“O Brasil absolveu Luciano Bonilha e isso acalentou um pouco a minha alma”, diz Jean Severo, advogado de um dos réus do Caso Kiss

Jean Severo, advogado de defesa de Luciano Bonilha, um dos réus no Caso Kiss, participou do CDN Entrevista na tarde desta sexta-feira (11). Por meio de ligação, Jean falou sobre os desdobramentos da anulação do júri da Kiss, realizado no dia 3 de agosto. As alegações de nulidade foram o ponto inicial da conversa ao vivo na Rádio CDN. Ele conta que 13 nulidades foram pontuadas, cinco delas, foram aceitas.

Uma das nulidades negadas foi a questão do silêncio dos réus durante o júri, visto que a acusação não pode indicar que o fato do réu estar em silêncio indique que o mesmo tem culpa. Ele afirma que irá recorrer ao Superior Tribunal de Justiça para tentar reverter a decisão. Em relação aos novos desdobramentos do júri, ele estipula, no mínimo, um ano de espera, levando em consideração a grande demanda do STJ, que acumula processos do país inteiro.

– Essa é uma nulidade absoluta, pra mim, a mais latente no processo. Certamente o STJ vai reconhecer, qualquer acadêmico sabe que não pode falar sobre o silêncio dos réus – afirma.

Confira alguns trechos da entrevista

Uma das questões faladas durante o processo é que os pais queriam vingança. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

“Não partiu de mim isso, tá? Até porque eu evitei qualquer tipo de hostilidade com os pais. Inclusive, o Flavio, dentro da Associação, me ligou em agosto pedindo para fazer o júri em um lugar maior. Questão de humanidade, para que mais famílias pudessem acompanhar o julgamento. Em certos momentos houveram intervenções quanto a minha fala mesmo não atingindo um familiar, isso não é da minha índole. Eu bati forte no depoimento do rapaz da loja de foguetes. Eu fui o único advogado que foi interrompido três vezes no júri, isso não pode acontecer. O Tribunal fez o correto, vou continuar sempre com a minha postura de muito respeito, com famílias e vítimas, é meu jeito de ser. Eu entendo sim a dor, as pessoas acham que a gente é de ferro. Só que eu tenho nas minhas mãos um rapaz que falo, tranquilamente, um cara maravilhoso, um homem trabalhador que nunca quis nada parecido com isso. Ele também é vítima desse processo e vou defender até o fim.“

O senhor tem conversado com Luciano Bonilha Leão, se importa em dizer onde ele está e como foram os primeiros dias fora da prisão?

“Eu converso diariamente com o Luciano, ele não é um cliente, tornou-se meu irmão. Ele viajou, não vou determinar o lugar, e semana que vem vai para Porto Alegre, vai ficar comigo na minha casa. A gente vai conversar, alinhar algumas coisas, temos alguns projetos que pretendemos colocar em prática. Mas ele tá bem, tá com a família, se recuperando dos 8 meses preso preso. Eu falo com ele diariamente e ele está muito feliz de estar solto. Agora é aguardar o resultado do recurso para ver se vamos ter um novo plenário.“

Antes do Júri da Kiss em dezembro do ano passado, ele havia trabalhado em eventos em Santa Maria. Ele pretende voltar?

“Ele pretende e vai voltar para o seu ramo de trabalho, ele tinha muitos eventos, é um cara requisitado, só tá dando um tempo para pensar um pouco e tirar esse peso todo desse julgamento. Ele vai voltar para Santa Maria, onde sempre ficou.“

O senhor acha que, até esse momento, está sendo feita Justiça nesse caso?

“Assim, eu estudei muito desse processo, eu faço um júri praticamente toda semana. E eu tenho absoluta certeza que, analisando a conduta isolada do Luciano, infelizmente, o júri agiu de uma forma injusta. Agora, o tribunal trouxe luz ao processo, o colocando em liberdade. Vou te contar um relato. Logo depois do julgamento, fiz uma viagem para o Nordeste e em todos os lugares que eu ia, muitas pessoas me abordaram, dizendo que o Luciano é inocente. Gente chorando, gente mandando mensagens positivas para ele. Então, te afirmo, o Brasil absolveu Luciano Bonilha e isso acalentou um pouco a minha alma. Eu tenho certeza que o Luciano é inocente e nunca pretendeu algo parecido. Ele foi uma vítima também da boate, desmaiou lá dentro e retornou para resgatar os meninos e as meninas. Então, foi um pecado a condenação dele. No Twitter, eu recebi mensagens durante o julgamento, 98% milhões de pessoas absolvendo o Luciano. Infelizmente o Tribunal do Júri contaminou-se por toda aquela situação e acabou condenado todos com as mesmas condutas, o que é errado. A conduta do Luciano é de alguém inocente. Nós vamos ter uma justiça completa quando ele for a novo júri, e aí sim absolvido, aí termina essa situação.”