isolamento termoacústico

Pesquisador da UFSM desenvolve espuma que não pega fogo

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Fotos: Renan Mattos (Diário)

Há sete anos, uma chama de um artefato pirotécnico, em contato com uma espuma altamente inflamável, causou a morte de 242 pessoas e deixou outras centenas feridas no incêndio da Boate Kiss. Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que era o segundo lar de muitos dos que perderam a vida, surge uma alternativa renovável, sustentável e autoextinguível (que se apaga sozinha) para o isolamento acústico, que foi o propagador do fogo, agindo de forma rápida e intensa.

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André Luiz Missio, pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da UFSM e orientando do professor doutor Darci Alberto Gatto, está desenvolvendo uma pesquisa que fornece uma alternativa natural de isolamentos termoacústicos. Cozinhando a casca da árvore acácia negra, é possível obter um pó chamado tanino, material utilizado para curtir couro. Em uma reação química, o tanino cresce, transformando-se em uma espuma, que pode ser moldada no formato desejado. O resultado desse processo é totalmente orgânico, diferente do que tinha sido utilizado na boate, que era de poliuretano, ou seja, tinha origem do petróleo.

- Essas espumas de poliuretano são cheias de poros, que ficam cheias de dióxido de carbono. Quando elas pegam fogo, liberam substâncias tóxicas, que foi justamente o que aconteceu na Kiss. Nós buscamos um projeto de origem florestal que solucionasse esse problema - explica o pesquisador.

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Além de ter origem vegetal, o material resultante da pesquisa também não incendeia. Mesmo em contato direto com fogo e altas temperaturas, a espuma se autoextingue. A pouca fumaça que é gerada quando o material é colocado em contato com as chamas não é tóxica, nem prejudicial à saúde. E mais: por ser derivado de matéria-prima natural, a espuma não polui o meio-ambiente e pode ser reutilizada em outros contextos. Ou seja, ele desenvolveu um produto que não é inflamável ou tóxico e que pode ser reciclado, solucionando todos os problemas da espuma utilizada na boate.

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TECNOLOGIA DE TERRAS ESTRANGEIRAS
André aprendeu a desenvolver a espuma na Áustria, na Salzburg University of Applied Sciences, em 2017, com o professor Gianluca Tondi. Apesar de não ter pesquisado sobre isso durante o doutorado, período em que fez parte da formação na Europa, foi lá que ele conseguiu ver como era feita a produção - inclusive em larga escala -, fruto de uma pesquisa de 10 anos da universidade austríaca. 

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No ano passado, o pós-doutorando esteve na Finlândia, na Aalto University, para estudar uma forma de substituir uma parte química da produção da espuma por uma ainda mais sustentável. Com a concessão de uma nova bolsa de pós-doutorado, André seguirá a pesquisa focada na produção da espuma de tanino inserindo celulose em escala nano para aprimoramento do produto final. Segundo o pesquisador, o produto desenvolvido ainda não é um concorrente ao comercializado atualmente, produzido a partir de combustíveis fósseis:

- É preciso desenvolver a ciência para chegar em um produto final de qualidade. Para isso, é preciso um grupo de pesquisa que receba investimento. Para que, caso precise ficar 10 anos pesquisando, se tenha dinheiro. O que falta é seguir adiante, ter investimento na pesquisa - afirma.

Mesmo no exterior, o modelo de poliuretano ainda é o preferido. No entanto, conforme ressalta André, é necessário pensar em alternativas que sejam não apenas mais ecológicas, mas que também previnam novas tragédias como a da Boate Kiss.

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