“A gente trabalha 30 anos, chega um cara desses e tira o nosso dinheiro”, desabafa vítima de golpe de construtora em Santa Maria

Deni Zolin e Vitória Parise

“A gente trabalha 30 anos, chega um cara desses e tira o nosso dinheiro”, desabafa vítima de golpe de construtora em Santa Maria

Foto: Vinícius Machado (Diário)

A maioria dos contratos foram fechados entre 2011 e 2017, com promessa de entrega entre 2019 e 2020.

Um investimento que terminou com uma história cheia de controvérsias e um rombo de R$ 200 mil. Essa é a situação de apenas duas das mais de 1,1 mil pessoas lesadas pela Conceitual Construtora, que não entregou nenhum dos quatro prédios vendidos em Santa Maria, conforme a reportagem do Diário apurou com exclusividade.

Assim como grande parte dos envolvidos, o casal só descobriu o golpe após a morte do dono da construtora, em novembro de 2023, em um acidente de trânsito na BR-158, quando bateu o carro em uma pedra. Segundo eles, muitas pessoas com mais de 80 anos teriam investido nos apartamentos para ficar próximo do hospital e, assim, realizar os exames com mais facilidade e rapidez. As vítimas ainda estimam que o prejuízo para os compradores dos imóveis — três de alto e um de médio padrão — somam quase R$ 70 milhões.


EXCLUSIVO: no que pode ser o maior golpe imobiliário do Estado, construtora teria deixado mais de 1,1 mil pessoas sem imóveis


Nesta sexta-feira (12), em entrevista ao jornalista e colunista Deni Zolin, as vítimas explicaram como foi o processo desde a compra do apartamento, há quase 5 anos. Confira, abaixo, o relato: 


Quando que vocês resolveram comprar esse apartamento na planta, deq uanto foi gasto? Vocês chegaram a pesquisar sobre a empresa? 

— A gente procurou um corretor, nós estávamos procurando outros apartamentos para investir e, aí, ele nos levou nesse que "tava" na planta e já estava pronto para ser entregue praticamente, né? Isso foi em 2019. Nós compramos em fevereiro e a promessa de entrega era em maio. Então, o apartamento estava praticamente pronto, e a gente resolveu comprar. Como tinha as economias, fizeram a negociação e pagamos à vista o apartamento. Passou o mês de maio, ficou para junho, julho, foi indo, se arrastou até que chegou no final do ano. Veio fevereiro, já fazia um ano e nada de entregar. E, aí, já começou a cobrar a multa dele. Ele pagava um pouco. E pouco ele deixava vencer três, quatro meses. 


Quais eram as desculpas?

— Primeiro faltava uma peça para o elevador, depois o sistema de Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (PPCI), depois ele alegou que tinha outros entraves que estavam atrasando, mas que a obra não estava parada. Perguntei por que ele não entregava em vez de estar pagando a multa, que isso aí onerava mais o custo da obra, mas ele nunca me dava essa resposta, né? Ele negociava os apartamentos, renegociava porque tinha investidores que iam lá e aí ele entregava outro apartamento, por isso, tem duplicidade. Alguns apartamentos foram vendidos até três vezes, porque ele pegava mais dinheiro do investidor e dava outro apartamento. Nós tentamos fazer uma negociação de receber outros imóveis, com escritura, tudo já pronto, terreno ou outro apartamento usado na época, mas não chegamos a concretizar nada.

E o contrato?

— O contrato era bem redigido, bem feito, tudo certo. Porém, existem umas diferenças de metragem na divisão dos apartamentos. Então, cada apartamento tem uma medida diferente, e isso aí dificulta o registro no cartório de imóveis. Ele fez isso aí de caso pensado, porque todos teriam que fazer um ajuste que dependeria da assinatura de alguém responsável da empresa, no caso, ele, para assinar no cartório e liberar.

Qual o sentimento depois de tudo isso?

— A gente junta, trabalha 30 anos para juntar uma economia para fazer um adendo na aposentadoria, porque a idade, chega, né? A gente trabalha e de sol a sol, e aí chega no final, um cara desses aí vem e tira o nosso dinheiro. E a gente sabe que isso aí vai cair na justiça e que não vai ter uma resolução rápida, né? E se for resolvido, nunca vai ser restituído esse valor que a gente perdeu, porque o maior valor é justamente esse sentimento de perda, de ser roubado, legalmente, vamos dizer assim. Ele era conhecedor da legislação e de todo o meio jurídico, ele se apoiou na morosidade (demora) da Justiça, né? Então, ele sabia e tava com tudo planejado…


Vocês esperam receber esse valor um dia?

— A gente acredita que, se realmente houver justiça, nós vamos receber. O ideal seria receber o apartamento, o que nós queremos é receber o apartamento, que está praticamente pronto. E agora devido a essa situação de não ter abertura de inventário, pode que isso venha numa outra situação, e aí sim, nós sermos prejudicados por uma situação que ele criou. 


O Diário entrou em contato com a Conceitual Construtora, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.  


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