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Para escapar de ditadura, aventureiro bielorrusso atravessa o Brasil de bicicleta

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Marcelo Oliveira (Diário)
Pedalando é que Serge tem conhecido diferentes lugares brasileiros

Com um português ainda em aprendizado, uma bicicleta, uma bandeira histórica bielorussa e muita simpatia e curiosidade, Serge Buzo, 37 anos, viaja pelo Brasil desde janeiro sobre duas rodas. Nascido em Minsk, ainda na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), atual Bielorússia, o aventureiro saiu de seu país para escapar da ditadura de Aleksandr Lukashenko e conhecer novos lugares. Sem fazer planos ou estabelecer um prazo de permanência, Serge solicitou a condição de refugiado e atravessa o Brasil enquanto aguarda os trâmites legais. Na última semana, em seu caminho do Chuí ao Oiapoque, o bielorrusso passou por Santa Maria.

Antes da pandemia, Serge trabalhava como professor de Educação Física em uma escola da China há dois anos. Em janeiro de 2020, no ano-novo chinês, retornou para rever a família na Bielorrússia. Ele estava na Europa quando a pandemia fez com que os países fechassem as fronteiras, principalmente para a China, epicentro da Covid-19 nos primeiros meses. Quando as aulas recomeçaram, ele ainda estava na Bielorrússia e, por isso, foi demitido. Assim, esteve no país durante as manifestações populares contra o regime ditatorial de Lukashenko, violentamente reprimidas pelo Estado, com milhares de presos e refugiados em países vizinhos. Nesses atos, os manifestantes oposicionistas usam as cores vermelha e branca, mesmas da bandeira que Serge carrega na bicicleta. A flâmula alvirrubra foi banida pelo regime ditatorial em 1995, e hoje é símbolo do movimento democrático do país.

- Se carregar essa bandeira que eu levo, a bandeira histórica, na Bielorrússia você pode ir para a prisão. Somente de usar as cores da bandeira, vermelho e branco, podem te prender - relata Buzo.

Já com a ideia de deixar o país, em janeiro Serge encontrou passagens baratas para o Brasil. Sem pensar muito, trouxe a bicicleta comprada na Ucrânia e desembarcou em São Paulo. Bielorrussos podem permanecer por 90 dias no Brasil sem um visto, o que facilitou a decisão. Também não é a primeira aventura de Serge. Ele já viajou pela Europa, países do Sudoeste Asiático, Japão e Irã, de bicicleta ou como mochileiro. A experiência como jogador e árbitro de rúgbi também o fez conhecer diferentes lugares.

- No mundo, todos pensam que o Brasil é muito perigoso. O primeiro pensamento foi de que algo aconteceria comigo, que eu perderia o dinheiro. Então eu comprei passagens de volta após três meses. Se algo acontecesse, eu ainda teria como voltar. Mas aí eu comecei a viajar, e vi tantas coisas interessantes, tantos lugares bons, e aí vi que a situação na Bielorrússia piorou. Não quis mais voltar para lá. Talvez, depois do Brasil, eu vá para outro país. Mas eu gostei daqui - conta Buzo, em uma mistura de português com inglês e sotaque russo.

Desde janeiro, Serge já percorreu cerca de 7 mil quilômetros. Passou por Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, percorreu o litoral, atravessou toda a Praia do Cassino e chegou em Chuí, no extremo sul brasileiro. Agora, o objetivo e chegar ao Oiapoque.

Buzo sobrevive com o dinheiro economizado durante os anos de trabalho na China, que ainda deve durar alguns meses. Às noites, dorme na própria barraca ou conta com a ajuda de moradores, que disponibilizam um espaço em aplicativos de hospedagem ou em grupos do Facebook. Durante o inverno, o bielorusso estava em Santa Catarina e chegou a dormir em uma barraca com a temperatura ambiente de -4°C em Urubici.

- Lá na Bielorrússia, quando é frio, ficamos dentro das casas, que são quentes. Quando cheguei ao Brasil, o que se dizia era de um país quente. Não tenho muitas roupas quentes. Então tive que ir até um brechó para comprar mais roupas. Nesse dia, usei todas as roupas e fiquei no saco de dormir - conta.

No Brasil, Serge ficou admirado com as belas paisagens naturais. Ele destaca os cânions, as praias e as serras. A hospitalidade brasileira também o encantou. Buzo não mede agradecimentos a todos os que ajudaram na jornada. Para ele, os brasileiros são amigáveis e gentis.

- Antes, eu viajei pelo Japão. Lá é bastante seguro, um país rico, mas as pessoas não se importam contigo. Ninguém te cumprimenta, é uma cultura diferente. Se você não fala com eles, eles não falam contigo. Aqui, no Brasil, é muito legal, as pessoas torcem por você, te cumprimentam. Talvez, se nada mudar na Bielorrússia, posso morar aqui. Já estou aprendendo português. Conversei com muitas pessoas, já vi muitos lugares, talvez eu decida que é o melhor lugar para mim - relata.

De Santa Maria, Serge foi para São Miguel das Missões, para conhecer o Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, e, na sequência, para Campina das Missões, no noroeste do Estado, berço da imigração russa no Brasil. Depois, os planos são vagos. Ele quer conhecer Foz do Iguaçu e Brasília no caminho para o Norte. Também não descarta conhecer o Nordeste. Ao se despedir, Serge deixa uma mensagem: ?yvie Bielaru?!, "Viva a Bielorrússia!", lema das manifestações em seu país natal e uma lembrança da necessidade de luta constante pelos direitos e pela democracia. 

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