Artigo

OPINIÃO: A onda reacionária

Sergio Blattes

Quando a maior parte da sociedade está jogando o jogo da sobrevivência, que implica, em regra, sobreviver o dia de hoje, a maior preocupação é buscar de qualquer maneira manter o status quo. Qualquer mudança poderá gerar uma situação, que por ser desconhecida pode ser vista como assustadora.

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As pessoas preocupadas em sobreviver o dia de hoje se agarram às suas “certezas” como se fossem boias salva-vidas. Qualquer sinal ou ideia de que existe o diferente soa ameaçador. Talvez esteja aí a explicação para o crescimento de posturas xenófobas, racistas, sexistas e de intolerância política. 

O instinto de sobrevivência tende a sobrepujar os sentimentos de fraternidade e solidariedade, aguçando o egoísmo.

Quando refiro “luta pela sobrevivência” não falo somente daqueles que querem garantir sua existência física, mas incluo também todos outros, que mesmo tendo suas necessidades mínímas garantidas, estão desesperadamente lutando para manter-se no patamar econômico/social que foi alcançado.

Portanto, incluem-se no que chamo “luta pela sobrevivência” até mesmo abastados, que não admitem perder privilégios.

Como vivemos uma época de grande mobilidade social, em que não é garantido a quem está nos andares superiores manter-se no mesmo patamar, há um contínuo subir e descer (todos querem subir, mas ninguém admite descer), passamos a viver a era do egoísmo. Cada um se agarra como pode no que já conquistou e não admite qualquer mudança e se sente no direito de “combater” qualquer movimento que possa abalar suas certezas.

Esta “luta pela sobrevivência” ou do status quo está na raiz da guinada conservadora, porque a sobrevivência é conservadora. A sobrevivência está voltada para o passado, o futuro parece assustador. Manter-se vivo pressupõe não perder o que já garantiu até agora para ficar vivo, ou seja, as coisas não podem piorar. É preferível deixar como está do que correr qualquer risco.

Pessoas voltadas para sua própria sobrevivência, ou preocupados em perder privilégios, tendem a ficar focados no que precisa ser feito no dia a dia para manter-se em situação inalterada, temerosos de que a mudança, se vier, poderá ser para pior. Mesmo a luta por justiça fica adormecida.

O reacionário, entendido como tal todo aquele que reage contra qualquer ideia que divirja da sua, é alguém saudoso do passado, descompromissado com o futuro. Deseja que as coisas sejam como sempre foram ou como são. Tudo que pode significar mudança é visto como ameaçador.

A questão que torna o assunto mais cabuloso é que nenhum reacionário admite sê-lo, mesmo que reconheça que outros o sejam. Isto nos remete a uma solução que, ao menos por hora, parece impossível.

Talvez, quando o egoísmo tiver nos levado para a barbárie total, quando cada um buscará seus interesses sem qualquer preocupação com o outro, sintamos a necessidade de reverter a onda e buscar novamente os sentimentos humanistas que caracterizaram os últimos séculos.


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