Tertúlia (2012)
A Tertúlia também abriu espaço para avanços marcantes. Oristela Alves, a primeira mulher a subir ao palco do festival, consolidou sua trajetória ao vencer a 31ª edição, realizada no ano passado. Sua conquista representa não apenas reconhecimento artístico, mas também um marco importante para a presença feminina nos festivais nativistas — espaços historicamente dominados por homens.

Programação
O festival continua hoje na praça Saldanha Marinho, no Centro, a partir das 20h, com a apresentação das 12 canções selecionadas para a Fase Geral, além de um show de encerramento com Márcio Correia. Amanhã, no mesmo horário, ocorre a grande final e a divulgação do vencedor do Troféu Minuano, prêmio máximo da Tertúlia Musical Nativista. A noite encerra com um show da dupla César Oliveira e Rogério Melo.