Foto: Germano Rorato (Diário/Arquivo)
Um dia após a redução das penas dos quatro réus do incêndio da boate Kiss em julgamento da 1ª Câmara Especial Criminal do Tribunal de Justiça do Estado (TJ), o coletivo “Kiss: que não se repita”, formado por sobreviventes e amigos de vítimas, fez, nesta quarta-feira (27), uma postagem nas redes sociais criticando a decisão. A manifestação, com a imagem dos corpos das vítimas enfileirados no Centro Desportivo Municipal (CDM), protesta contra a "indiferença que continua matando".
“Essas não são apenas imagens cobertas por lonas. São os corpos de pouco mais de 110 meninas depois do incêndio”, inicia o texto, que descreve a agonia das 242 vítimas. O coletivo rechaça a pecha de "vingativos" e questiona a percepção de parte da sociedade sobre o caso. “Enquanto nos dizem para ‘deixar os mortos descansarem’, esquecem que os sobreviventes não descansam — entre cirurgias de enxertos, sessões de fisioterapia, nas crises de pânico, noites de insônia, problemas pulmonares.”
O texto finaliza com uma crítica: “Neste país, a vida de 242 jovens vale menos do que o silêncio confortável de quem prefere defender réus do que encarar o crime que nos define.”
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A decisão do Tribunal
Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann tiveram as penas fixadas em 12 anos de reclusão. Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão foram sentenciados a 11 anos. As penas originais variavam de 18 a 22 anos. Todos permanecem presos, e ainda cabem recursos da decisão.
Confira na integra
27.01.2013 / 27.08.2025
12 anos e 07 meses - para não esquecer
Essas não são apenas imagens cobertas por lonas. São os corpos de pouco mais de 110 meninas depois do incêndio na Boate Kiss — os quase 130 meninos estavam em outro lado do ginásio.
São as pessoas que foram impedidas de respirar oxigênio, de atravessar uma porta de emergência que não existia, de sair sem pagar uma comanda. Eles foram condenados ao fogo, à asfixia na escuridão, aos gritos de desespero.
Enquanto isso, os condenados seguem defendidos como “pobres trabalhadores” que nunca imaginaram que aquilo poderia acontecer. Mas aconteceu. Nossos amigos morreram — asfixiados, queimados, pisoteados. Eles estão nessa foto, com as expressões da agonia que a Kiss lhes condenou.
A sociedade nos aponta como "vingativos". Mas o que seria vingança? Queimar os réus vivos? Asfixiá-los até a morte? A justiça não se mede com a régua da conveniência. Quem decide quem é “menos culpado” e que merece ou não responder pela morte de 242 pessoas?
Enquanto nos dizem para “deixar os mortos descansarem”, esquecem que os sobreviventes não descansam — entre cirurgias de enxertos, sessões de fisioterapia, nas crises de pânico, noites de insônia, problemas pulmonares. Não descansam os pais que enterraram os filhos e que, em muitos casos, acabaram tirando a própria vida por não suportar a dor da perda e uma condenação perpétua ao uso de medicações.
Nem aqueles que desenvolveram câncer no pulmão depois de respirar a fumaça tóxica daquela noite. E que também vieram a morrer.
O DESCANSO é um privilégio que a Kiss nos roubou.
E a cada nova decisão da "Justiça", a sociedade escolhe de que lado está: do lado da memória das vítimas ou do lado da indiferença que continua MATANDO.
Neste país, a vida de 242 jovens vale menos do que o silêncio confortável de quem prefere defender réus do que encarar o crime que nos define.