malha sul

Saiba o que ainda é transportado pelas ferrovias da região central do Estado

Marcelo Martins

Foto: Renan Mattos (Diário)
A Rumo assumiu as atividades em Santa Maria em 2015 e, de lá para cá, afirma ter investido R$ 5 milhões em melhorias

Ainda que o solavanco não seja forte, o modal ferroviário vive, recentemente, um sopro de esperança ao transporte sobre trilhos na região central do Estado. O volume de cargas que cruza as estradas de ferro na matriz gaúcha tem crescido nos últimos anos. Na chamada malha sul, que é concedida à Rumo, a empresa registrou crescimento expressivo em solo gaúcho.

No centro do Estado, apenas no ano passado, 287 mil toneladas foram movimentadas no trecho Santa Maria-Cacequi-Rio Grande. Um crescimento de 120% se comparado com 2017, informa a Rumo. As principais cargas que passam por Santa Maria são soja, milho e trigo. E em se tratando de um município que se fez e se projetou no embalo de locomotivas a vapor, qualquer sinalização que dê, ao mínimo, um esboço do que se teve em tempos áureos, já é vista como um indicativo de que uma eventual luz ao fim do túnel pode ser a da locomotiva do crescimento.

O modal ferroviário foi o porto seguro da economia local em meados dos séculos 19 e 20. Foi ancorado em um decreto de lei - considerado a primeira lei de incentivo à ferrovia - que Santa Maria se valeu de tal medida. A primeira estação ferroviária da cidade foi inaugurada em 1885 onde, hoje, é o Parque Itaimbé. A partir daí, Santa Maria passou a ser um ponto central com diversos ramais dando ares de modernidade. 

Em 2014, a Rumo, que é do grupo paulista Cosan, comprou a América Latina Logística (ALL) e, com isso, assumiu a malha sul. A empresa chegou em Santa Maria em 2015. No ano passado, a Rumo registrou crescimento nos trilhos do Estado de aproximadamente 18% no comparativo com o ano anterior. Foram 3,2 milhões de toneladas de grãos transportadas até o porto de Rio Grande. Sendo que as principais rotas ferroviárias no Estado são Ijuí e, no centro do Estado, Cruz Alta, Júlio de Castilhos e Cacequi.

Já os principais pontos de embarque, com destino ao porto de Rio Grande, são Cacequi, Cruz Alta, Tupanciretã, Júlio de Castilhos - na Região Central - e ainda Santo Ângelo, Ijuí, Tigre e Bagé. Quanto ao trecho Cacequi-Uruguaiana, considerado a única saída por ferrovia para produtos gaúchos em direção à Argentina, a Rumo não forneceu números. Até porque a operação depende de demandas comerciais viáveis para o transporte de cargas na região, pondera a concessionária da ferrovia. 

A empresa tem, ao todo, no Rio Grande do Sul mais de 750 colaboradores, sendo que 200 deles estão concentrados em Santa Maria. Em comparação com a antiga concessionária, a ALL, a Rumo dá passos largos à frente em abertura de ramais e de investimentos. A avaliação é de Caio Nemitz, diretor da área de logística da Federação da Agricultura do Estado (Farsul). Mas as conquistas devem ser comemoradas com parcimônia:

- A retomada do transporte ferroviário em alguns trechos é a garantia de diminuição no custo logístico e de ganho em competitividade à economia gaúcha como um todo.  

INVESTIMENTOS
A Rumo informa que, de 2015 para cá, investiu quase R$ 5 milhões "para viabilizar as operações de manutenção de locomotivas para a nova estrutura em Santa Maria". O aporte também possibilitou uma série de melhorias que, entre elas, acarretaram na "revitalização da estrutura de manutenções de vagões, na construção de uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) e de um lavador de locomotivas". Já em outras partes do Estado, os investimentos contemplaram Cruz Alta e Rio Grande. 

A Rumo acrescenta que, desde que assumiu a concessão, em 2015, "vem estreitando a relação com clientes, os quais também estão investindo no aumento das estruturas dos terminais de carregamento". A concessionária da ferrovia assevera que, desse trabalho em conjunto, o resultado tem sido a "redução de custo dos clientes que transportam um grande volume em uma única viagem, desafogando o modal rodoviário em viagens de longa distância e ampliando a oferta para os caminhoneiros em trajetos curtos".


Sistema rodoviário entrará em colapso, diz Farsul 
Dados do Estado e de entidades representativas do Rio Grande do Sul apontam que quase 90% das cargas transportadas no Estado se dão por rodovias. Apesar disso, a estrutura das estradas é a mesma dos últimos 30 anos. Ou seja, tem-se o dobro da produção sendo escoada por estradas que, em sua maioria, sequer são duplicadas. 

Por tudo isso, o cenário é caótico a curtíssimo prazo. A avaliação é de quem entende do assunto. Nemitz é categórico ao dizer que o sistema rodoviário entrará em colapso logístico em até cinco anos:

- É necessário intensificar e ativar o ramal ferroviário e, igualmente importante, intensificar o modal hidroviário. O Estado precisa acordar e as entidades públicas e privadas precisam andar juntas na busca por soluções a curtíssimo prazo. Até porque, em cinco anos, do jeito que está, o sistema rodoviário entrará em colapso logístico.

À espera de uma possível renovação da concessão, prevista para 2028, a Rumo trabalha para obtê-la pelos próximos 30 anos. Nessa eventual renovação, acena com a reativação de terminais e, principalmente, em novos investimentos para a malha sul. 

CLÁUSULAS
Ainda assim, a Farsul pleiteia duas cláusulas numa nova concessão. A entidade quer o chamado direito de passagem. Ou seja, quando há a possibilidade de um concessionário utilizar a malha do outro por meio de pagamento. Já a outra cláusula prevê a reserva de parte da oferta ferroviária para uso de terceiros (como o operador ferroviário independente) por meio de direito de passagem. 

Ainda que o cenário mostre um longo caminho a ser trilhado, a Farsul avalia que a malha ferroviária hoje mostra, em parte, um desempenho mais satisfatório do que nos tempos da ALL.   

- A Rumo se relaciona de uma forma muito diferente do que a ALL fazia. Há, sim, hoje, uma confiança maior na Rumo. A ALL decepcionou muito enquanto detinha a concessão. E a ANTT foi complacente e não a autuou nem cumpriu com seu papel de agencia regulatória - aponta Nemitz. 

Ganho em competitividade e em custos ao se optar pela ferrovia
Com mais de 40 anos de experiência prática e acadêmica, o engenheiro civil Airton Paulo de Araújo avalia que a escolha pelo modal rodoviário, nas últimas décadas, mostrou-se um caminho perigoso, moroso e nada competitivo. Segundo ele, a opção pelo modal ferroviário ditou o ritmo dos avanços econômicos e sociais nos países onde isso ocorreu, principalmente no hemisfério norte. No Brasil, pelas próprias características geográficas, a ferrovia deveria ser a regra. E não a exceção: 

- O transporte por trem é prioritário para longas distâncias. Já o caminhão, por exemplo, é para viagens de curta distância. Sem dizer que o caminhão é caro, perigoso e causa imensos congestionamentos - afirma Araújo.

Mas o entendimento distorcido de sucessivos governos, que priorizaram as rodovias, levou o Brasil a ser um exemplo de como não se fazer e de perda de competitividade e de encarecimento de produtos:

- Um vagão carrega o equivalente a um caminhão. Agora, multiplica isso por 80 a 120 vagões, que é o que em média um trem tem. Os ganhos seriam infinitos. Porém, a mentalidade rodoviarista prevaleceu e, aí, o trem foi deixado de lado - diz. 

PLANO
Ainda em 2018, o governo do Estado lançou o chamado Plano Estadual de Logística de Transportes (Pelt-RS), um documento com mais de 200 páginas, que apresentou um diagnóstico da situação de todos os modais (rodoviário, ferroviário, aeroviário, hidroviário e dutoviário). A projeção que consta no Pelt é que sejam realizadas 114 obras que, juntas, somariam um investimento de R$ 36,8 bilhões até 2039.

À reportagem, a Secretaria dos Transportes afirmou que o plano "é um documento vivo e de suma importância para nortear todas as ações desenvolvidas no setor pelo governo do Estado" e, portanto, "ele é uma base, uma referência e pauta as iniciativas presentes e futuras do poder público para fortalecer os nossos mais diversos modais". A secretaria afirma que será permanentemente em contato com a Rumo "para garantir que sejam atendidas efetivamente as reais demandas do setor" no Estado.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) não retornou o e-mail da reportagem.

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