Foto: Vinicius Becker (Diário)
No Rio Grande do Sul, a Semana Farroupilha é sinônimo de tradição, pilcha, chimarrão e, claro, churrasco. Mas, neste 20 de setembro, preparar o assado pode custar mais caro. Segundo o professor e economista Mateus Frozza, fatores climáticos e o ciclo pecuário vêm sendo responsáveis pelo aumento do preço da carne no Estado, e a procura típica da data pode gerar alta extra de até 6%. Apesar disso, os gaúchos não abrem mão da herança: eles adaptam o cardápio, trocam cortes, mas o churrasco segue garantido.
Faltando pouco para o feriado da Revolução Farroupilha, a reportagem do Diário percorreu três estabelecimentos de Santa Maria para entender as escolhas dos consumidores. A costela se confirmou como o corte mais procurado para o churrasco da Semana Farroupilha. Nos mercados, o quilo varia entre R$ 34 e R$ 39,90, enquanto em uma casa de carnes o valor chega a R$ 50,90.
Numa amostra em três estabelecimentos, o preço da maminha subiu 8% em relação a setembro de 2024, enquanto o da alcatra, 16%, do vazio, 22%, e da picanha, 31% (veja quadro abaixo).
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Nos mercados

Nos dois supermercados visitados pela reportagem, o movimento de vendas de carnes para a Semana Farroupilha apresentou aumento significativo, com destaque para cortes de churrasco.
Em um deles, o açougueiro Rosemar Soares, 47 anos, observou que os preços subiram pouco, mas depois se mantiveram estáveis, sem grandes aumentos. Ele relatou que o movimento de consumidores foi mais tranquilo no início do mês, mas deve aumentar nesta sexta (19) e no sábado (20) da Semana Farroupilha, registrando cerca de 30% a mais de vendas do que o normal.
Entre os cortes mais procurados para o churrasco, destacam-se maminha, picanha, vazio e, principalmente, a costela da janela, considerada a preferida do público, por R$ 34 o quilo. Além da carne bovina, há procura por frango e carne suína, especialmente em promoções, quando o consumo desses itens aumenta significativamente.
Segundo Soares, apesar dos preços mais altos, os clientes não deixaram de comprar, apenas passaram a controlar melhor o orçamento e ajustar a quantidade de carne adquirida.
— Eu não senti muito impacto (com o aumento dos preços). Foi pouco. Acho que o pessoal está controlando o dinheiro, né? Esse início de mês foi calmo porque tem a Semana Farroupilha, mas o pessoal não deixa de comprar as coisas. Eles preferem dia de promoção. No dia de promoção de frango, por exemplo, vai vender mais frango. No dia de porco, a mesma coisa. E eles aproveitam e pegam para a semana toda — explica.

Já no outro estabelecimento, o açougueiro Wesley Ribeiro, 32 anos, reforçou que a clientela manteve a frequência de compras mesmo com o aumento de preços. Ele observou que, durante a Semana Farroupilha, o movimento aumentou cerca de 30%, principalmente para cortes destinados ao churrasco, como costela, que pode ser encontrada nas opções dianteira, desossada e janela por R$ 39,90 o quilo, o vazio, por R$ 49,90, e carnes de primeira, que rendem mais e agradam o paladar dos consumidores.
— Como a gente atende aqui um público de A a D, geralmente tem muitos que vêm aqui a consumir coxa e sobrecoxa, um franguinho mais em conta. E tem aquele público que pega a carne da primeira, não adianta, não deixa de pegar.


Casa de carnes
Em uma casa de carnes na faixa nova de Camobi, em Santa Maria, o açougueiro Jonathas Ribas, que atua no setor há 23 anos, registrou aumento no movimento de 40% a 50% neste mês de setembro, especialmente na última semana. Segundo ele, os cortes mais procurados pelos clientes são costela, entrecot, vazio, maminha e, por último, a picanha.
A costela angus pode ser encontrada por R$ 50,90 o quilo, sendo o corte mais barato do estabelecimento. Já a picanha ocupa o topo da lista, com preço de R$ 102,90.
Apesar da alta registrada em outros pontos de venda, ele avalia que, no seu caso, os preços não subiram de forma significativa e que o consumo segue estável, ainda que os clientes demonstrem um pouco mais de cautela nas compras.
— Às vezes, quando o cliente demora para voltar ou compra quantidades menores, sempre perguntamos se foi algum problema em relação ao atendimento ou a carne, mas o motivo é a questão do preço mesmo. Eles não deixam de consumir, mas acabam dando uma segurada — conta.
Já o carvão manteve os preços estáveis no estabelecimento: o saco de 3 kg sai por R$ 24,90, o de 5 kg por R$ 35,90, o mais vendido entre os clientes, e o de 8 kg por R$ 59,90. Para quem opta pela lenha de eucalipto, o quilo custa R$ 18.
O valor do quilo (R$)
Local | Costela | Maminha | Agulha c/ osso | Alcatra | Coxão mole | Picanha | Filé Mignon | Vazio |
Casa de carnes | 50,90 | 69,90 | Não trabalha | 65,90 | 58,90 | 102,90 | 83,90 | 73,90 |
Super 1 | 34 | 54 | 28 | 55 | 49,98 | 69 (resfriada) | 60 | 48 |
Super 2 | 39,90 | 58,90 | 23,90 | 59,90 | 48,90 | 78,90 | 78,70 | 49,90 |
Média de preços | 41,30 | 60,93 | 25,95 | 60,26 | 52,59 | 83,60 | 74,2 | 57,26 |
*Os valores correspondem aos dias normais. Em promoção, e até com uso do clube de fidelidade de cada supermercado, pode haver descontos.
O valor do quilo em 2024 (R$)
Local | Costela | Maminha | Agulha c/ osso | Alcatra | Coxão mole | Picanha | Filé Mignon | Vazio |
Casa de Carnes | 49,90 | 67,20 | Não trabalha | 48,90 | 43,90 | 72,50 | 78,00 | 58,50 |
Super 1 | 33,80 | 44,90 | 23,79 | 51,90 | 39,90 | 59,90 | 82,98 | 39,90 |
Super 2 | 36,99 | 55,99 | 26,99 | 54,99 | 43,99 | 57,99 | 57,99 | 41,99 |
Média de preços | 40,23 | 56,03 | 25,39 | 51,93 | 42,60 | 63,46 | 72,99 | 46,80 |
*Os valores correspondem aos dias normais. Em promoção, e até com uso do clube de fidelidade de cada supermercado, pode haver descontos.
*A pesquisa deste ano não foi realizada nos mesmos estabelecimentos do ano passado.
Preço ficou mais salgado

O professor e economista Mateus Frozza observa que, neste ano, os fatores climáticos e o ciclo pecuário vêm sendo responsáveis pelo aumento do preço da carne no Rio Grande do Sul. Segundo ele, o excesso de chuva e de umidade prejudicou as pastagens, reduzindo a oferta de animais destinados aos frigoríficos, o que impacta diretamente os valores no mercado.
Além disso, as exportações se readequaram em função do tarifaço dos Estados Unidos: apesar de não ter vendido para o país, Frozza explica que parte da produção foi direcionada a mercados como China, Chile e Índia, enquanto cortes que não conseguem ser exportados acabam sendo vendidos internamente, muitas vezes a preços promocionais.
Ele explica que essas promoções, principalmente em carnes embaladas a vácuo, podem dar a falsa impressão de que o preço geral está caindo. Contudo, cortes tradicionais como picanha, costela, maminha e guisado de primeira permanecem elevados. No açougue, a costela chega a custar acima de R$ 45,90, a maminha passa de R$ 60 e a picanha pode ultrapassar R$ 70. Já o guisado de segunda é encontrado por cerca de R$ 26, enquanto o guisado de primeira supera os R$ 40.
Segundo ele, mesmo com a alta, o consumo não diminui. O gaúcho pode até ajustar o cardápio, mas não abre mão do churrasco, adequando com outras proteínas para equilibrar o orçamento.
— Isso não significa que o consumidor está deixando de comer carne, ele está comprando quantidades menores, mudando os cortes. No churrasco, também está colocando mais frango, como a coxa e sobrecoxa, trazendo a carne de porco também. Para nós, gaúchos, a substituição para o ovo como proteína não funciona muito, então, a tendência é diminuir a quantidade de comprada.
O especialista também aponta que a semana farroupilha intensifica a demanda, contribuindo para um aumento estimado de 6% neste período. Já o consumo agregado, como carvão e sal, também tende a subir devido à maior procura durante os churrascos.
Para os próximos meses, Frozza projeta que os preços dificilmente cairão, podendo se estabilizar ou até aumentar, principalmente em dezembro, período em que o ciclo de nascimentos reduz a oferta de carne bovina.
— A tendência é que preço da carne não vai baixar. Talvez estabilizar e aumentar e aumentar um pouquinho, principalmente no mês de dezembro — finaliza o economista.
