Rock, memória e juventude: a eterna batida de Os Fugitivos

Vitória Sarturi

Rock, memória e juventude: a eterna batida de Os Fugitivos

Foto: Vitória Sarturi

Há sons que não se perdem no tempo. Eles ecoam pelas ruas, atravessam salões de bailes e permanecem vivos na memória de quem dançou, sonhou e se apaixonou no ritmo da sua batida. Assim é o legado da banda Os Fugitivos – formada na década de 1960, em Santo Ângelo, na região noroeste do Rio Grande do Sul. Ainda no clima de 13 de julho, quando o mundo celebra o Dia Mundial do Rock, a história do grupo ganha mais sentido: são mais de cinco décadas levando o rock gaúcho adiante, com coragem, criatividade e a força de quem acredita na música como trilha de encontros. 

A história da banda teve início em 1966, quando cinco adolescentes do Colégio Santo Ângelo – João Alberto Ghisleni (Beto), Paulo Roberto Tissot, Cláudio Kath, Jorge Luiz Burtett e Enir Straliotto – inspirados por uma série de TV chamada Os Fugitivos, decidiram montar uma banda. O início foi tímido e cheio de incertezas, tanto que Cláudio deixou o grupo. Mas o entusiasmo juvenil fez com que, em pouco tempo, os integrantes estivessem entre os nomes mais promissores da cidade. 

+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp

A partir de 1967, Os Fugitivos conquistaram espaço na cena da Jovem Guarda, com participações frequentes em festivais e bailes na região. Após a saída de Paulo Tissot, o grupo ganhou novo fôlego com a entrada de José Alfredo Fonseca, chamado de “Zéka”, premiado como “Canário de Ouro” pela TV Gaúcha. Em 1971, a banda respirou ares internacionais, quando venceu o Festival de Música Beat, em Possadas, na Argentina, com a canção Aquarius / Let The Sunshine In, de Johnny Mathis. A conquista internacional marcou uma nova fase, reforçada pela chegada do guitarrista Anibaldo Rohenkohl, que trouxe ao grupo o som potente e distorcido que a década exigia. 

Em meio a agendas lotadas e plateias calorosas, o repertório da banda era composto majoritariamente por covers de canções internacionais, aprendidas “de ouvido”, por tentativa e erro durante os ensaios. Questionado pela reportagem sobre sua música favorita, o tecladista, vocalista e Engenheiro Civil, Jorge Luis Burttet, 72 anos, não hesita:

 – Fizemos parte da mudança e fomos nos adaptando. Com o tempo, passamos a tocar muito Beatles. Então, minha música favorita é Hey Jude – comenta o músico.


Santa Maria

No final de 1971, Os Fugitivos tomaram uma decisão que mudaria os rumos da banda: transferiram-se para Santa Maria em busca de novas oportunidades. A mudança representou não apenas um deslocamento geográfico, mas um salto simbólico rumo à profissionalização, com os integrantes ingressando em cursos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Na nova cidade, dividiram palcos com nomes consagrados, como Os Mutantes – com quem se apresentaram e receberam elogios de Rita Lee. 

A vida o coração do Estado era intensa: moravam juntos em um sobrado na Rua Coronel Niederauer, onde conciliavam ensaios, estudos e o cotidiano de jovens em formação. – Eu devo parte do meu sucesso profissional aos aprendizados no meu tempo de banda. Com Os Fugitivos aprendi a determinar um objetivo, respeitar todas as pessoas e trabalhar com diferentes públicos – relembrou o músico e Engenheiro Agrônomo, Ildo Pedro Mengarda, 68 anos. 

Foto: Reprodução

Em 1974, a entrada do trompetista e percussionista Denis Kissner Ferreira, conhecido como “Peninha”, garantiu mais versatilidade às apresentações, que transitaram entre bailes populares e repertórios sofisticados. A trajetória seguiu marcada por trocas na formação e qualidade musical crescente, culminando, em 1976, com a turnê ao lado da lendária banda Os Incríveis, em 17 bailes pelo Brasil — fase em que Here Comes The Sun, dos Beatles, se tornou símbolo do grupo. No entanto, apesar do sucesso, em 1982, já formados em suas respectivas áreas, os integrantes decidiram encerrar as atividades. Mas o silêncio seria apenas temporário.


Retorno do sonho

Vinte anos depois, em 2002, o jornalista João Batista Santos provocou o reencontro. No palco do Bar Arena, em Santo Ângelo, Os Fugitivos se reencontraram com sua história e com seu público. O sucesso foi tão grande que o reencontro virou tradição: 26 edições até 2025, com shows anuais, reencontros emocionantes e um CD gravado em estúdio próprio, em Santa Maria, eternizando as canções mais queridas. 

Luiz e Isa Martins, casal icônico da formação mais recente, deixaram a banda após décadas de dedicação. No lugar de Luiz, entrou Dorva Saibel, baixista e vocalista de Piçarras (SC), que manteve viva a chama do grupo. A formação atual da banda conta com: José Alfredo Fonseca, 72 anos, voz e violão; Ildo Pedro Mengarda, 69 anos, voz e guitarra; Beto Ghisleni, 75 anos, bateria e vocal; Jorge Luis Burttet, 72 anos; Enir João Straliotto, 73 anos, voz e violão; Anibaldo Rohenkohl, 71 anos, guitarrista e vocal; Denis Kissner Ferreira, 70 anos, vocal e percussão e Dorva Seibel, 59 anos, contrabaixo e vocal.

Foto: Reprodução

Atualmente, Os Fugitivos não cobram cachê, tocam por amor. Com a maioria dos integrantes morando em outros Estados e, até mesmo, em outro país, eles viajam milhares de quilômetros para atender o chamado da música, como se o tempo tivesse feito apenas uma pausa há duas décadas atrás. Eles se apresentam em eventos beneficentes, recebem alimentação, estadia e carinho de uma plateia que os vê como algo maior do que uma simples banda, mas um elo entre gerações.

 – O reencontro dos Fugitivos não são só músicas, são a fraternidade de uma banda e a alegria de estarmos com as nossas famílias, vivendo a oportunidade de, como numa magia, voltar no tempo. – comentou o músico e Professor de Educação Física, Beto Ghisleni, 75 anos.

O rock envelhece?

Foto: Reprodução / Ronald Mendes

O rock surgiu nos Estados Unidos entre o final da década de 1940 e o início da década de 1950, com raízes em estilos musicais como o blues, o rhythm and blues e o country. Desde então, tornou-se trilha sonora de gerações que buscavam liberdade, rebeldia e identidade. Mesmo com as transformações tecnológicas e estéticas ao longo das décadas, suas guitarras distorcidas, batidas marcantes e letras intensas continuam a emocionar públicos de todas as idades. De Elvis Presley à Rita Lee, dos Beatles à Legião Urbana, o rock soube se reinventar sem perder sua essência. Por isso, envelhecem os músicos, amadurecem os fãs, mas o rock continua vibrando, jovem, nos palcos, nas memórias e nos reencontros como o dos Fugitivos.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Protesto em apoio a Jair Bolsonaro reúne moradores em Itaara Anterior

Protesto em apoio a Jair Bolsonaro reúne moradores em Itaara

Juíza determina internação provisória de adolescente após ataque em escola no Norte do RS Próximo

Juíza determina internação provisória de adolescente após ataque em escola no Norte do RS

Diário de Santa Maria