Saúde Mental

Faz Sentido deste domingo fala sobre as formas de viver o luto

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Reprodução

Você já ouviu as expressões "o tempo cura tudo", "você vai conhecer outra pessoa", "não precisa chorar", "Deus quis assim", principalmente em momentos de perdas? Ou, quem sabe, já teve que se explicar por estar triste em situações, como despedidas, demissão ou mudança?

Profissionais de diferentes áreas comentam sobre alguns estigmas de suas carreiras

Sim, tudo isso foi assunto do Faz Sentido do último domingo, que foi apresentado pelo psicólogo Carlos Eduardo Seixas, o Cadu, e excepcionalmente pela jornalista Luisa Neves. E já de antemão, o programa deixou claro que o luto não decorre apenas em situações de morte, mas, também, por outras perdas, as quais não podem ser ignoradas no dia a dia. Tanto nós mesmos quanto quem está à nossa volta pode, agora, estar em processo de luto, e a gente nem percebe.

A morte ainda é uma incógnita e, embora seja a circunstância mais "certa" para todos, independentemente de credos, opiniões e conceitos, é assunto evitado em qualquer roda de conversa. No entanto, essa opção torna-se um problema quando, mediante uma perda, passa-se a viver como se nada tivesse acontecido. Ou seja, elaborar a dor da perda é essencial para a saúde mental. E, então, vamos falar sobre isso?

Por que devemos falar dos processos do luto?

  • Na sociedade moderna, as palavras morte e luto remetem a sentimentos de dor. Mesmo assim, aprender a aceitar e a conviver com a morte é essencial. Desta forma, torna-se necessário que esse processo doloroso seja discutido.

Como conceituar o luto?

  • Nos últimos dois anos, por conta da pandemia, o Brasil soma mais de 600 mil famílias enlutadas. Isso sem contar os outros tipos de morte. Mais do que nunca, a cena do luto tomou conta do nosso cenário. O luto envolve uma miscelânea de outros sentimentos que nos levam à necessidade de termos, sim, contato com a dor de uma vazio, de uma ausência.

A que situações podemos atribuir o luto?

  • Luto não se refere apenas à perda de entes queridos. Ele ocorre frente a outros tipos de perda, a ausência de lugares, pessoas, rotinas e até mesmo objetos com os quais eu tenha envolvimento afetivo. Por exemplo, a pessoa trabalha em um local e, de repente, aquilo lhe é tirado. Ela perde a rotina, a convivência com os colegas, entre outros fatores. Podemos falar, também, das mudanças de cidade, fim de um relacionamento, entre outros exemplos.

Por que não é saudável "pular" o processo de luto?

  • Tudo o que entra no nosso corpo tem que sair. Isso é patológico em todos os sentidos, seja físico ou emocional. O processo do luto decorre do contato com uma dor emocional vinculada a um vazio que nos foi imposto por alguma situação. Portanto, se faz necessário esse desligamento afetivo entre as partes para que se possa seguir em frente. E isso só acontece mediante o enfrentamento da dor.

Podemos associar luto à depressão?

  • Nem sempre. Nem toda pessoa enlutada está depressiva. Luto é quando, ao lembrar da perda, a gente fica triste. São aqueles momentos em que nos deparamos com o perfume, frases, locais e sensações que nos remetem à perda. Isso dói, mas, no decorrer do dia, nos envolvemos com outras funções e a dor ameniza. Já a depressão por conta do luto tem a ver com dor constante, principalmente se ela perdura por três semanas sem interrupção. Luto pode levar à depressão, mas isso não é regra.

O que é luto patológico?

  • Pode ser considerado aquele luto que não é processado e dura mais de três semanas sem mudança no quadro de tristeza constante.

Uma das definições para "morte" é "separação". Como lidar?

  • Sentindo. Não existe luto saudável sem tristeza. É mais preocupante a pessoa que segue a rotina como se nada tivesse acontecido do que quem "coloca para fora" a dor. A tristeza é ruim? É. Mas é necessária.

O que não ajuda ou conforta mediante o luto?

  • Tentar dar e pedir explicações ou relatos a respeito da morte de alguém.

Velório, cremação ou sepultamento são necessários?

  • Nossa cultura envolve cerimônias. No casamento, por exemplo, a igreja, o vestido da noiva e tantos outros símbolos, parece que certificam que aquela união realmente ocorreu. Da mesma forma, o ritual de despedida pode ser necessário, sim, para realmente elaborar a perda. Por isso é tão difícil para as famílias que perderam alguém e não puderam se despedir elaborar a dor. Isso ocorre porque a última imagem que elas têm da pessoa é de quando ela estava viva. Mas, é claro, deve-se considerar crenças familiares, cultura de um lugar, entre outras questões nessas circunstâncias.

Dizer "não chora, vai passar" pode?

  • Por mais que a intenção seja boa e com o objetivo de consolar, frases como essa não ajudam. Tudo o que entra no corpo tem que sair. Chorar é necessário e legítimo. O "engole o choro" pode ser resultado de crenças estabelecidas por crenças religiosas, experiências sociais ou famílias que convivem e repassam a supressão emocional.

E se a pessoa não demonstra que está triste?

  • Isso não quer dizer que ela não sinta. De uma forma ou outra, o sentimento vai sair. Nosso corpo tem uma série de mecanismos de defesa, resultantes de psicologias comportamentais, vergonha ou medo de demonstrar raiva, frustração, indignação, entre outros. Mesmo que não gostemos ou tenhamos habilidade de demonstrar, todos sentimos.

Como ajudar um amigo que está em luto?

  • Por melhor que sejam as intenções, evite dar discursos ou pedir explicações (relato) sobre a morte. Esteja perto, ainda que em silêncio. Demonstre afeto e, se possível, dê um abraço. A gente não tem noção do poder terapêutico que o toque físico tem. Se a pessoa quiser falar, seja ouvidos, mas não force.

O tempo cura tudo?

  • Se tempo curasse, seria vendido em farmácia, a gotas caríssimas. A esquiva emocional perpetua a maioria das dores. Conselhos como "assista a um filme", "procura dormir", "deixa o tempo passar" podem incentivar a pessoa a tentar se curar sozinha ou mascarar o sentimento. A velha mania de se curar na força do braço pode piorar o processo do luto. Não é o tempo que cura tudo, mas o que eu faço com o meu tempo durante o luto.

O que pode ocorrer com quem "anestesia" os sentimentos negativos?

  • Certamente, essa pessoa vai se esquivar de sentimentos bons também. Muitos pensam que sofrer é sinal de fraqueza, quando, na verdade, quando negligencio a dor, sou fraco. Forte é quem se permite sentir.

O que é luto antecipado?

  • Ocorre quando a gente sabe que vai perder a pessoa. É muito comum quando o ente querido está em um CTI, por exemplo. O sofrimento se inicia antes da perda propriamente dita, ao se imaginar como vai ser a vida sem aquela pessoa.

Quais são as cinco fases do luto saudável?

  • Negação, raiva, barganha, tristeza e aceitação.

Primeira fase: negação

  • É um entorpecimento, é quando a gente não acredita, não consegue organizar a ideia de como vai ser a vida depois da perda. Aqui, se faz necessário trabalhar a capacidade de reorganização. Não faça de conta que nada aconteceu. Quando a pessoa fica presa à essa fase, ela vive o que chamamos de luto patológico.

Segunda fase: raiva

  • Ocorre quando nos indignamos com a perda, buscamos culpados e queremos uma resposta. É o sentimento de "isso não é justo".

Terceira fase: barganha

  • Os dias passam e não se assimila a dor. É como se a pessoa, no luto, estivesse anestesiada.

Quarta fase: tristeza

  • Depois de todos os outros processos, finalmente, o enlutado se permite viver a dor da perda.

Quinta fase: aceitação

  • Passa-se a organizar a vida com a realidade da perda.

O que é luto coletivo?

  • É quando a perda envolve várias pessoas, comunidade ou cidade. Ocorre em tragédias e desastres. O lado positivo é a união do grupo e o amparo mútuo, devido ao compartilhamento de uma dor em comum.

Qual é a diferença entre tragédia e desastre?

  • Tragédia decorre de uma responsabilidade humana, quando se atribui a morte a um culpado. Desastre é quando não se tem culpabilidade humana, são acidentes da natureza, como terremotos, incêndios, etc.

O que mais pode diferenciar o luto?

  • Principalmente, os diferentes tipos de morte, sem contar que nenhum ser humano sente igual ao outro. Não se deve padronizar. A dor de um pai que perde o filho é diferente do que "seria" o processo natural da vida, por exemplo, bem como as mortes repentinas, em que a pessoa estava bem pouco antes do óbito.

Quando falar de morte para as crianças?

  • O ideal seria explicar a elas a partir do momento em que tenham condições de entender. Pode-se usar metáforas, histórias, ilustrações, no entanto, elas devem saber, desde cedo, que esse é um processo natural.

DEIXA FLUIR

Fomos às redes para perguntar:

Como você lida com o luto?

  • A maioria do público respondeu que respeita o tempo da dor. A segunda resposta mais votada foi "evito falar no assunto"

Velório e enterro são necessários?

  • 72% do nosso público respondeu que sim, os rituais referentes à despedida de um ente querido são necessários

Como você ajuda pessoas em luto?

  • Respeito, empatia, dar espaço e sempre oferecer um abraço foram as principais respostas do público

O tempo cura tudo?

  • Conforme a maioria das respostas, o tempo é benéfico para ajudar na superação

PROGRAMA FAZ SENTIDO

  • Quando - Domingo, das 11h ao meio-dia
  • Tema - Você é agressivo ou já presenciou atitudes de agressividade? O que fazer em situações assim? Esse é o tema do Faz Sentido deste domingo.
  • Como acompanhar - Pela CDN, 93.5 FM, e pela TV Diário, nos canais 26 e 526 da NET, no YouTube da TV Diário e site do Diário
  • Apresentadores - Jornalista Fabiana Sparremberger e psicólogo Carlos Eduardo Seixas

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