surto de toxoplasmose

'10% dos contaminados vão apresentar lesões nos olhos', afirma especialista

Dandara Flores Aranguiz,


Foto: Clínica Silveira
Oftalmologista Cláudio Silveira reforça que quem já teve toxoplasmose deve manter cuidado redobrado para reduzir lesões

Um dos grandes especialistas em infecção ocular, reconhecido mundialmente pelas suas pesquisas, o oftalmologista Cláudio Silveira vive em Erechim, no norte do Estado. Lá, há 34 anos, ele comanda o Centro de Referência em Toxoplasmose. Isso porque, no final da década de 1980, ele descobriu que a doença adquirida era a causa mais frequente de lesões oculares. E, em 1990, um estudo liderado por ele mostrou que a região de Erechim apresenta o maior índice de toxoplasmose ocular do mundo, atingindo 20% da população rural adulta da região.

:: Leia a cobertura completa da toxoplasmose em Santa Maria ::

O médico, que também é professor na pós-graduação da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), alerta para um dos principais riscos da doença: problemas e lesões oculares, e até mesmo a cegueira. De acordo com Silveira, o problema é que não existe um teste que indique quais dessas pessoas vão desenvolver lesões, podendo apresentá-las ao longo da vida. Confira a entrevista que o especialista concedeu ao Diário.

Diário de Santa Maria - O senhor tem acompanhado a situação do surto em Santa Maria? 
Cláudio Silveira - Sim. Até mesmo já conversei com o prefeito e me coloquei à disposição, caso houver interesse. Expliquei para ele o que fazemos aqui e toda a estrutura que usamos na Escola Paulista de Medicina, que também está à disposição. Dos surtos epidêmicos que a gente tem acompanhado no mundo inteiro, a gente sempre lembra que a população tem que ficar alerta, pois em torno de 10% das pessoas contaminadas vão apresentar lesões nos olhos, mas não necessariamente na hora que se contaminam. Elas podem apresentar na época em que adquirem, daqui a um mês, um ano ou daqui a 10 anos. Na América do Sul, temos tanta toxoplasmose que aqui, no sul do Brasil, a doença teve uma recombinação genética que apresenta formas atípicas de infecção. Há uma tipagem de cepa que tem genes mais propícios a danos oculares. Como não se sabe as especificações da toxoplasmose ainda, é preciso ficar atento.  

Diário - Quem pode apresentar os problemas oculares?
Silveira - Pacientes imunocompetentes que não têm doenças graves (câncer ou Aids, por exemplo) vão ter dor no corpo, febre e também podem ter problema no olho nessa fase. É o que mais preocupa. Quem foi exposto na área de risco, também precisa fazer os exames, mesmo sem sintomas, pois pode desenvolver os problemas oculares depois. Primeiro, faz-se o exame de sangue. Se deu positivo, o próximo passo é fazer os exames clínico e oftalmológico juntos. No oftalmológico, examina-se o fundo do olho. Mas eu estou falando do grupo de menor risco, dos que não apresentam os sintomas, aqueles 10% que podem ter lesão ocular tardia, que pode causar até cegueira Cada caso tem de ser visto individualmente, cada um tem que ser avaliado em suas particularidades.  

Diário - Após o problema ser diagnosticado, qual o tratamento?
Silveira - O exame de fundo de olho é que vai detectar se há lesões ou não. Para quem foi diagnosticado com a doença, o ideal é fazer esse exame periodicamente, a cada seis meses. Mas há um exame caseiro, bem fácil, que pode ser feito muito rápido, para ver se tem alguma alteração. É a Tela de Amsler. Os sintomas são manchas pretas ou claras, nuvens, a pessoa enxerga uma neblina. Se tiver algum desses sintomas, é possível que esteja no início da manifestação da doença. Aí, se consulta o oftalmologista, que vai dar o tratamento adequado, com medicação. 

Diário - Essas lesões oculares podem ser diagnosticadas nos exames de rotina com o oftalmologista? 
Silveira - Sim. Quando você vai fazer um óculos ou mudar o grau da lente, por exemplo, faz parte da rotina do médico examinar o fundo do olho. Esses exames comuns já apontam esse problema. Usa-se um colírio para dilatar a pupila, joga-se uma luz com uma lente e se olha o fundo do olho do paciente.  

Diário - Quem já teve o problema nos olhos por conta da toxoplasmose pode ter novamente?
Silveira - Nosso organismo não elimina o protozoário de forma alguma. Ele é muito esperto, pega as proteínas do hospedeiro - no caso, nós -, e as usa para formar uma cápsula, o cisto. Cada cisto tem de 300 a 5 mil parasitas, e, quando eles rompem, entram na circulação do sangue e se espalham, perpetuam-se. Eles não são destruídos pelos anticorpos porque eles usam as proteínas da pessoa. Daí, ficam lá dentro, como se fossem parte do corpo. Quando o corpo tem um estresse muito grande, baixa a imunidade ou doenças frequentes que baixem as defesas, esse cisto rompe, multiplica-se, entra na corrente sanguínea e vai para o olho e outros lugares. Quando ele não consegue atacar mais nada, fica escondido por um tempo até que tenha oportunidade de voltar à ação. Por isso, a taxa de recidivas é alta, ocorrendo em 30% a 80% dos casos, e não há tratamento 100% eficaz. Portanto, no período que não se está em crise, sem sintomas, tem de haver cuidado redobrado para diminuir os riscos de lesões recidivas.

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FAÇA O TESTE: Tela de Amsler 
Para fazer a autoavaliação por meio da Tela de Amsler, siga os passos abaixo: 

  • Colocar os óculos para perto, caso use
  • Fechar o olho esquerdo com a palma da mão
  • Olhar na tela com o olho direito, fixar o olhar no ponto central. Verificar se as grades estão tortas, se tem mancha ou se falta uma parte da tela
  • Repetir o teste tampando o olho direito e mantendo o esquerdo aberto

  • As imagens abaixo são de exames alterados. Caso você veja alguma coisa semelhante aos exemplos abaixo, consulte seu oftalmologista
  • Esse exame serve para detectar alterações na mácula, a região central da retina
  • Essas alterações ocorrem em doenças como degeneração macular relacionada à idade, diabetes, edema macular, coroidopatia serosa central, oclusão venosa da retina, entre outras

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