Alexandre Schawarzbold

Dezembro vermelho e as AIDS

Estamos terminando o mês, mas em alusão ao Dia Mundial de Luta Contra a Aids, celebrado em 1º de dezembro, gostaria de tomar um pouco mais de espaço da coluna para dar visibilidade e comentar sobre os avanços da ciência que impactam no cuidado das pessoas que vivem com o vírus HIV. 


Aliás sempre é tempo, pois a epidemia relacionada a esse vírus causador da AIDS está ainda muito viva entre nós e presente nas faces de muitas pessoas em diferentes grupos sociais, etários e culturais.


Ainda muito associado a determinados comportamentos, a aquisição do vírus HIV, no entanto, não “poupa” categorias sociais e gêneros. 


Na região sul, por exemplo, segundo o Boletim Epidemiológico da AIDS do Ministério da Saúde de 2023, cerca da metade dos casos em homens de 13 anos ou mais estão associados a aquisição heterossexual ou pelo uso de drogas.

 
Os dados epidemiológicos ruins no país, e em especial, no Rio Grande do Sul, são sustentados por profundas desigualdades sociais e pela permanência de preconceitos sobre a doença. Atualmente abordamos “populações-chave”, em substituição ao antigo termo “grupos de risco”, para tratar de pessoas que tenham probabilidade maior de se expor a comportamentos de risco devido a diversas circunstâncias sociais e comportamentais.


Dados vergonhosos do estado

O boletim do MS acende uma alerta sobre os dados da AIDS no RS. Ainda somos o primeiro estado em mortalidade. Em 2022, o ranking referente às taxas de detecção mostrou o RS como o sexto de maior índice no país: com 24 casos por 100 mil habitantes. Os estados líderes nesse índice são Roraima (34,5), Amazonas (32,3), Pará (26,3), Santa Catarina (25,3) e Amapá (25,0). A média nacional dessa taxa é 17,1. Ou seja, estamos ainda acima da média nacional.

 
Já em relação ao coeficiente de mortalidade, o RS é o maior no país: 7,3 óbitos por 100 mil habitantes, enquanto a média nacional é de 4,1. Em 2022, no Estado, foram 1.130 mortes por causa básica notificada como AIDS.

 
Você sabia que entre as capitais do país, Porto Alegre é a que apresentou maior índice no levantamento dos últimos cinco anos (de 2018 a 2022) que leva em consideração as taxas de detecção na população geral, mortalidade, e detecção em menores de cinco anos de idade?


Conceito I=I, risco zero e ações preventivas

A alta mortalidade no Estado, a maior do país, pode estar relacionado a uma maior proporção de diagnósticos tardios da infecção pelo HIV. Isso exige uma abordagem preventiva mais ampla, que alcance a população como um todo e não apenas grupos específicos.

 
Entre essas ações estão a ampliação da testagem rápida, a disponibilização de PrEP (profilaxia pré-exposição ao HIV), PEP (profilaxia pós-exposição ao HIV) e os tratamentos antivirais altamente efetivos que controlam a carga viral e mantêm o HIV não detectado no sangue de pessoas que vivem com o vírus, fazendo com que elas assim NÃO mais transmitam.

 
Sobre isso o MS lançou uma Nota Técnica nessa semana para que médicos e equipes de saúde abordem o tema da supressão viral e “risco zero” de transmissão sexual. E para isso, é preciso estar familiarizado com o conceito “I=I”, isto é, “Indetectável = Intransmissível”. Atingir e manter a carga viral indetectável é essencial para evitar o desenvolvimento de doenças associadas a AIDS e promover qualidade de vida. Zero riscos, mais qualidade de vida.


PrEP- prevenção anterior a situações de risco de exposição do HIV

Abordo essa estratégia aqui em separado porque me parece fundamental dentro das ações preventivas combinadas no enfrentamento do HIV/AIDS. E porque temos esse importante Programa em nossa cidade e ele é muito pouco abordado ou acessado pelas populações alvo que dele podem se beneficiar.

 
Determinados segmentos populacionais, devido às suas vulnerabilidades específicas, estão sob maior risco de infecção pelo HIV. Essas populações, por estarem sob maior risco, devem ser priorizadas na oferta de PrEP no SUS.

 
A PrEP deve ser considerada para pessoas a partir de 15 anos, sexualmente ativas e que apresentem contextos de risco aumentado de aquisição da infecção pelo HIV. E aqui um detalhe sobre os adolescentes. A eles deve-se garantir o acesso a serviços e consultas de saúde sem a necessidade de presença ou autorização de pais ou responsáveis, com direito à privacidade e sigilo.

 
Cuidar-se, portanto, vai além do uso de preservativos, é testar-se regularmente e fazer uso de outras estratégias da prevenção e, em caso de exame positivo, iniciar o tratamento o quanto antes.


Feliz Ano Novo!

Termina mais um ano, quero agradecer a todos os leitores que puderam me dar a honra de ler e enviar comentários assim como ideias de temas para a coluna. Espero que estejamos juntos no próximo ano e que esse seja repleto de saúde e paz entre os homens.

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