Foto: Vinicius Becker (Diário)
Deborá Evangelista (de branco na foto) lança obra nesta sexta-feira, às 18h, na Feira do Livro de Santa Maria. A obra (acima) foi tema do Jogo de Cintura de segunda-feira, com Débora Dias (a partir da esquerda), Fabiana Sparremberger, Aline Casagrande e Martha Adaime
O 12º episódio da série Jogo de Cintura Especial pelo fim da violência contra a mulher tratou, na última segunda-feira (25), do livro “Você Não Está Sozinha: um manual de acolhimento, informação e empoderamento para mulheres em situação de violência”, da advogada, escritora e professora universitária Deborá Evangelista. A obra será lançada nesta sexta-feira (29) às 18h, na Feira do Livro de Santa Maria.
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Segundo a autora, que é integrante do programa Jogo de Cintura das segundas-feiras, a obra surgiu diante da necessidade da criação de um material que reúna as principais dúvidas das mulheres na procura por ajuda em casos de violência doméstica. De acordo com Deborá, muitas mulheres ficam em dúvida se estão sofrendo mesmo violência e têm vergonha de procurar auxílio.
– É uma forma de fazer a informação chegar para todas as mulheres sem que elas tenham que sair ou se expor. Queremos mostrar para a vítima que ela tem caminhos para sair da violência, que é capaz de ser feliz e plena, apesar da violência sofrida – afirma a advogada.
O livro, caracterizado como um manual, traz uma leitura fácil, fluida e didática. Fugindo de materiais acadêmicos, a autora procurou escrever como se estivesse em uma conversa com a vítima, antecipando suas principais questões, dúvidas e angústias. A advogada pontua que, tecnicamente, o livro poderia ter uma estrutura acadêmica diferente, mas destaca que o objetivo foi estabelecer um diálogo com a leitora, com um assunto “puxando” o outro.
Deborá também destacou que os artigos publicados em sua coluna no Diário de Santa Maria impresso tiveram papel fundamental na construção do livro. Inicialmente, ela reuniu esses materiais já produzidos sobre o tema para dar forma ao texto. A obra ainda faz referência ao programa Jogo de Cintura e à série especial pelo fim da violência contra a mulher, no capítulo 5, dedicado às redes de apoio em Santa Maria. Na página 110, a autora ressalta: “Ao romper o silêncio e oferecer informação qualificada, o programa fortalece a rede de proteção, estimula a denúncia e inspira outras iniciativas da rede nacional e regional”.
O livro trata, em seus 11 capítulos, dos temas mais importantes para o combate à violência, passando por fatores históricos, conselhos jurídicos e dicas práticas de como sair do ciclo da violência.
– Uma das principais contribuições da obra é a prevenção da violência contra a mulher. Deborá traz exemplos muito pontuais sobre como a violência costuma começar, abrindo os olhos das mulheres para relacionamentos abusivos que, muitas vezes, vão evoluir para agressões físicas e até feminicídios. É uma leitura obrigatória também para os educadores que podem ajudar orientando crianças e adolescentes a identificar os tipos e formas de violência e evitá-los desde cedo – avaliou a apresentadora Fabiana Sparremberger, âncora do Jogo de Cintura e idealizadora da série especial junto com o juiz Rafael Pagnon Cunha, titular do Juizado da Violência Doméstica e Familiar de Santa Maria.
O episódio que tratou do livro contou ainda com as participações de Aline Casagrande, professora universitária, advogada familista e mediadora de Conflitos; Martha Adaime, atual vice-reitora da UFSM e primeira reitora eleita; e da delegada Débora Dias, que se dedicou ao tema por 18 anos e hoje é a titular da Delegacia de Polícia de Proteção à Pessoa Idosa e Combate à Intolerância (veja como elas abordaram a importância do manual para as vítimas):
A relevância da obra
“O livro apresenta uma análise acessível e sensível sobre as raízes da violência contra a mulher, destacando a importância da rede de apoio e os mecanismos de proteção da Lei Maria da Penha. Aborda ainda as consequências jurídicas para o agressor, os reflexos no Direito de Família e nas relações trabalhistas, oferecendo orientações práticas sobre onde buscar ajuda e reafirmando que romper o ciclo da violência é possível. Sua leitura é importante e pertinente para todos – mulheres, homens, adolescentes e idosos – por promover consciência, prevenção e solidariedade.”
Aline Casagrande, advogada e professora universitária
“Você não está sozinha é um manual escrito de forma acessível, inteligente, que deve ser leitura obrigatória para mulheres, adolescentes e homens. Não é direcionado somente para mulheres em situação de violência, mas é manual imprescindível para prevenção da violência de gênero. Aprovadíssimo!”
Débora Dias, delegada
“Em um texto muito fluido, Deborá teve a felicidade de preparar uma leitura informativa com exemplos muito assertivos de situações de violência, manualizando procedimentos extremamente necessários ao reconhecimento de situações dos tipos de violência bem como as ações necessárias ao rompimento do ciclo de violência.”
Martha Adaime, vice-reitora da UFSM
Grupo Diário como uma rede de apoio na cidade
O programa Jogo de Cintura é citado, na página 110 do livro “Você Não Está Sozinha”, como uma relevante rede de apoio para as mulheres vítimas de violência. Confira a citação:
“(...) o programa Jogo de Cintura (...) representa uma contribuição valiosa e transformadora no enfrentamento à violência contra a mulher. Conduzido por mulheres desde sua criação, construiu ao longo do tempo um espaço plural, inteligente e sensível para a discussão de temas que atravessam a vida de mulheres com uma abordagem crítica, acolhedora e informativa. O compromisso assumido em 2025 de, a cada 10 edições, dedicar um episódio inteiramente voltado ao enfrentamento da violência contra a mulher demonstra uma profunda responsabilidade social e uma atuação consciente frente à urgência dessa pauta. Essa escolha editorial não apenas reafirma o papel da comunicação como instrumento de transformação, bem como reforça a importância da continuidade e da constância nas discussões sobre direitos humanos. Mais do que apenas denunciar ou informar, o Jogo de Cintura tem se empenhado em dar visibilidade às múltiplas formas de violência que atingem as mulheres, convidando especialistas, ativistas, autoridades e, de forma muito significativa, também homens para o debate. Ao incluir vozes masculinas, amplia o alcance das reflexões e estimula a corresponsabilidade dos homens no combate à cultura machista e na construção de relações baseadas no respeito e na equidade. Esse compromisso periódico consolida-se como estratégia educativa de grande impacto, promovendo conscientização, empatia e mudança de mentalidade (...). Ao romper o silêncio e oferecer informação qualificada, o programa fortalece a rede de proteção, estimula a denúncia e inspira iniciativas da mídia regional e nacional. Em tempos em que a comunicação é usada para reproduzir estigmas e violências simbólicas, o Jogo de Cintura é exemplo de jornalismo comprometido com a vida, com a justiça e com os direitos das mulheres, reafirmando que a luta contra a violência não é responsabilidade apenas de quem sofre, mas de toda a sociedade. A cada episódio, o programa reafirma: falar é resistir, informar é proteger, escutar é acolher”.
Assista ao programa na íntegra:
Agosto Lilás no Jogo de Cintura em quatro episódios
Agosto Lilás é o mês dedicado à conscientização pelo fim da violência contra a mulher. A campanha foi criada pelo governo federal em alusão à Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006, um marco histórico na luta pelos direitos das mulheres. Inspirado por essa data, o programa Jogo de Cintura, apresentado pela jornalista Fabiana Sparremberger, ampliou a série especial pelo fim da violência contra a mulher, trazendo quatro episódios que discutiram o tema sob diferentes perspectivas.
Além do 12º episódio, mencionado acima, confira como foram os demais programas e os temas debatidos no mês de agosto.
Uma série especial para refletir, conscientizar e mudar realidades
9º episódio: Ciúme saudável existe ou ele evolui sempre para algum tipo de violência?

No dia 4 de agosto, o programa Jogo de Cintura abordou o ciúme nos relacionamentos. Participaram do debate as psicólogas Anniele Rosinski, professora universitária com mais de sete anos de experiência como facilitadora no Juizado da Violência Doméstica de Santa Maria e Vera Lúcia Heringer, que atua na Casa Abrigo Maria Madalena, voltada para mulheres em situação de violência. Também estiveram na mesa as integrantes do programa das segundas-feiras, Carla Viegas e Aline Rosa.
No programa, as convidadas discutiram se o ciúme pode ser inofensivo ou se ele leva à violência. A psicóloga Anniele reconhece que, em alguns casos, o ciúme pode até ser visto como um sinal de afeto e importância. Mas, quando excessivo, deixa de ser demonstração de cuidado e passa a revelar atitudes de domínio, controle e posse, um “ciúme mascarado” que quase sempre acaba em violência. Já Vera Lúcia afirma que a transição da violência psicológica, muitas vezes naturalizada e de difícil identificação, para a agressão física é comum em relacionamentos abusivos. Segundo ela, os agressores buscam a “destruição do eu” da mulher, isolando-a e anulando sua identidade, até torná-la uma extensão do parceiro.
O debate também trouxe relatos de superação. Um deles foi o de uma mulher que, após 40 anos de violência e ameaças de morte, conseguiu se libertar. As convidadas ainda ressaltaram que esta história mostra que, apesar do sofrimento vivido por muitas vítimas, é possível encontrar apoio, romper o ciclo da violência e reconstruir a vida.
10º episódio: Santa Maria no Agosto Lilás (projeto Banco Vermelho nas escolas e Coordenadoria da Mulher)

Já no dia 5 de agosto, o episódio contou com a participação da vice-prefeita de Santa Maria, Lúcia Madruga; da presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Condim), Cida Brizola; da psicóloga Suséli Santos; e da produtora de eventos Sandra Ávila. No programa, as convidadas abordaram iniciativas da prefeitura como a instalação do Banco Vermelho no Calçadão, um símbolo da luta contra a violência e o feminicídio, e a proposta de levar o projeto às escolas municipais, com novidades que seriam anunciadas ainda neste mês. A ideia, segundo a vice-prefeita, é gerar reflexão e conscientização, iniciando um processo educativo que envolva toda a comunidade, incluindo pais e alunos.
A presidente do Condim, Cida Brizola, enfatizou o papel do Conselho em desenvolver projetos e debates relativos à condição da mulher de diferentes realidades. Ela também mencionou a busca pela criação de um Fundo Municipal para a Mulher para apoiar financeiramente essas demandas.
Outro anúncio feito pela vice-prefeita, Lúcia Madruga, foi a criação da Coordenadoria da Mulher, vinculada ao gabinete da vice-prefeita, para centralizar as demandas e políticas públicas voltadas ao público feminino, conforme demanda sugerida na 4ª Conferência Municipal dos Direitos da Mulher.
11º episódio: Homens que agridem mulheres: quem são eles?

O programa de 13 de agosto abordou o perfil dos homens que agridem mulheres. O debate contou com a participação de Katerine Braun, defensora pública estadual há 22 anos e com mais de uma década de atuação na orientação de vítimas de violência doméstica; Rafael Pagnon Cunha, titular do Juizado de Violência Doméstica e Familiar de Santa Maria há quase 10 anos; além da psicóloga e professora Graziela Miolo e do advogado e facilitador judicial Juarez Fernandes.
A conversa desmistificou a ideia de que existe um agressor com características únicas. Dados apresentados pelo juiz Rafael Cunha, referentes a 2024, mostram que 44% dos agressores têm entre 18 e 35 anos, e estes são distribuídos em diferentes classes sociais e condições financeiras. Katerine destacou situações comuns nos casos em que atua, como a admiração que muitas mulheres sentem pelos agressores, o que dificulta a ruptura com o ciclo da violência. Segundo ela, inseridas em uma sociedade machista, muitas vítimas acabam reproduzindo esse padrão na criação dos filhos.
Durante o programa, o juiz também apresentou o projeto (RE)Pensando Masculinidades, que reúne autores de violência doméstica em 13 encontros reflexivos. A iniciativa, que começa nesta semana em Santa Maria, busca criar um espaço de escuta, responsabilização e transformação, incentivando a desconstrução de padrões sustentados pela masculinidade tóxica e pela cultura patriarcal.