de mudança para capital

Comandante da Delegacia da Mulher diz que, em 18 anos, o que mudou foi a postura das vítimas

Dandara Flores Aranguiz

Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

À frente da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) desde a sua criação, há 18 anos, a delegada Débora Aparecida Dias, 52 anos, está de mudança para Porto Alegre para ocupar um cargo de extrema responsabilidade. A partir de hoje, ela comanda a Divisão de Relações Institucionais da Polícia Civil, que coordena todos os programas de prevenção da instituição.

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O convite partiu da chefe de polícia do governo estadual, Nadine Farias Anflor, a primeira mulher a assumir o principal cargo em 177 anos de história do órgão. No lugar de Débora, que também foi a primeira titular das delegacias especializadas da Criança e do Adolescente e do Idoso em Santa Maria - criadas em 2002 e em 2009, respectivamente - assume, na Deam, a delegada Elizabete Shimomura.

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Na sexta-feira, último dia de trabalho, ela se despediu dos colegas da delegacia e disse, em entrevista ao Diário, que, apesar da mudança de endereço, permanecerá ligada ao Coração do Rio Grande do Sul, e que retornará em abril para o lançamento de um livro de poesias e artigos, do qual participa junto a outras escritoras de Santa Maria.

Diário de Santa Maria - Quando você chegou a Santa Maria, quais eram as suas expectativas?  
Débora Aparecida Dias - Eu sou formada pelo curso de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade de Passo Fundo (UPF). Morei fora do Estado, acabei voltando e comecei a estudar para o concurso de delegado de polícia. Eu não conhecia Santa Maria nem a região. Minha primeira nomeação foi para Faxinal do Soturno, mas, na verdade, nunca tinha ouvido falar da cidade, não fazia ideia de onde era. Vim para Faxinal, fiquei nove meses lá e já fui lotada aqui para Santa Maria. Em 2001, assumi a 1ª Delegacia de Polícia (DP), e junto veio o Posto da Mulher, que, na época, não era delegacia especializada ainda, e eu fiquei respondendo pelo posto. Depois, o posto virou delegacia, e eu me tornei a titular. E eu jamais imaginei que fosse ser titular de uma Delegacia da Mulher e que fosse ficar tanto tempo, porque é um trabalho em que a gente se desgasta muito mais emocionalmente do que nas outras delegacias comuns. Mas eu acabei gostando do meu trabalho e, hoje, eu saio de Santa Maria para assumir um cargo de direção junto com a chefia de polícia, o que, para mim, é um desafio muito grande. Mas meu coração fica aqui, foram 18 anos de trabalho.

Diário - E o que mudou no tratamento dos crimes contra a mulher desde que surgiu a Deam?  
Débora - As mulheres têm nos procurado mais. Quando era posto e, logo em seguida, virou delegacia, o número de ocorrências praticamente duplicou. Com o atendimento especializado, elas passaram a procurar por ajuda. Gostaria de dizer que a violência contra a mulher diminuiu. Mas, infelizmente, não diminuiu. Nós temos uma pequena queda no número de ocorrências, mas o que mudou foi a procura. Desde 2015, não ocorre feminicídio de mulheres que já tenham medida protetiva em vigor. Temos prevenido esses crimes mais graves, mas não é só isso que vai diminuir a violência contra a mulher. Precisamos de políticas públicas do Estado e do governo.

Diário - A Deam foi a delegacia que mais prendeu no interior do Estado, por dois anos consecutivos (2017 e 2018). A que se deve esse resultado?  
Débora - Esse trabalho previne, tira o agressor da esfera social e mostra a importância de fazer o registro e procurar a delegacia, que tem esse destaque. Eu tenho muito orgulho do pessoal que trabalha na delegacia, temos um excelente relacionamento tanto com o Ministério Público, como com o judiciário. Se eles não nos apoiassem, não nos adiantaria de nada, porque eu posso pedir o mandado de prisão, mas quem defere ou indefere é o juiz. E esse é um trabalho em equipe.

Diário - Durante esses 18 anos, muitas iniciativas e projetos foram desenvolvidos. Algum deles deve ser implementado em nível estadual, com a sua ida para a Divisão de Relações Institucionais?  
Débora - Até 2006, a partir da Lei Maria da Penha, é que se tem discutido mais o assunto. Alguns dos projetos, eu pretendo, sim, implantar. O projeto De Olho Neles, por exemplo. Foi um dos primeiros que implementamos aqui e dá muito certo. Funciona assim: duas vezes por ano, nós fizemos a escolha de ocorrências de lesão corporal que tenham medida protetiva e alguns casos de ameaças mais graves, que já tenham mais de uma ocorrência registrada. Durante a atividade, visitamos as casas para fiscalizar o cumprimento das medidas e entregamos marcadores de páginas no formato de uma colher com os dizeres "Em briga de marido e mulher, a Polícia Civil mete a colher", com divulgação de telefones da Deam, Polícia Civil e o número 180 (Central de Atendimento à Mulher). Temos o apoio de todas as delegacias, até mesmo da região, que vão a esses locais. Além disso, durante o dia da operação, fica uma equipe multidisciplinar de plantão na delegacia, com psicólogos atendendo, caso seja necessário. Temos conseguido muitos resultados e tem tido um bom efeito preventivo, por isso, queremos que vire um programa da Polícia Civil. Mas vamos aprimorar, há mais maneiras de envolver outras instituições, pois a violência contra a mulher é uma responsabilidade da sociedade.

Diário - Qual o legado que você deixa para Santa Maria?  
Débora - Difícil falar da gente mesmo, mas, durante esse tempo todo, a delegacia sempre esteve de portas abertas para qualquer pessoa que chegasse lá, e eu me fiz em mil, sempre atendendo aos pedidos, participando de palestras, atendendo aos convites, pois acredito que estar sempre presente na comunidade também é importante. Posso dizer que o meu trabalho foi intensificado nesse sentido, com a preocupação da prevenção, mas, também, com a repressão.

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