Morre o médico Waldir Veiga Pereira, um dos mais importantes médicos oncologistas do país

data-filename="retriever" style="width: 100%;">
Foto: Renan Mattos (arquivo, Diário)
Doutor Waldir Veiga Pereira em 2019, durante cerimônia de inauguração de unidade oncológica do Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo

Após alguns dias internado no Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, faleceu, às 2h45min desta quinta-feira, aos 82 anos, o médico Waldir Veiga Pereira. Ele foi fundador do serviço de oncologia e hematologia em Santa Maria, nos anos 1980, o que permitiu as primeiras cirurgias oncológicas na região. Também foi um dos pioneiros no Brasil a usar a técnica capaz de curar a leucemia. Por isso, ganhou reconhecimento nacional na área de Medicina. O velório começa por volta das 9h30min, na Capela B do Cemitério Santa Rita. O sepultamento está previsto para as 17h, no mesmo local.

HISTÓRICO

Waldir Veiga Pereira nasceu em Arroio Grande, na fronteira com o Uruguai, em 4 de fevereiro de 1939. Ele residiu no município com os pais e outros sete irmãos até concluir o Ensino Fundamental. Já em Pelotas, cursou o Ensino Médio e, em 1960, ingressou na faculdade de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), concluída em 1965. Na UFSM, onde atuou por 40 anos na docência, foi professor assistente, professor adjunto e depois titular do Departamento de Ciências Médicas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Maria. O doutorado foi cursado na Universidade de São Paulo. 

Assembleia para decidir sobre venda do Clube Caixeiral será nesta quinta-feira

Nos anos 1970, Waldir estudou em importantes instituições de pesquisa clínica nos Estados Unidos, em cidades como Chicago e Seattle. Possui especialização em transplante de medula óssea no Fred Hutchinson Cancer Research Center e em hematologia pediátrica pelo St. Jude Children's Research, nos EUA. Ainda na década de 1970, foi um dos pioneiros ao trazer a técnica capaz de curar a leucemia para o Brasil.

Estado altera protocolos e retira restrições a estabelecimentos

Depois das experiências nos Estados Unidos, o médico retornou a Santa Maria e fundou o serviço de Hematologia e Oncologia da cidade. No retorno ao Brasil, Waldir também se dedicou ao trabalho de divulgação dos avanços alcançados no tratamento da Leucemia Linfocítica Aguda. 

Em Santa Maria, fundou o primeiro Laboratório de Hematologia com finalidade específica de diagnóstico de hemopatias e citologia para outras neoplasias, junto à cadeira de Patologia no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). No Husm, também foi responsável pela criação do Centro de Transplante de Medula Óssea (CTMO) e do Centro de Atendimento à Criança e Adolescente com Câncer, a Turma do Ique.

Há 20 anos não fazia tanto frio em novembro em Santa Maria

Conforme a  Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, da qual Waldir ocupava a cadeira número 12, o médico foi autor ou coautor de mais de 170 publicações em revistas nacionais e estrangeiras e proferiu mais de 200 conferências em congressos e cursos especializados. Também foi presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica e ocupou a presidência transitória da Sociedade Latino Americana de Oncologia Pediátrica. Pertenceu à diretoria da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e por vários mandatos foi vice-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. Foi presidente por dois mandatos da Sociedade de Medicina de Santa Maria, quando liderou a fundação da Unimed local. Ainda como atividade docente, foi professor fundador da cadeira de Hematologia das Faculdades Católica de Medicina de Pelotas e de Passo Fundo.

Ele também era membro da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica, Sociedade Internacional de Oncologia Pediátrica e Member Emeritus of the American Society of Clinical Oncology. Além disso, exerceu a função de consultor ad hoc da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e foi membro consultivo do Instituto Nacional do Câncer (Inca) do Ministério da Saúde de 1992 a 1995.

Em 2012, Waldir Pereira recebeu o título de Doutor Honoris Causa da UFSM, no Auditório Gulerpe, do Husm. Além disso, ele também é Cidadão Benemérito, título conferido pela Câmara de Vereadores e era integrante do Conselho Diretivo do Labimed. A Unidade de Tratamento Oncológico do Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, inaugurado em 2019, leva o nome de Waldir.

PIONEIRO NA BUSCA PELA CURA

Em entrevista ao Diário, no ano de 2017, Waldir comentou sobre o empenho na busca por um tratamento para a leucemia.

- Quando comecei os estudos,não havia muitos especialistas em oncologia e hematologia. O câncer era considerado incurável, principalmente, a leucemia infantil. Aceitamos os desafios e a oncologia pediátrica alcançou muitos progressos. Falo de uma perspectiva de cura de 80% a 90% - relatou, à época.

Dono de um currículo extenso, Waldir manteve a humildade e sempre fez questão de agradecer a todos que auxiliaram nas conquistas médicas, especialmente em relação ao Hospital Universitário de Santa Maria (Husm).

- Nossos projetos foram construídos com voluntariado e contribuição de muitos parceiros. Em Santa Maria, somos vitoriosos na luta contra a leucemia aguda da criança. Aqui organizamos, com muitas outras instituições do Brasil, protocolos com o objetivo de perseguir as últimas conquistas em relação ao tratamento da doença. É importante lembrar que o primeiro transplante de medula óssea do Rio Grande do Sul foi realizado no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), em 1990. Somos pioneiros desse progresso no Brasil. Nossas pesquisas frutificaram e expandiram a cura do câncer por todo o país - disse.