Júri da Kiss

'A nossa luta é por justiça. Jamais foi por vingança', afirma Flávio Silva

Arianne Lima

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Após o encerramento do júri do Caso Kiss e o retorno de familiares de vítimas e sobreviventes à Santa Maria, o presidente da Associação de Familiares de vítimas e sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (ATVSM) Flávio Silva voltou a comentar sobre momentos vividos dentro do Foro Central I, em Porto Alegre.

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JULGAMENTO

Em uma participação do programa Jornal do Diário na segunda-feira, Flávio, que foi citado diversas vezes por advogados de defesa dos réus Elissandro Spohr, Mauro Hoffmann, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão durante o júri, avaliou a situação:

-Os dias, que ficamos lá acompanhando diretamente o júri, exigiram muito de nós em paciência e até naquela ansiedade que tínhamos durante o desenrolar de todos os debates e oitivas de testemunhas. Mas, ele teve um resultado muito positivo. Eu sempre digo que não houve perdedores, nem ganhadores. Quem ganhou foi a sociedade, especialmente na questão da prevenção. Daqui por diante, espera-se que seja preservada a questão a vida, porque as pessoas sabem que crimes como esse começarão a ser punidos. 

Na última sexta-feira, o juiz Orlando Faccini Neto sentenciou os sócios da Boate Kiss, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann a condenações de 19 a 22 anos e seis meses de reclusão. O vocalista e o roadie da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão foram condenados a passar 18 anos cada em regime fechado. Os quatro condenados deveriam ser conduzidos imediatamente a uma penitenciária. Entretanto, a defesa de Elissandro Spohr entrou com um Habeas Corpus Preventivo, contrariando a decisão do magistrado. Segundo o presidente da AVTSM, a ação já era esperada por muitos:

-Teria sido sim cogitada a possibilidade deles entrarem com um Habeas Corpus Preventivo. E foi o que aconteceu. Isso demonstra que as defesas não tinham tanta confiança em derrubar dolo eventual. Então, mesmo que eles não tenham saído de lá presos e levados para o presidio conforme a determinação do próprio magistrado, ficou provado essas responsabilidade. E agora, esperamos que entrar com um recurso para cassar essa liminar - afirma Flávio. 

REPERCUSSÃO

A palavra 'vingança' proferida por muitos dentro e fora do tribunal também foi citada pelo pai de Andrielle, uma das 242 vítimas da tragédia. Flávio relata que ouvir dos advogados de defesa, Bruno Menezes e Jean Severo, que a luta dos familiares era por vingança abalou a todos no julgamento. 

-Desde o início, batemos na tecla que a nossa luta é por justiça. Jamais foi por vingança. Porque, vingança é um sentimento tão mesquinho. O que levou a nossa luta adiante foi o amor pelos nossos filhos. E ficamos chateados no momento que até defensores tacharam que essa condenação foi um ato vingativo e não justo. Isso abala, porque não estamos ouvindo da boca de um leigo, mas sim de pessoas que estudaram e sabem a diferença da vingança para um ato de justiça. Temos a consciência tranquila, porque a vingança que eles tanto falam jamais esteve perto de nós - argumenta. 

Flávio relembra dos momentos em que os familiares não puderam se manifestar no julgamento, por conta da possibilidade do nulidade do processo. 

- Teve vários fatores que determinaram um tipo de manifestação. Inclusive, oitivas de testemunhas que foram preparadas de certa forma com o intuito de defender os réus e no minimo, tentar uma desclassificação. O meu nome foi citado algumas vezes o que me deixa muito brabo. Mas, no sentido de ter o nome citado em uma situação como essa e de uma forma muito covarde, uma vez que não tínhamos direito de nos defendermos.

A atuação da defesa durante o julgamento é descrita como uma espécie de 'vale tudo'.

-Fomos muito desrespeitados, inclusive. A parte da defesa não teve muito respeito nem com os promotores, nem com a assistência. Também foram ofensivos conosco que estávamos na platéia - diz o presidente da Associação.

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FUTURO

Segundo Flávio, o trabalho da ATVSM está longe de terminar, visto que o processo do caso Kiss continua com a possibilidade de entrada de recursos das defesas dos condenados. Entretanto, ações voltadas a comunidade santa-mariense devem ser mais recorrentes no futuro: 

-Temos propostas de levar para escolas públicas um trabalho de prevenção e apostamos nisso: que o cidadão traga de berço uma certa experiência sobre essa área de preservar a vida. 

Em 2022, a tragédia de Santa Maria completa 9 anos. Durante todo esse período, as intervenções organizadas pelos pais, familiares e sobreviventes tinham como intuito não permitir o esquecimento dos 242 mortos no incêndio na Kiss, que ocorrera em 27 de janeiro. Após longos anos pedindo por justiça, a ideia é homenagear e celebrar a vida novamente:

-Tem tudo para ser diferente um 27 de janeiro um pouco diferente. Porque os outros sempre ficaram marcados pela questão da nossa luta em busca por justiça. E agora, podemos sim nos concentrarmos em homenagear os nossos filhos, porque eles foram justiçados ou estão sendo. Nós só temos que celebrar a vida agora e homenagear os nossos filhos. 

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