júri da kiss

'São quatro pessoas que foram embrulhadas pelo sistema', diz Mauro Hoffmann sobre os réus

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Foto: Pedro Piegas (Diário)

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">No terceiro interrogatório dos réus no júri da Kiss, o ex-sócio da boate Mauro Hoffmann respondeu a perguntas do juiz Orlando Faccini Neto e da própria defesa. Assim como os demais, também não respondeu a questionamentos do Ministério Público. Durante todo o depoimento, Mauro permaneceu segurando um terço nas mãos. Com fala calma, contou sobre a sociedade na casa noturna, a noite do incêndio, a prisão e se emocionou quando se defendeu sobre a acusação de indiferença diante da tragédia.

Durante boa parte do depoimento, Mauro contou sua história como empresário da noite em Santa Maria. Sobre a sua entrada como sócio da Kiss, disse que já administrava outra casa noturna na cidade, a Absinto Hall, mas queria expandir os negócios. Então, procurou duas boates para propor sociedade: a Kiss e a Ballare. Conseguiu, então, conversar com Elissandro Spohr, o Kiko, dono da Kiss.

- Eu acertei com o Kiko que ele seria o sócio administrador. Disse que precisava de R$ 200 mil para sanar as dívidas. Aceitei a condição porque não ia precisar me envolver - afirmou Mauro, que pagou parte dos R$ 200 mil em dinheiro, e a outra parte assumiu as dívidas de Kiko.

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Mauro disse que, em 2011, quando se tornou sócio da Kiss, a boate ainda não possuía alvará do Corpo de Bombeiros. Além disso, informou que quase desistiu da sociedade da Kiss durante o processo de reforma para isolamento acústico da boate, uma vez que Elissandro não havia lhe informado das reclamações de vizinhos e do Termo de Ajustamento de Condutas (TAC) em andamento. Para resolver o problema, Elissandro teria falado a Mauro que pediria dinheiro ao pai para pagar a dívida.

NOITE DA TRAGÉDIA

O ex-sócio afirmou que só costumava frequentar a Kiss nas quinta-feiras, quando a Absinto não abria. Na madrugada do incêndio, estava em casa, preparando-se para dormir quando recebeu uma ligação de Elissandro. Mauro é o único dos réus que não estava na boate quando o fogo começou. 

- Eu peguei meu carro imediatamente e fui para a boate. Até hoje não sei como cheguei lá tão rápido. Eu olhava as pessoas e via elas com os olhos brancos. Acho que por causa do queimado. Era cena de horror - revelou.

Lá, Mauro conta que se apresentou como sócio e ajudou a auxiliar as vítimas:

- Cheguei lá e me apresentei para todo mundo como sócio da Kiss. O Kiko já não estava mais lá, por medo, porque ele era o "Kiko da Kiss". Mas eu, ninguém sabia que era sócio, nem a minha mãe, delegado, prefeito. Eu não me sentia dono, eu era sócio. 

PRISÃO

Desde que foi preso durante quatro meses em 2013, o réu conta que precisa de tratamento com psiquiatra e toma remédios. 

- Eu quero pedir perdão para os pais, para a sociedade de Santa Maria. Ninguém queria aquilo lá, ninguém imaginou aquilo la. Eu vi o Luciano preso, parecia um zumbi. Eu tomava banho e fazia a barba quando ia receber a família, minha mãe de 90 anos, para não parecer tão mal - disse.

Assim como o ex-prefeito Cezar Schirmer e outras testemunhas, criticou o trabalho de investigação do caso. Considerou que esse julgamento só acontece por causa de uma pressão por respostas. 

-  Criaram uma narrativa de coisas para poder prender alguém. Fiquei quatro meses preso na ala dos bandidos. São quatro pessoas que foram embrulhadas pelo sistema - sentenciou Mauro a respeito das acusações contra os quatro réus. 

AMEAÇAS

Mauro permaneceu recluso ao longo dos últimos oito anos. Nunca deu entrevistas e evitava exposições. Durante o interrogatório, disse que já foi ameaçado de morte e, por isso, mudou de cidade quatro vezes para proteger a família. Também disse que não conseguiu ajudar financeiramente as vítimas.

- Tive todos meus bens bloqueados. Minha vida acabou. Ninguém ganha com esse julgamento. Os pais são os maiores perdedores, que perderam seus filhos, mas todo mundo aqui saiu perdendo de alguma forma - relatou.

Disse também que permaneceu em silêncio também em respeito aos familiares:

- Na verdade, os pais tiveram falso apoio. A sociedade, em si, não apoiou os pais. As pessoas tinham de ter abraçado os pais. O sistema enganou os pais, dizendo para condenar os assassinos para esconder os defeitos do sistema.

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