Foto Vinicius Becker
Um ano e dois meses após a grave enchente de abril e maio de 2024, que resultou na morte de duas mulheres na área urbana de Santa Maria, além de três pessoas no interior, os profissionais contratados para fazer o Plano Municipal de Redução de Riscos estão na reta final dos trabalhos. Os estudos e indicações de possíveis soluções devem ser entregues em agosto e servirão de base para que a prefeitura defina que obras de contenção e melhorias precisarão ser feitas, além de ajudar na captação de recursos. Além de mapear as quatro principais áreas, como Rua Canário, Vila Churupa e Vila Bilibio, os especialistas incluíram a Vila Santa Terezinha, perto do Morro das Antenas, nessa análise. Nesse último local, das 35 famílias mapeadas, a grande maioria teve de sair por conta das graves rachaduras nas casas após o solo se movimentar. Apenas três famílias continuam morando no local.
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Segundo a professora da UFSM Andrea Nummer, as equipes estão fazendo novas vistorias nos locais de risco para analisar as condições do solo e, agora em junho, passaram a vistoriar também a Vila Santa Terezinha.
– Como na Vila Santa Terezinha houve trincas nas casas e abatimento do solo, então foi avaliado como alto risco e as pessoas foram retiradas. A gente fez acordo com o comitê gestor que a gente faria como complemento, da mesma metodologia de avaliação – disse Andrea.
Segundo ela, pelas características geológicas desses locais, é comum haver movimentações de massa (solo) de forma muito lenta, mas a enxurrada acelera esse processo e pode provocar danos.
– Todos os morros de Santa Maria são, na base, de rocha, e essas áreas inclinadas, como Santa Terezinha e Morro Cechella, são cobertas por um material que é mistura de solo com bloco de rocha, que não é daquele local, mas que se movimentou de pontos mais altos. Vai andando com o tempo. Quando chove, esse material que se chama colúvio, anda um pouco, num ritmo muitíssimo lento, é quase imperceptível. A gente percebe os troncos das árvores inclinados, os postes e as cercas também inclinados. Isso é comum nessa região. O que acontece é que quando chove muito, esse material pode se movimentar rápido, como ocorreu no Cechella, onde ocorreu um escorregamento. É de uma hora para outra. E forma o que a gente vê aqui na Santa Terezinha, com esses degraus que descem. A rua tem um degrau. Onde tem as casas próximas, cedeu e está trincado – diz Andrea.
A partir das análises, os técnicos vão indicar as possíveis soluções, que podem incluir obras de contenção e proteção de encostas e até a remoção de famílias.
– Na metodologia do Plano Municipal de Redução de Riscos, a gente não teria como realocar todo mundo. O que a gente tem informado nos relatórios é para retirar apenas aquelas pessoas que estão em altíssimo grau de risco, mas elas são em menor quantidade. A gente propõe soluções para melhorar a área e para reduzir o risco. É uma coisa muito séria, pois mexe com a vida das pessoas, pois se diz que ela tem de sair ou não, é muito sério.
De acordo com Andrea, no caso da Santa Terezinha, ainda são avaliadas quais as soluções para a área.
– Já na Bilibio, tem algumas indicações de remoção, mas a grande parte das famílias já saiu de lá. Tem indicações de obras na estrada onde tem uma trinca e um degrau, pois pode afetar as famílias que estão abaixo dela. A Canário, ainda não está concluído, mas lá e na Churupa, já saiu muita gente – diz ela.
Uma das hipóteses cogitadas para a Canário e a Churupa seria manter as ruínas das casas, para evitar que no futuro ocorram novas ocupações irregulares. Outra saída seria retirar as ruínas e fazer parque ou área verde. Em agosto, com a entrega do plano, devem ser divulgadas as soluções apontadas e também uma indicação dos custos previstos.