Foto: Charles Guerra (Arquivo/Diário)
Calma, se você leu o título e ficou preocupado, não me interprete mal – já vou explicar.
Após o debate sobre coleta seletiva, na sexta, no evento do Comitê pelo Meio Ambiente, veio a reflexão: como é possível que, em pleno 2023, com tanta tecnologia, seja permitido que seres humanos tenham a “opção” de puxarem carroças pesadíssimas com materiais recicláveis, em subidas e descidas íngremes de Santa Maria – e pior, em um sol escaldante de 39°C e desconforto térmico de 50°C, como na sexta (1º).
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Isso é desumano, é um atentado aos direitos humanos.
No evento de sexta, quatro pré-candidatos a prefeito compareceram: Paulo Burmann (PDT), Rodrigo Decimo (União Brasil) e Valdeci Oliveira (PT) – Beto Fantinel (MDB) mandou representante. É fundamental que eles, que pretendem administrar Santa Maria a partir de 2025, acompanhem de perto os debates sobre coleta de lixo e coleta seletiva e se aproximem do Conselho de Meio Ambiente (Condema) para buscar soluções para problemas ambientais e sociais graves da cidade – e não é exclusividade de Santa Maria, mas de quase todo o Brasil.
Há estimativas de que 1 mil recicladores andam pelas ruas daqui puxando carrinhos ou com sacos nas costas – há inclusive crianças e adolescentes. Eles fazem um trabalho importantíssimo para a sociedade e o meio ambiente, mas não ganham nada por esse serviço.
Quando comento que deveria ser proibido um ser humano puxar uma carroça, não sou contra os catadores – muito pelo contrário. Defendo que os governos federal, estadual e municipal implementem políticas públicas sérias para combater isso. Um ambientalista comentou: “Temos de tirar os catadores da rua e colocá-los em galpões de recicláveis”, onde terão condições mais dignas de trabalho.
Sim, essa é uma opção. Mas não deve ser a única. Deveria haver um programa nacional prevendo a qualificação desses catadores, permitindo que eles possam escolher se querem ir para um galpão de reciclagem ou aprender outras profissões. Dessa forma, para tirá-los da rua e dar qualificação, um emprego com carteira assinada e mais renda a eles. Se a vida não deu a eles outras oportunidades, ainda dá tempo de mudar isso.
Mas é preciso vontade política e trabalho pesado e contínuo.
Claro que é muito difícil mudar essa realidade dura e complexa. Mas o problema é que hoje, os governos e a sociedade nem estão tentando mudá-la.
É por isso que comento: nem deveria ser permitida a opção de uma pessoa puxar um carrinho pesadíssimo para buscar a sobrevivência da família. Só assim, obrigaria governos a fazer com que essas pessoas buscassem outras saídas menos insalubres.
Não há como proibir nem se deve fazer isso com os catadores que estão nas ruas hoje. Mas deve-se criar um programa para que, daqui a 10 ou 15 anos, a gente não precise ver nenhum catador puxando carroça. Eles deveriam estar trabalhando em lojas, escritórios, órgãos públicos, escolas, universidades, seja como funcionários ou donos. Jamais puxando carrinho.
Deve-se combater a exploração de cavalos que puxam carroças, mas antes, tirar as pessoas da frente de um carrinho.