'Jamais eu vou fugir. Eu já estou pronto para me apresentar', diz Luciano a caminho do presídio

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)

Luciano Bonilha Leão, ex-roadie da banda Gurizada Fandangueira, vai se apresentar no Presídio Estadual de São Vicente do Sul. Ele e os outros três réus do Caso Kiss - Elissandro Spohr, Mauro Hoffmann e Marcelo de Bonilha Leão - tiveram mandados de prisão expedidos no começo da noite desta terça-feira, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a liminar que os mantinha em liberdade.

Em áudio, Luciano disse que "sempre lutou para que o júri acontecesse". Ele reiterou que "queria ser escutado" e lamentou que o "Ministério Público não quis saber" a história dele. O áudio foi encaminhado para a reportagem enquanto Luciano se encaminhava do interior de Santa Maria para o município de São Vicente do Sul, cerca de 90 km distante.

Veja na íntegra:
"Sei que o momento não é bom. O momento não é o que imaginava, mas eu posso dizer que, em nove anos, eu lutei para que pessoas me entendessem, me conhecessem. E eu sempre lutei para que esse júri acontecesse. Eu pedi muito a Deus que sete pessoas me escutassem. E eu entendia também que o Ministério Público, nesses nove anos, tivesse visto a minha posição na sociedade, o que que eu estava fazendo nesses nove anos. O Ministério Público simplesmente não quis saber a minha história. Em certo momento, no próprio júri, usou fotos em que eu estou trabalhando para dizer que eu estava feliz. Tudo bem, não tem o que falar. Só tenho a dizer assim que eu pedi a Deus que sete pessoas me escutassem, Deus foi muito melhor para mim, foi muito mais maravilhoso para mim, que o Brasil inteiro me escutasse. E hoje, o que me deixou de pé, que eu nunca me imaginei que fosse condenado, é milhares de mensagens que eu recebo. Desde de pessoas que são anônimas e que de qualquer maneira tentam me confortar com suas palavras. E digo que eu jamais eu vou fugir. Eu já estou pronto para me apresentar e o que eu sempre falei é que, se eu um dia eu fosse preso, eu ia debater só com Deus. E hoje eu novamente eu venho perguntando a Deus por que ter tantos pais perder seus filhos. Por que eu estar nessa situação. E eu tenho só que conversar com ele, porque eu tenho a minha consciência bem tranquila, eu durmo tranquilo que eu jamais tirei a vida de alguém. O meu trabalho não foi o que tirou a vida dessas criança. Eu saí de casa para trabalhar, na noite daquela do dia 27, para que eu encontrasse pessoas felizes e nem eu saí feliz também. Eu não ia querer matar a pessoa que me deu a roupa para que eu trabalhasse aquele dia. Eu não poderia ser injusto com quem está me querendo o meu bem, que é o Brasil hoje. Então, eu estou voltando e vou me entregar assim. Ficar tranquilo que é o que eu disse no júri: se for para tirar a dor dos pais, que me condene e me prenda. O momento que me prender terminou a dor dos pais, terminou o pedido da justiça, já está preso. Então agora é vida que segue. Espero que Santa Maria... eu sei que não é fácil. A tragédia da Kiss nunca vai ser apagada, mas que Santa Maria consiga se reerguer. A mancha da Kiss sempre vai ter, mas Santa Maria precisa sorrir, precisa voltar a viver".

OUTROS RÉUS
Ainda na noite desta terça-feira, Marcelo foi o primeiro dos réus a se apresentar, no Presídio Estadual de São Vicente do Sul. O juiz Orlando Faccini Neto concedeu, a pedido da defesa, que ele seguisse neste presídio, sem ser transferido para Santa Maria.

Elissandro Spohr, ex-sócio da Kiss, já se apresentou, em Porto Alegre. Em vídeo, divulgado na página do advogado Jader Marques, ele afirmou que queria "resolver o que tem que ser resolvido". Ele se apresentou na no cartório do 2° Juizado da 1ª Vara do Júri e será encaminhado para a Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan).

A defesa de Mauro Hoffmann informou que a sentença será cumprida e a 1ª Vara do Júri informada sobre isso e a cidade a ser cumprida a pena. A apresentação deve ser no município de Tijucas, no litoral de Santa Catarina. A previsão é que ele se apresente na quarta-feira.

O QUE ACONTECE
A votação para manter o habeas corpus segue mantida para quinta-feira no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Porém, até lá, a decisão superior prevalece, e os réus condenados devem ser presos.

Caso o TJRS julgue manter o habeas corpus, o STF pode decidir novamente decidir pela liberdade ou não dos réus.

ENTENDA O CASO

Após 10 dias de júri, em Porto Alegre, os quatro réus, que respondiam pelo incêndio, foram condenados a cumprir pena. Marcelo e Luciano tiveram pena de 18 anos, enquanto Mauro teve pena de 19 anos e 6 meses e Elissandro Spohr teve pena de 22 anos e 6 meses.
Na sexta-feira, no encerramento do júri, o juiz Orlando Faccini Neto determinou a prisão imediata dos quatro, para que começassem a cumprir a pena. Porém, um habeas corpus da defesa de Elissandro Spohr concedeu que o réu recorresse em liberdade, benefício ampliado aos outros três. O habeas corpus tinha caráter liminar até ser julgado em definitivo
Na terça-feira, o Ministéri Público ingressou com pedido ao Supremo Tribunal Federal, pedindo pela cassação do habeas corpus. Nesta terça-feira, ele foi caçado por decisão do ministro Luiz Fuz, presidente do Supremo
Ainda na terça-feira, os mandados de prisão foram expedidos pela 1ª Vara do Júri de Porto Alegre
Na quinta-feira, três desembargadores da 1ª Câmara Criminal do TJ julgam o habeas corpus definitivo. Se o concederem, terão de comunicar o STF sobre a decisão

'Jamais eu vou fugir. Eu já estou pronto para me apresentar', diz Luciano a caminho do presídio

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