50 anos depois, capitão do acesso em 1968 comemora mais uma vez o retorno do Inter-SM à elite gaúcha

50 anos depois, capitão do acesso em 1968 comemora mais uma vez o retorno do Inter-SM à elite gaúcha

Foto: Vinicius Becker

Daudt guarda com carinho a faixa de campeão do acesso em 1968

O último domingo entrou para a história recente de Santa Maria. Depois de 14 anos, o Inter-SM voltou à elite do futebol gaúcho ao vencer o Veranópolis, na Baixada. A conquista reacendeu memórias antigas para quem já tinha escrito esse capítulo, em um passado distante, quando o clube alcançou pela primeira vez o acesso, em 1968.

O ex-zagueiro Carlos Eugênio Daudt, 83 anos, capitão daquela equipe pioneira, acompanhou pela televisão o triunfo sobre o VEC e se emocionou.

– Quando a bola entrou, eu pulei da cadeira mais do que quando o meu Inter de Porto Alegre marca. Pensei: “voltou, graças a Deus, voltou”. Esse acesso é uma alegria para toda a cidade. Vai trazer público, vai trazer os grandes clubes de volta para cá. É bom para Santa Maria e é bom para o Inter-SM – disse Daudt.


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Natural de São Leopoldo, Daudt teve oportunidades em grandes clubes como Grêmio, Inter de Porto Alegre e Corinthians, cada um em estágios diferentes da carreira. Mas foi no Aimoré, clube de sua cidade natal, que o zagueiro encontrou o ambiente ideal para conciliar o futebol e outra paixão: os estudos na área de Agronomia.

Antes mesmo de terminar o contrato com o Corinthians, cogitou parar de jogar e focar na carreira acadêmica. Por esses motivos, chegou a Santa Maria a convite do professor Derblay Galvão, engenheiro agrônomo que, posteriormente, seria reitor da Universidade Federal de Santa Maria entre 1978 e 1981.

Ao mesmo tempo, além de atuar como professor na universidade, Daudt recebeu um novo convite: jogar pelo Inter-SM, que havia se reestruturado na época. Foi então que a história aconteceu:

– Eu me encantei pelo projeto que eles tinham e resolvi vir para Santa Maria. O time do ano anterior já tinha se saído muito bem aqui, em uma terra que dominava o Riograndense. Além de lecionar na universidade, assumi outra missão: colocar o Inter-SM na elite do futebol gaúcho.


O primeiro acesso

Em 1961, a primeira divisão do futebol gaúcho foi unificada. Antes, era disputada de forma regionalizada. Os campeões de cada região do estado disputavam o grande torneio para decidir o título gaúcho. Neste novo formato, com duas divisões, o Alvirrubro foi conquistar o primeiro acesso em 1968.

Na época, a segunda divisão era dividida entre duas zonas regionais. A "Zona B" contava com os representantes santa-marienses, Inter-SM e Riograndense, além de Avenida, Bagé, Cachoeira, Cruzeiro de São Gabriel e Grêmio Santanense.

Mas naquele ano, o Inter-SM não apenas subiu: impôs respeito. O time ficou um turno inteiro invicto, sem perder e sem sofrer gols, algo que até hoje é lembrado por Daudt com orgulho. Ao lado do parceiro de zaga Santo, ele formava uma muralha defensiva e levava perigo no ataque:

Ninguém ganhava de nós na cabeça. Quantos gol de cabeça eu fiz no Inter de Santa Maria? Não me lembro, mas fiz bastante, o Santo também. Eu saía com a cabeça doendo em dia de jogo, de tantas bolas que eles jogavam para dentro da área – lembrou o ex-zagueiro.

O ex-capitão mostra quadro com a escalação da equipe da épocaFoto: Vinicius Becker

Figura de forte liderança, Daudt recebeu a braçadeira de capitão por escolha dos colegas, pouco tempo após chegar ao clube, em 1966: 

– O Santo chegou para mim e pediu para eu ser o capitão do time. Eu falei que não queria, porque recém havia chegado, mas ele respondeu que o grupo queria. No meu modo de ver, o capitão do time era aquele que exigia também compromissos dos companheiros – contou Daudt. Um bom exemplo do que o capitão defende foi sentido um ano e meio depois, já na elite do futebol gaúcho. Segundo ele, o clube era um dos poucos que era aceito nos hotéis em Porto Alegre, em virtude do bom comportamento do elenco.

Com um bom time, o Inter-SM começou a ganhar e garantiu o acesso com tranquilidade:

– O Nilson, nosso goleiro na época e que ainda mora na cidade, tinha feito um levantamento que mostrava que, para cada 10 jogos, nós vencíamos entre seis a sete, empatávamos dois e perdíamos apenas um. Aqui na Baixada, eu tenho dificuldade de lembrar de um jogo que perdemos – disse o ex-zagueiro, que ficou no clube entre 1966 e 1969.


A vida fora do campo (de futebol)

Daudt, no entanto, já traçava outro destino além do futebol. Conciliava treinos e jogos com as aulas e a vida acadêmica. Quando estudava, encontrava maneiras de convencer professores e treinadores:

Era uma vida extremamente corrida. Muitos achavam que jogador de futebol não podia ser universitário, mas o treinamento era em um turno por dia. Além disso, raramente no Rio Grande do Sul se jogava quarta de noite. Você jogava sempre sábado ou domingo, à tarde. Em Porto Alegre, quando eu estudava era um problema. Mas os professores às vezes compreendiam e o treinador também – contou Daudt.

Formado engenheiro agrônomo, tornou-se professor da Universidade Federal de Santa Maria em 1966. Poucos anos depois, buscou mestrado e doutorado na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, onde também utilizou o futebol como meio para gerar renda.

Hoje, o ex-zagueiro vive em Santa Maria, em propriedade rodeada por parreirasFoto: Vinicius Becker

Referência internacional em vitivinicultura e tecnologia de alimentos, Daudt ajudou a estruturar o curso de pós-graduação da área em Santa Maria, foi pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da UFSM e percorreu o mundo como juiz em concursos de vinhos. A carreira acadêmica não apagou o atleta, mas deu novo sentido à vida.

– Parei de jogar cedo, mas parei porque quis seguir adiante. Fui professor da UFSM até completar 70 anos. Depois resolvi me acomodar por aqui e fazer um pouco do que eu sabia fazer. Jogar bola não dava mais, né? E o que eu sei fazer mais ou menos bem é parreira e vinho. Vou fazer 62 anos de casado em dezembro desse ano, tivemos três filhos e vários netos. Moro aqui e sou feliz – contou o ex-zagueiro, em tom bem humorado.


Apoio mesmo longe da Baixada

Atualmente, com 83 anos, Daudt escolhe acompanhar o futebol pela televisão. Segundo ele, uma das primeiras coisas que o tirou do estádio é a incompreensão dos torcedores em relação aos jogadores. 

– Quando eu fui em Porto Alegre, não gostei do que ouvia. Além disso, a maioria das vezes que eu ia, as rádios pediam para eu comentar o jogo. E eu só queria me divertir. Então deixei de ir ao estádio. Mas para ser bem franco, me deu uma cosquinha para ir (no jogo contra o Veranópolis), mas quando eu vi que estava lotado, achei que não era para mim – disse o ex-zagueiro, que contou que assistiu a partida em casa, ao lado da neta Júlia. 

Sobre o jogo e o acesso, o ex-zagueiro se mostrou feliz e confiante para os próximos desafios do Alvirrubro:

– Foram dois times que jogaram para ganhar. Eu vibrei muito, é bom para dar moral para Santa Maria. E espero que o Inter-SM melhore o time para o ano que vem também, por que essa torcida merece subir e não descer – defende Daudt, que acredita que a base do time deve ser a mesma para 2026, com alguns reforços que já passaram por essa situação.

Para a grande final, contra o Novo Hamburgo, o ex-capitão é conservador:

– Acho que se conseguir levar um empate, o Inter-SM faria muito bem. E depois aqui, com a nossa torcida, é tentar não tomar o primeiro gol, para eles não se fecharem. Eu nunca dou palpite, mas acho que lá eles ganham e aqui nós ganhamos – apostou.

Ele acredita que o título fique com a equipe santa-mariense, mas não quis colocar suas fichas em um placar:

– Por quantos gols? Aí é demais. O que eu sei é que aqui, com o time que o Inter-SM tem, um gol vai sair. A torcida vai apoiar e eles não vão conseguir nos segurar. 

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