O clima de tensão em Brasília, com muitas trocas de farpas entre os presidentes dos poderes, e discursos de ameaça à democracia, deixam muita gente em dúvida se existe ou não risco de um golpe militar. Nesta segunda-feira, na estreia da Rádio CDN, o programa F5 fez uma entrevista exclusiva com o ex-ministro da Defesa e ex-presidente do STF e do TSE, Nelson Jobim. O santa-mariense, que segue tendo muitos contatos políticos e no setor militar, acredita que "por enquanto, é zero" o risco de um golpe militar no Brasil.
Confira, abaixo, um trecho da entrevista?
Rádio CDN - O senhor, por ter sido ministro da Defesa e conhecer muitos oficiais e militares, além dos meandros políticos em Brasília, teme que possa haver um golpe militar?
Nelson Jobim - Não. Os militares de hoje, inclusive os da época que eu era ministro da Defesa, eles são profissionais. Você não tem mais militares políticos, como nós tínhamos na época de 1964 e antes de 64. Antes de 64, os militares tinham uma atividade política muito forte. E foi exatamente o presidente Castello Branco que, alterando a legislação de carreira do Exército, reduziu o tempo de permanência no generalato. Na época, os generais eram políticos. Mas por quê? Porque ficavam muito tempo. O Cordeiro de Farias, que virou no final marechal, ficou 22 anos como general. E aí você formava guetos políticos, digamos, dentro do Exército, que transponhíam-se à atividade política civil. O Cordeiro de Farias foi interventor no Rio Grande do Sul, na época de Getúlio foi em Pernambuco. Tinham outros que tinham atividade política. O Lott tinha uma atividade política forte. General Kruel também. Até porque, por determinado tempo, ele foi deputado federal depois de reformado. Então, você tinha esses personagens por causa do tempo que ficavam no generalato. Até porque o Castello reduziu isso para 12 anos, e começou a desaparecer o viés político dos generais, e eles não fizeram mais guetos, daí houve uma renovação rápida. Tanto é que os oficiais generais do tempo que eu fui ministro da Defesa, que eu saí de lá em 2011, hoje eles não estão mais, já estão na reserva. Todos os que estão hoje, eu os conheci como coronel ou, no máximo, coronel de Brigada. Agora são todos generais de Exército. Não vejo nenhuma intenção de participação nisso. Não há interesse nisso. Há, evidente, uma tentativa do presidente Bolsonaro de afirmar que tem o Exército, mas não tem. A finalidade do Exército é a sua função de legalidade, tranquila.
O que chama a atenção e, aí vocês precisam ficar atentos, é a aproximação que o presidente Bolsonaro está fazendo com as polícias militares. Ou seja, ele tem uma aproximação, coisa que nunca foi feita por um presidente da República ou ministro da Defesa, que é comparecer, por exemplo, em formaturas nas escolas militares. Não se faz isso. Tem de ficar atento, mas não vejo problema nenhum.
Rádio CDN - Qual a chance de um golpe militar no Brasil hoje?
Nelson Jobim - Por enquanto, é zero.