“O sentimento é de indignação, mas também penso que poderia ter sido muito pior”, conta José Paulo Groff que recebeu alta após queda de elevador na UFSM

Thais Immig

Após cinco dias hospitalizado, José Paulo Groff, 26 anos, recupera-se em casa, na companhia da família, das lesões e do trauma vivido na quarta-feira da semana passada (17). Ele foi uma das vítimas que estavam no elevador que despencou na Universidade Federal de Santa Maria e deixou cinco feridos. Em entrevista ao Diário nesta quarta (24), ele deu detalhes sobre o momento do acidente, o atendimento e as mudanças na rotina, necessárias nesse momento de recuperação.


O momento do acidente 

O acadêmico de filosofia José Paulo, três colegas e a professora chegaram no prédio 40 C para realizar uma atividade prática do grupo de pesquisa do qual fazem parte. Logo, perceberam um barulho estranho vindo do elevador, como se estivesse travando. José lembra de ter comentado com os colegas que estava “faltando um óleozinho nas engrenagens”. Uma das colegas, inclusive, já estava indo pelas escadas quando foi avisada de que o barulho era comum no prédio:

– Minha colega, que já estava indo pelas escadas, acabou voltando e subiu com a gente de elevador. Depois, ouvimos de novo um barulho muito forte, até que deu um estalo grande e eu só lembro de cairmos no chão. Apesar do baque, eu não perdi a consciência em nenhum momento – lembra José Paulo.

Quando o elevador despencou, o jovem conta que a primeira coisa que lembra foi do impacto e da poeira que subiu quando o piso do chão se abriu. Logo, sentiu uma dor muito forte nos dois tornozelos. Quando tirou o tênis, ainda no elevador, viu que o osso do pé direito estava levantado.

– Eu vi que tinha, no mínimo, quebrado o pé. Lembro que na hora tirei minha camiseta para tentar abanar eles porque estava muito quente. Ninguém conseguia levantar, todo mundo ficou sentado dizendo ‘ah, não fica em cima do meu pé, não fica em cima da minha perna’ – conta.

O Diário tentou contato com a fabricante do elevador, mas não obteve retorno. 


Atendimento 

As vítimas ficaram alguns minutos no elevador até a ambulância e o resgate chegarem, feito pelo Corpo de Bombeiros, o Samu e o Serviço de Emergência Universitário (SEU). Ele foi encaminhado para o Hospital Universitário de Santa Maria, local onde ficou internado até receber alta médica. Ainda na ambulância, José lembra de ser acalmado e medicado pelos profissionais. Por conta de uma fratura no pé direito, foi encaminhado para o bloco cirúrgico, onde realizou o procedimento por volta da 1h30min da madrugada de quinta-feira (18).

Durante a espera pela cirurgia, esteve na companhia da irmã Sara Maria Groff, 28 anos, e dos pais, que vieram de Independência assim que souberam do acidente:

– Minha mãe falou que, quando soube, ficou em choque. Meu pai também estava bastante preocupado. Recentemente, a gente perdeu um primo, que era da minha idade, por fatalidade. Então, foi bem difícil para eles. Minha mãe disse que não conseguia nem chorar, só queria ir pro hospital o mais rápido possível. 

Foto: Arquivo Pessoal


Recuperação 

José recebeu alta nesta segunda-feira (22), após cinco dias no Husm. Por conta da lesão, ele vai ficar 21 dias sem colocar o pé no chão e passar por um longo processo de reavaliações e fisioterapia nos próximos meses. Ele se recupera na casa dos pais, em Independência.

– A cicatrização está indo bem. Uma vez por dia vou no postinho fazer curativo e estou tomando anti-inflamatórios. Depois de 21 dias, vou voltar para Santa Maria para avaliar como está a recuperação. Como moro em um prédio com muitas escadas, preferi vir para a casa dos meus pais, pela comodidade – afirma José.

O jovem conta que o acidente também significa uma mudança drástica na rotina. Antes, ele tinha uma rotina bem ativa, ia pra academia regularmente e praticava atividades físicas, o que agora não será mais possível. Além do cuidado com a recuperação, o jovem afirma que o foco está em entender tudo que aconteceu e tomar as medidas cabíveis:

Primeiro, eu sinto muita raiva e bastante indignação de acontecer isso dentro de um ambiente que deveria ser de estudos, de calmaria. Foi uma negligência, tanto da universidade, quanto da empresa dos elevadores. Por isso, já estou indo atrás dos meus direitos. Mas também penso que poderia ser algo muito pior. Se fosse uns andares acima, quem sabe a gente nem estaria aqui ou teria lesões mais sérias. Às vezes me dá uma tristeza porque eu sou uma pessoa muito ativa, fora que o exercício é bom para a ansiedade e, no momento, minha válvula de escape está sendo o chocolate mesmo.

José e os colegas seguem matriculados nas disciplinas do semestre e farão as atividades a distância, pelo Moodle. Conforme o jovem, a coordenadoria do curso de Filosofia está em contato para oferecer o auxílio necessário para que não percam o semestre. As vítimas também foram procuradas para encaminhar o acompanhamento psicológico com profissionais da UFSM. 


Relembre o caso 

​O elevador caiu do segundo para o primeiro andar no prédio 40C, no campus da UFSM em Camobi na tarde de quarta-feira (17). No momento da queda, havia quatro pessoas dentro do local: uma professora e quatro alunos, que ficaram feridos. Na última quinta-feira (18), o Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS) divulgou um comunicado oficial informando que houve o rompimento de cabos no momento da queda do elevador. Todas as vítimas já receberam alta médica e se recuperam em casa.


Investigação

Por se tratar de uma ocorrência dentro da área da União, a queda do elevador no prédio 40 C está sendo investigada pela Polícia Federal (PF). Na última quinta-feira (18), uma primeira inspeção preliminar, com registros fotográficos e coleta de informações foi feita no espaço ainda na noite do fato. Nesta semana, um policial federal de Porto Alegre, especializado em Engenharia Mecânica, esteve em Santa Maria para fazer avaliações que ajudarão no resultado da perícia, que deve sair no prazo de 30 dias. Além disso, o técnico que realizou a última manutenção no equipamento já foi ouvido. Nos próximos dias, as cinco vítimas e a empresa responsável pela instalação também devem prestar depoimento.

Após a visita do policial especializado, o prédio foi liberado, com exceção do elevador que segue isolado. O pró-reitor de Infraestrutura (Proinfra), Mauri Loedir Löbler, informou que os outros dois equipamentos fornecidos pela empresa foram desativados por questões de segurança. Os três modelos, instalados há cerca de três meses pela empresa paulista, são os mais novos de toda a instituição. Um deles fica localizado no prédio 74 E do campus sede, e o outro no prédio Q5SA2 no campus de Cachoeira do Sul.


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