6 meses depois do surgimento

Surto de toxoplasmose está estabilizado na cidade, dizem autoridades

Dandara Flores Aranguiz

Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

Há exatos seis meses da confirmação oficial de que Santa Maria vive um surto de toxoplasmose, uma notícia positiva é divulgada: o surto está estabilizado. De acordo com a secretária municipal de saúde, Liliane Mello Duarte, a procura de pacientes com sintomas suspeitos da doença diminuiu cerca de 90% nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da cidade de agosto até o momento. Segundo o superintendente de Vigilância em Saúde, Alexandre Streb, o pico da epidemia ocorreu entre março e abril.

- Em janeiro, tínhamos cerca de cinco casos confirmados por mês de toxoplasmose na cidade. É normal, após uma situação de surto e durante a estabilização, que tenhamos mais notificações. Ainda chegam casos de investigação e ainda não podemos afirmar que vivemos em situação endêmica ou que saímos do surto, mas temos um controle maior e uma estabilidade - diz Streb.

Medicamento para tratamento de toxoplasmose que estava em falta chega em Santa Maria

Conforme o superintendente, o surto está estável desde agosto. Nos últimos meses, o número de notificações e de confirmações também diminuiu. São cerca de 20 a 30 notificações por mês, que geraram, aproximadamente, cinco casos confirmados em setembro e cinco em outubro.

A percepção também é compartilhada pelos médicos da rede particular. Conforme a infectologista Jane Costa, a procura por atendimento nos consultórios voltou ao patamar normal:
- De toxoplasmose aguda, vem um paciente por semana, às vezes a cada 15 dias. As pessoas estão se cuidando mais, e o paciente, agora, nos procura para avaliação apenas se ele é direcionado. Primeiro, eles vão nos postos de saúde. Ainda temos gestantes do surto e casos congênitos da doença, mas a procura normalizou.

PREVENÇÃO
Mesmo com a estabilização do surto, a palavra de ordem ainda é prevenção. A orientação é de que as pessoas continuem adotando as medidas preventivas recomendadas pelas autoridades.

- As pessoas aprenderam a se cuidar, mas elas têm de manter vigilância constante. O surto trouxe para a população uma perspectiva de mudança de política pública. Para isso, é preciso limpar as caixas d'água regularmente, se engravidar, procurar imediatamente um médico e fazer todos os exames, e beber água fervida ou filtrada, principalmente quem é do grupo de risco - salienta a secretária Liliane.

Estudo da UFSM diz que água pode ser fonte de infecção por toxoplasmose

Segundo Streb, o esquema de prevenção está sendo ampliado, e a investigação da origem do surto segue em andamento. A água continua sendo o principal vetor de contaminação sob suspeita. A busca ativa, que é a visita da equipe de investigação às residências, será retomada (leia mais no quadro abaixo).

AS FRENTES DE ATUAÇÃO EM RELAÇÃO AO SURTO

  • REMÉDIOS - Os medicamentos considerados estratégicos para o tratamento (espiramicina, pirimetamina e sulfadiazina), usados pelas gestantes, são de atribuição e responsabilidade da Farmácia Central do Estado (localizada na Rua Astrogildo de Azevedo, 277, no centro de Santa Maria). Na semana passada, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) encaminhou um lote de 3 mil comprimidos de pirimetamina, que estava em falta na Farmácia Central do Estado. O lote foi enviado pelo Ministério da Saúde. Conforme o titular da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS), Roberto Schorn, essa quantidade deve ser suficiente para suprir a demanda por 30 dias. Há, em estoque, cerca de 17,7 mil comprimidos de espiramicina, 20,4 mil de sulfadiazina e 8,3 mil de pirimetamina. Atualmente, 74 pacientes com toxoplasmose são atendidos na farmácia estadual, sendo 43 gestantes, 20 com toxoplasmose congênita e 11 com lesões oftalmológicas. Os medicamentos do componente básico para a toxoplasmose (sulfadiazina e ácido folínico) são distribuídos na Farmácia Municipal (localizada na Rua Roque Calage, 55, Centro). De acordo com a Secretaria de Saúde de Santa Maria, há estoque suficiente de remédios para os próximos cinco meses. A previsão é que 10 mil comprimidos de pirimetamina, adquiridos para suprir a falta na farmácia da 4ª CRS, cheguem até sexta-feira que vem de Curitiba. O lote foi adquirido pela prefeitura, e será repassado ao Estado

  • BUSCA ATIVA - Em agosto, as visitas in loco, nas residências de pacientes que tiveram a confirmação da doença, foram suspensas temporariamente. No entanto, a Vigilência em Saúde ainda faz, aos sábados, um mutirão para atualizar os dados cadastrais de quem já preencheu os formulários. Com a contratação recente de quatro novos profissionais para atuar diretamente na investigação do surto (um médico epidemiologista, um técnico em enfermagem e dois enfermeiros), a busca ativa será retomada

  • TOXO CONGÊNITA E GESTANTES - Há 20 casos confirmados de toxoplasmose congênita (bebês que nasceram com a doença) em decorrência do surto. Desses, 18 estão em tratamento e acompanhamento pelo Husm, sendo que 5 bebês nasceram com lesões oftalmológicas e 6 apresentaram lesões no sistema nervoso central. Além dos pacientes com toxoplasmose congênita, o ambulatório também atendeu bebês cujas mães tiveram o diagnóstico positivo para a doença durante a gestação. De acordo com a médica infectologista Maria Clara Valadão, são cerca de 120 gestantes em acompanhamento no hospital. Todos eles serão monitorados por, pelo menos, um ano

  • LESÕES OFTALMOLÓGICAS - Depois que o ambulatório de oftalmologia criado para o tratamento de pacientes em decorrência do surto encerrou as atividades na cidade, em 26 de julho, o serviço foi transferido para o Instituto de Oftalmologia de Faxinal do Soturno. De acordo com o médico Lair José Hüning, diretor do instituto, no período em que esteve em funcionamento em Santa Maria, o ambulatório atendeu 183 pacientes. Desses, 18 foram diagnosticados com toxoplasmose ocular e foram encaminhados para acompanhamento e exames em Faxinal e só 11 estavam com o foco agudo da doença, ou seja, eram pacientes com infecção recente, relativa ao surto. Os 11 seguem em acompanhamento no instituto

  • PESQUISA: ORIGEM DO SURTO - Uma pesquisa feita com suínos pelo Laboratório de Doenças Parasitárias (Ladopar) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) apontou que a água pode ser a principal fonte de infecção da toxoplasmose. No entanto, os resultados ainda são preliminares. Até o momento, o estudo mostra que todos os animais que consumiram amostras de água potável coletada para a pesquisa foram infectados com a doença. Agora, os pesquisadores tentam isolar o protozoário para fazer a comparação genética com o protozoário do surto

  • MONITORAMENTO DA ÁGUA - No início deste mês, a Corsan iniciou o monitoramento da rede de abastecimento de água por recomendação do Ministério da Saúde. Já foram feitas duas rodadas de coletas, uma no dia 1º e outra no dia 15 de outubro. As amostras foram enviadas para o Laboratório de Parasitologia, Zoonoses e Saúde Pública da Universidade Estadual de Londrina (UEL), mas os resultados ainda não foram divulgados. Ao todo, foram enviadas cinco coletas. Antes disso, outras amostras de coletas da água e de alimentos também foram feitas. De todas enviadas, apenas uma apontou a presença positiva para o protozoário

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