Raio X: entre 10 praças visitadas, nenhuma está completamente conservada em Santa Maria

Raio X: entre 10 praças visitadas, nenhuma está completamente conservada em Santa Maria

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Praça dos Bombeiros, no Bairro Nossa Sra. de Fátima

As condições dos espaços públicos de Santa Maria são debatidas há muito tempo pela população e pelo poder público. Hoje, quem transita e frequenta as praças da cidade, por exemplo, percebe que as estruturas estão vandalizadas, deterioradas e sem manutenção. Além dos crimes nestas áreas verdes, que causam insegurança, também é frequente a reclamação de moradores com relação à equipamentos danificados, iluminação ineficiente e abandono dos espaços que deveriam servir como opção de lazer e esporte para os santa-marienses.

Em função desse cenário, o Diário percorreu dez praças em diferentes regiões para conferir o estado atual destes locais e ouvir as demandas dos moradores. A prefeitura também foi questionada sobre a possibilidade de novos projetos de revitalização das áreas verdes de Santa Maria.

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Santa Maria conta com cerca de 50 praças, conforme levantamento da prefeitura. Os bairros Camobi (13 praças), Santa Marta (6), Centro (5) e Nossa Sra. de Lourdes (5) concentram a maior parte destes espaços.

Dentre os 50 locais listados, o Diário elencou dez áreas verdes que contemplam todas as regiões da cidade. Durante o trajeto, foram analisados estrutura; lazer e esporte; iluminação; monumentos; vegetação; e revitalização.

De modo geral, nenhuma das dez praças está plenamente conservada. Com relação à estrutura, na maioria, os bancos estão quebrados e sujos. Na Praça Dom Antônio Reis, por exemplo, pedaços de concreto de sustentação dos assentos estão espalhados por todo o local. Já na Praça Reinaldo Fernando Coser, no Patronato, além dos bancos estarem caídos e deteriorados, as escadas também apresentam rachaduras e limo.

Praça Reinaldo Fernando Coser, no PatronatoFoto: Nathália Schneider (Diário)

Em algumas áreas verdes, não há lata de lixo para descarte de resíduos e naquelas que ainda possuem a lixeira, o equipamento está vandalizado. Em poucas, foram encontradas lixeiras intactas e com sacolas, como na Praça do Poeta, em Camobi.

Na maior parte das praças, o calçamento é irregular, tendo desníveis, pedras soltas ou quebradas. Dentre as que chamam atenção neste aspecto, está a Praça Saturnino de Brito, no Centro. Quem passa por lá, percebe que há elevações do terreno da calçada no entorno, além da falta de partes do piso em pontos da praça. Conforme taxistas que trabalham no local, é comum ver pessoas tropeçando e até caindo em função do calçamento.

– A calçada precisa ser toda retirada, não só fazer remendos. Acontece do pessoal mais idoso tropeçar e cair, ou alguém vai entrar no táxi pisa em falso e se machuca. A praça é muito desleixada, também não tem iluminação pública, falta policiamento. Precisamos de uma praça reformada, se possível, todas as praças da cidade revitalizadas. À princípio, (a Saturnino) poderia ficar que nem a Praça do Caridade, que ficou bem reformada – conta o taxista Robson de Siqueira Machado, 46 anos.

Praça Mariazinha Penna, na Tancredo NevesFoto: Nathália Schneider (Diário)

O relato do trabalhador sobre insegurança também é compartilhado por outras pessoas que estão diariamente na Praça Saturnino de Brito. A comerciante Rosa Nara Nunes Lima, 51 anos, trabalha no armazém localizado no espaço e conta que o estabelecimento já foi alvo de assaltos, o que, segundo ela acaba causando transtornos e desmotivação no trabalho.

– Trabalho aqui na praça faz tempo e vejo que está bem abandonada. A estrutura está feia, as calçadas estão horríveis, falta iluminação, sem comentar sobre a segurança, que é bem precária. Neste mês de agosto, já fomos assaltados duas vezes de madrugada – lamenta Rosa.

Mesmo com câmeras de segurança, instaladas em 2011 na praça, não são somente assaltos que são registrados na Saturnino de Brito. Inúmeras vezes, o Diário noticiou que o local foi palco de brigas, agressões e mortes.

Insegurança no período da noite também é sentida pelos frequentadores da Praça Tenente João Pedro Menna Barreto, conhecida como Praça dos Bombeiros. De acordo com a vizinhança, as lâmpadas e os refletores são insuficientes para iluminar a praça. Uma moradora disse ao Diário que já fez a abertura de dez protocolos de reclamação na prefeitura sobre a iluminação. Além do furto dos refletores e dos cabos elétricos, no início de agosto deste ano, um idoso foi flagrado furtando 50 pedras do calçamento da praça.

Bancos e lixeiras depredados na Praça Saturnino de BritoFoto: Nathália Schneider (Diário)

A Praça Hermenegildo Gabbi, no Bairro Rosário, não tem nenhum poste de iluminação próprio, assim como, a Praça Mariazinha Penna, na Tancredo Neves, que está localizada ao lado do Ginásio Oreco e conta com luz proveniente das lâmpadas laterais do pavilhão. Esse espaço, inclusive, é o que mais possui áreas de esporte, dentre os visitados pela reportagem. Porém, apenas uma das quadras de futebol está conservada. A pista de skate está suja, com rachaduras e sem as barras de metal. Uma estrutura para quadra também está abandonada.

Abandono de espaço para prática de esportes também foi verificado na Praça Estado de Israel, no Bairro Salgado Filho. No local, ainda foi encontrado descarte irregular de lixo.

Na maioria das praças, as academias ao ar livre estão com equipamentos faltando, enferrujados e quebrados. Um ponto positivo de lazer e esporte são os playgrounds para as crianças. Em 2018, mais de 30 praças da cidade receberam kits de brinquedos novos. Passados cinco anos, a maioria destes espaços está conservado, tendo apenas algumas deteriorações de pintura.

Uma exceção neste aspecto é a Praça Dom Antônio Reis. Além da academia estar danificada, os brinquedos estão entortados, enferrujados e com peças faltando. Um dos moradores, Tadeu Nunes, 61 anos, comenta que, a partir do pedido da vizinhança, a grama é cortada frequentemente e a praça conta com iluminação. Porém, ele avalia que em outros pontos, o estado do local é precário.

– A limpeza de grama teve nesses dias e a iluminação é cuidada, pedimos e a prefeitura vem arrumar. O abandono, na verdade, é das lixeiras, dos aparelhos (da academia) e dos bancos. No final de semana vem bastante gente na praça tomar chimarrão e trazer as crianças brincar – diz o aposentado, que mora há mais de 30 anos no bairro.

Brinquedos vandalizados na Praça Dom Antônio ReisFoto: Nathália Schneider (Diário)

Já com relação aos monumentos, a Praça General Osório, conhecida como Praça do Mallet, chama a atenção pelo furto e depredação, ao longo do tempo, de várias estruturas históricas, como placas, estátuas e bustos.

O que diz a prefeitura

O superintendente de praças, parques, canteiros e jardins, Roberto Dotto, afirma que a manutenção das praças é feita a partir de um trabalho compartilhado com outras secretarias da prefeitura. Além da pasta de Meio Ambiente, que cuida de questões relacionadas à arborização e vegetação, o setor de Infraestrutura é responsável pela iluminação, calçamento, bancos e limpeza; a Cultura, pelos monumentos; o Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp) pelo videomonitoramento; e a secretaria de Esporte e Lazer pelos brinquedos e academias das praças.

Com relação à limpeza, a prefeitura possui contrato com empresa, que realiza serviço terceirizado de corte de grama e recolhimento de resíduos das praças. Por meio de um convênio com a Susepe, uma equipe de apenados também é encarregada da limpeza da Praça do Mallet e de outras na proximidade.

Já a iluminação, Dotto destaca que o problema acontece em função, principalmente, dos furtos e do vandalismo. Na Praça dos Bombeiros, o superintendente afirmou que, em breve, deve ser refeita a iluminação do local. Ele ainda lembra que esse não é um crime recorrente apenas nas praças, mas em avenidas centrais da cidade. Disse também que, por isso, a Guarda Municipal e a própria secretaria não tem como estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

Sobre a possibilidade de reformas gerais ou reparos são necessários serviços mais complexos e não há perspectiva futura para novos projetos além daqueles que já estão em andamento, como na Praça Saldanha Marinho.

Praça do MalletFoto: Nathália Schneider (Diário)

Uma possibilidade de revitalização está sendo estudada pela prefeitura para a Praça Estado de Israel, no Salgado Filho. Conforme Dotto, a proposta de renovar o local é da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), de Santa Maria. Isso pode ser feito por qualquer pessoa, empresa, associação ou instituição que tenha interesse em adotar uma praça. O programa Santa Maria de Todos Nós é voltado para essas parcerias, que não preveem apenas obras desse porte, mas também cuidados de manutenção e proteção dos locais.

Foi por meio desta iniciativa, por exemplo, que a Praça Dr. Astrogildo de Azevedo pode ser revitalizada. A partir de uma parceria público-privada com a participação das empresas Unicred Ponto Capital e Unimed Santa Maria, foram investidos cerca de R$ 1 milhão no novo espaço. Agora, o lugar tem novos brinquedos, academia, chimarródromo, espaço para pets, jardim vertical, iluminação com leds, bicicletário e outras estruturas que fazem com que muitas pessoas frequentem o local ao longo de todos os dias da semana.

Para o superintendente, o programa é uma forma de incentivo para que as praças possam ter um novo aspecto na cidade. Porém, Dotto salienta que é preciso educação da população para que esses espaços sejam mantidos ao longo do tempo:

– É obrigação do município entregar um espaço para a população, mas precisamos da contrapartida das pessoas também. O grande problema em Santa Maria, hoje, infelizmente, é o vandalismo. Se não tivesse o vandalismo, a Praça dos Bombeiros ainda estava perfeita, a Praça Dr. Astrogildo de Azevedo foi revitalizada e logo picharam um banco. Temos que tentar evitar essas situações de vandalismo porque isso é uma questão de cultura e educação.

Academia na Praça dos BombeirosFoto: Nathália Schneider (Diário)

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