Da fila de espera à cirurgia, como funciona o transplante de coração

Da fila de espera à cirurgia, como funciona o transplante de coração

Foto: Pixabay

O apresentador Fausto Silva, 73 anos, passou por um transplante de coração no último domingo. O procedimento, que levou mais de 2 horas, ocorreu no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde ele está internado desde 5 de agosto. Assim que foi constatado o quadro de insuficiência cardíaca e a necessidade de diálise, Faustão foi inserido na lista de espera do Sistema Nacional de Transplantes, que atende tanto pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto da rede privada.  


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Atualmente, 386 brasileiros aguardam nesta lista, que considera critérios como tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, assim como de genética, além do quadro do paciente, que pode receber prioridade quando o estado é considerado crítico. Segundo o Ministério da Saúde, apenas no primeiro semestre de 2023, 206 transplantes de coração foram realizados no país.  


Dentro das Secretarias de Saúde, as Centrais de Transplantes fazem o monitoramento do cenário, que muda conforme a demanda de cada estado brasileiro. No Rio Grande do Sul, 16 pessoas permanecem na lista de espera, sendo a faixa etária de 50 a 64 anos, a de maior prevalência. Até julho deste ano, oito transplantes do tipo ocorreram, o que representa uma nova chance para quem precisa. Mesmo assim, é preciso lembrar que o consentimento da família neste processo continua sendo essencial para fazer a diferença


Na reportagem, entenda quais são as condições que podem levar um paciente a necessitar de um transplante, como funciona o processo no Estado e quais são as instituições habilitadas para o procedimento.  

Sinais e fatores  

Atuante no Instituto de Cardiologia da Fundação Universitária de Cardiologia, de Porto Alegre, o médico Hugo Fontana Filho alerta sobre os sinais que podem indicar que uma pessoa está com problemas cardíacos: 


– Normalmente, essa pessoa vai ter mais cansaço e falta de ar. Pode ter desconforto torácico. São sintomas inespecíficos, mas quando a pessoa tem esse tipo de quadro, deve fazer uma avaliação para ver se é algum problema cardíaco, que está sendo responsável por isso. Sobre os fatores de risco para doença cardiovascular, sabemos que os principais são hipertensão, diabetes, dislipidemia, sedentarismo, obesidade, tabagismo e estresse. Além disso, há uma série de alterações genéticas que estão associadas com um aumento do risco cardiovascular. 


O uso de álcool e drogas também geram maiores chances de dilatação do miocárdio, arritmias, entre outras consequências, que muitas vezes, podem ser irreversíveis. Enquanto uma cirurgia de alta complexidade, o transplante de coração só é indicado após um longo processo de análise.


– Quando a gente pensa em transplante cardíaco, pensamos em um paciente que, apesar de todos os tratamentos, não conseguiu ficar com uma qualidade de vida adequada. Então, o transplante cardíaco é reservado aos pacientes com severa disfunção e que não há melhora clínica – ressalta Fontana Filho. 


Ao ser referenciado, o paciente deverá passar por avaliações com psicólogos, nutricionistas e cardiologistas, com a finalidade de saber se está apto para o procedimento e as inúmeras modificações que ocorrem após a cirurgia.  


– O paciente com transplante cardíaco terá que usar inúmeros medicamentos e imunossupressores. Requer um cuidado muito intenso para diminuir a chance de ter infecções – afirma o cardiologista.   


Lista de espera

Em entrevista ao Diário, o coordenador da Central Estadual de Transplantes (CET), Rafael Rosa, falou sobre o número de receptores que aguardam por um transplante de coração: 


– No Estado, temos 16 pessoas em lista, sendo um priorizado, que é quando tem o risco muito grande de falecer. A gravidade é um dos critérios utilizados nessa lista de espera. Deste quantitativo total, três receptores estão na faixa etária de 1 a 5 anos; um na faixa entre 6 a 10 anos; três têm entre 11 a 17 anos; quatro estão na faixa de 35 a 49 anos e cinco têm entre 50 a 64 anos. Segundo Rosa, informações sobre municípios de origem ou motivo da entrada na lista não podem ser fornecidas pela central. Para essas pessoas, a notificação sobre um doador compatível pode surgir a qualquer momento no sistema, sendo dentro ou fora do Estado.   


– Inserimos todos os dados desse doador no sistema, que é nacional e que gera uma lista regionalizada de todos receptores do Rio Grande do Sul, que estão esperando por um coração. Conforme sai o primeiro receptor na lista, ligamos para a equipe. Caso aceite, fazemos a logística, que é de levar esta equipe até o doador para fazer a retirada do órgão e voltar para Porto Alegre. Por exemplo, se o doador está no interior de Uruguaiana, vamos de avião, fazemos a retirada do órgão e voltamos para implantar no receptor aqui em Porto Alegre – explica Rosa.  


No contexto atual, todos os centros transplantadores de coração habilitados pela Coordenação-Geral do Sistema Nacional de Transplantes (CGSNT) estão localizados em Porto Alegre. Caso o receptor more em Santa Maria, o transporte até o hospital deverá ser feito pela secretaria municipal da saúde.  


– Depende do centro transplantador e não da localidade onde mora a pessoa que receberá o órgão. O receptor do coração pode ser daqui, mas terá que ir até o centro onde se realiza o transplante – enfatiza a médica intensivista e coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), Luciana Segalla.  


Centros transplantadores

 Atualmente, apenas três estabelecimentos no Rio Grande do Sul estão autorizados a realizar transplantes de coração

  • Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) – Procedimento adulto  
  • Instituto de Cardiologia da Fundação Universitária de Cardiologia (ICFUC) de Porto Alegre – Procedimento adulto e pediátrico 
  • Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA) – Procedimento adulto e pediátrico 

Transplantes   

Até julho deste ano, oito corações foram transplantados no Rio Grande do Sul. Segundo Rosa, o processo apresenta distinções: 


– Entre a retirada do órgão no doador e o implante no receptor, tudo tem que ocorrer, no máximo, em 4 horas. Normalmente, para o coração, tem que ser um doador jovem, até 50 anos, no máximo. Quando se tem um doador nessas características, corremos contra o tempo. 


Do número total de corações captados, seis foram de doadores que tiveram morte encefálica, o que representa 75%. O dado demonstra que tão importante quanto ser um doador de órgãos é ter esse desejo respeitado pelos familiares mais próximos. Nas instituições, este processo é acompanhado pela CIHDOTT. 


 – Ainda temos uma porcentagem alta de negativa da família por não saber se a pessoa era doadora em vida. Ainda é uma das principais causas não saber a vontade daquela pessoa. Então, é importante que as pessoas conversem com suas famílias – reforça Rosa.   


Nova chance de viver

 Além de maior qualidade de vida, transplantes de coração já renderam histórias inspiradoras em Santa Maria. Esse foi o caso do professor João Carlos Cechella. Aos 33 anos, ele foi diagnosticado com uma miocardiopatia dilatada congênita, conhecida popularmente como coração grande. Em 16 de maio de 1989, tornou-se o décimo-primeiro beneficiado por um transplante de coração no Estado. A cirurgia foi realizada pelo Instituto de Cardiologia de Porto Alegre e transformou-se em um marco no país. 

 

Cechella superou a expectativa de vida de um transplantado, que era de até 13 anos, e se tornou o segundo transplantado mais longevo do Brasil na época, ficando atrás apenas do advogado Waldir Carvalho, que passou pela mesma cirurgia em 1986 e morreu em junho de 2019. Beneficiado pelo desejo de um doador anônimo, Cechella dedicou-se a palestrar e conscientizar sobre a importância da doação de órgãos. Em rede nacional, teve a história contada em programas como Fantástico, Globo Repórter e Mais Você. E em 2016, participou da corrida de revezamento da tocha olímpica em Santa Maria. 


Foto: Jean Pimentel (arquivo/Diário)

Mobilização

Com o objetivo de sensibilizar a população sobre a doação de órgãos e tecidos para transplantes, o governo do Estado lançou, na segunda-feira, a campanha “O Amor Vive”, durante uma sessão do Circo Mirage, em Porto Alegre.


Além de veiculação em televisão e redes sociais, a iniciativa deve contar com um vídeo gravado pelo ator e proprietário do Circo Mirage, Marcos Frota. A ideia é que o conteúdo seja divulgado além do mês de setembro, quando é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos.


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