Santa Maria registra presença de dois vírus da dengue; situação gera alerta para agravo de sintomas

Foto: Beto Albert (Diário)

O Rio Grande do Sul vive uma epidemia de dengue em 2024, com mais de 68,4 mil casos confirmados e 78 óbitos em decorrência da doença. Com 94% do território gaúcho infestado pelo mosquito Aedes Aegypti, o Estado lida agora com um novo desafio: o aumento dos vírus da dengue em circulação nesses municípios. 

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Pesquisas do Instituto Butantan apontam que a dengue tem quatro sorotipos (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) e quase 20 genótipos. No início de abril, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) confirmou a co-circulação dos sorotipos DENV-1 e DENV-2 em mais de 30 municípios gaúchos. A descoberta foi realizada pelo Laboratório Central do Rio Grande do Sul (Lacen), vinculado ao Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), que analisa as amostras de sangue encaminhadas. 

Na última sexta-feira (12), a Vigilância em Saúde de Santa Maria emitiu uma nota de alerta sobre a situação, que exige diversos cuidados, além de maior participação da população no processo de eliminação de possíveis focos do mosquito.  

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Surtos

Santa Maria tem registrado surtos de dengue nos últimos quatro anos. Até o momento, 442 casos da doença foram confirmados. O atual número, que corresponde apenas aos primeiros quatro meses de 2024, é maior do que os indicadores de 2020 (234), 2021 (67) e 2022 (176). Entretanto, o índice não ultrapassa os dados de 2023, quando foram contabilizados mais de 8,4 mil casos positivos e cinco mortes em decorrência da dengue. 

Em entrevista ao Diário, o superintendente da Vigilância em Saúde de Santa Maria, Alexandre Streb confirmou que o município vive um novo surto generalizado da doença:

– Podemos dizer que temos um surto bem generalizado. Claro que ainda é cedo para fazer comparações com o ano passado, porque estamos no início de abril. Já temos casos espalhados por todo o município, mas em uma situação diferente. Na Região Oeste, onde fizemos uma ação mais preventiva no início de fevereiro, percebemos que há poucos casos de dengue, diferente do ano passado em que era a região com mais casos. Hoje, temos casos mais frequentes nas regiões centro-oeste e sul do município.

Dengue em Santa Maria

  • Nº de notificações – 1217
  • Casos confirmados – 442
  • Em investigação – 207
  • Casos inconclusivos – 21
  • Descartados – 547
  • Óbitos – 0

Dados atualizados em 17 de abril de 2024

Fonte: Painel Estadual de Casos de dengue

Sorotipos

A dengue tem quatro sorotipos, que apresentam genótipos e linhagens diferentes. Recentemente, foi detectado a presença do DENV-1 e DENV-2 em 34 municípios gaúchos. Conforme o virologista e pesquisador em Saúde Pública do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), Gabriel da Luz Wallau, a circulação do segundo sorotipo já havia sido constatada em outros momentos:

– O sorotipo 1 é o mais prevalente no Brasil e no estado do Rio Grande do Sul a vários anos. Porém, o sorotipo 2 já havia sido detectado em outras cidades do Rio Grande do Sul em anos anteriores em baixa prevalência. Provavelmente, devido ou ao movimento de pessoas infectadas ou mosquitos infectados, o sorotipo 2 chegou na cidade.

A presença do sorotipo DENV-1 em Santa Maria foi registrada em 2020, durante a pandemia de Covid-19. Na época, a cidade contabilizou 234 casos positivos, presenciando um cenário nunca visto em toda a série histórica. Conforme Streb, a descoberta do DENV-2 entre as amostras de moradores de Santa Maria ocorreu durante o cumprimento das orientações do Cevs. 

– Temos que fazer um envio, uma vez por semana, de no mínimo 10 amostras de sangue de pacientes que já positivaram. Enviamos para o Lacen, de Porto Alegre e eles fazem o exame chamado PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), no qual é identificado o tipo viral. Hoje, estamos conseguindo enviar mais de 10 amostras por semana. Enviamos mais de 30 por semana e em alguns dias, o Lacen envia a resposta determinando qual é o tipo viral encontrado. Na semana retrasada, mandamos 35 amostras e recebemos, na última sexta-feira, a informação de que 16 tinha o DENV-2 – explica Streb, afirmando que não há estudos que apontem que o Denv-2 é mais agressivo que o Denv-1. 

Mesmo assim, a situação pode resultar em casos de reinfecção ou infecção simultânea com os dois sorotipos. Nessas situações, pode ocorrer o agravamento dos sintomas de dengue, evoluindo para dengue hemorrágica e consequentemente, ao óbito.  

Fique atento aos sintomas

Ao apresentar os primeiros sintomas de dengue, procure atendimento médico nos serviços de saúde. São eles:

  • Febre alta (39°C a 40°C), com duração de dois a sete dias
  • Dor atrás dos olhos
  • Dor de cabeça
  • Dor no corpo e nas articulações
  • Mal-estar geral
  • Vômito
  • Diarreia
  • Manchas vermelhas na pele, com ou sem coceira

Situação exige cuidado e cooperação da população no combate à dengue

Perante o cenário crítico de Santa Maria, o superintendente da Vigilância em Saúde afirma que as medidas de contenção do vetor da dengue não devem mudar. Desde o início de fevereiro, o município trabalha com um plano de combate à dengue, que já envolveu ações em parceria com o Exército Brasileiro e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 

Continuaremos com o trabalho intenso de pulverização dos locais e visitas cotidianas na residência das pessoas. Porém, na medida em que a Vigilância Epidemiológica detecta esse vírus, os dados passam a nortear o trabalho de campo dos agentes de endemia. Isso é importante para outros setores também. No momento em que sabem da Denv-2, as unidades de saúde precisam estar mais atentas a sintomas mais graves como dores abdominais, vômitos, sangramentos das mucosas, entre outros. Então, estamos avisando todas as unidades, tanto públicas quanto privadas – reforça o superintendente. 

Na segunda-feira (15), uma nota técnica foi encaminhada pela Vigilância em Saúde para as comissões de controle de infecções de hospitais de Santa Maria. A medida busca reforçar a importância das notificações de possíveis casos de dengue para que seja feito o devido monitoramento, recolhimento das amostras e verificação junto ao Lacen. Segundo Streb, o trabalho da Vigilância em Saúde depende também dessas notificações, sendo essencial que os hospitais informem os quadros encontrados. 

Neste processo, a população santa-mariense também deve tomar medidas que auxiliem na eliminação de possíveis focos do Aedes aegypti. 

Isso aumenta a necessidade da população fazer a parte dela. No fim das contas, quem tem o maior potencial de solução do problema é a própria população, na medida em que muda os hábitos. Toda a vez que cair essas chuvas, as pessoas devem fazer uma inspeção no pátio por, pelo menos, 10 minutos por semana para eliminar água parada em recipientes e evitar a proliferação do vetor – conclui Streb. 

Faça a sua parte!

  • Aplique regularmente repelentes na pele, especialmente durante o amanhecer e o anoitecer, períodos em que os mosquitos são mais ativos.
  • Utilize telas e mosquiteiros mantenha portas e janelas protegidas com telas Mantenha a caixa d’água sempre fechada
  • Encha de areia, até a borda, os potes e os vasos de plantas
  • Não deixe a água da chuva acumular em recipientes
  • Mantenha tampados tonéis e barris de água
  • Guarde garrafas de cabeça para baixo
  • Descarte corretamente os resíduos sólidos para evitar o acúmulo de lixo, que pode se tornar um criadouro de mosquitos
  • Cuidar piscinas, especialmente as de plástico
  • Para denúncias de locais em Santa Maria com água parada, ligue para (55) 3174-1581 ou pelo WhatsApp (55) 7400-5525


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