Livro sobre a tragédia da Kiss é lançado nesta sexta-feira em todo o Brasil

Foto: Lucas Amorelli (Diário)

O que ainda não foi contado sobre a maior tragédia do Estado e a segunda maior do Brasil? Conforme Daniela Arbex, escritora de Todo Dia a Mesma Noite: a História Ainda não Contada da Boate Kiss, lançado nesta sexta-feira, em todo país, o livro aborda aspectos que quebram o silêncio dos profissionais da saúde que atuaram junto às vítimas. Também revela as sequelas emocionais que ainda repercutem, além da relação das famílias com seus filhos antes do dia 27 de janeiro de 2013.

Na próxima quinta, a jornalista volta ao Coração do Rio Grande, para um encontro e um bate-papo no Theatro Treze de Maio, às 19h. O evento é organizado pela editora Intrínseca, com apoio da Chili Produções Culturais e Athena Livraria.

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As 248 páginas da obra sintetizam um trabalho de dois anos, cerca de 100 entrevistas e 5 mil páginas de depoimentos transcritos. Os capítulos reconstroem cenas do dia do incêndio, a chegada da primeira equipe de bombeiros ao local do desastre até as últimas reviravoltas do processo nos tribunais, passando pelo resgate dos sobreviventes. Um dos trechos, foi adiantado pelo Diário de Santa Maria, ainda no dia 8 de janeiro.

Os capítulos também denunciam consequências de descuidos banalizados por empresários, políticos e cidadãos. A propósito, segundo a própria jornalista, o livro que retrata um exemplar de jornalismo literário, pela delicadeza e estilo narrativo, e que se enquadra na alcunha de jornalismo-denúncia.

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- Não tem um detalhe do livro que tenha sido criado para ambientar alguma coisa. Fui questionada porque não fiz uma ampla investigação dos desdobramentos criminais. Eu fiz o trabalho inverso: mostrar o efeito da falta de Justiça na vida das pessoas. Aí se denuncia tudo: um judiciário que não foi eficiente, do Ministério Público que não cumpriu o seu papel de ficar do lado das famílias e a política brasileira. É um livro de denúncias. Nenhuma história no Brasil, quando você coloca na internet, aparece tanto quanto o Caso Kiss. Mas quando optei contar pelo olhar das famílias e profissionais da saúde, contei uma nova história. O papel deste livro é de despertamento.

UM LIVRO SOBRE HUMANIDADES

Por telefone, no último dia 12, Daniela referiu a obra também como sendo um "livro sobre humanidades"e a maior experiência da sua vida. Um dos trechos traz, por exemplo, o dilema de um bombeiro, diante do número de vítimas no interior da boate. A descrição, nas palavras de Daniela relatam que "nenhum treinamento o havia preparado para lidar com a dor que sentia no momento em que se viu tomado pelo mais humano dos sentimentos: a compaixão".

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Em uma troca de e-mails, a jornalista também refere a produção como sendo a mais importante experiência da sua vida:

- Mergulhei tão fundo na vida dos personagens que passei a viver o luto deles. De repente, comecei a ter medo de perder meu filho. Precisei de ajuda psicológica e nunca mais me livrei do pensamento de que eu podia tocar meu filho, enquanto muitas mães já não podiam mais fazer o mesmo.Sempre lidei com denúncias envolvendo a violação de direitos humanos, mas, pela primeira vez, eu senti os efeitos dessa escuta.

TODO DIA A MESMA NOITE 

• Livro _248 páginas
• Editora _ Intrínseca
• Quanto _ R$ 39 (impresso) e R$ 19 (e-book) 
• Encontro da escritora em Santa Maria _ Quinta-feira, às 19h
• Confirmação de presença _ [email protected]
• Informações _ 99178-4518 

RELAÇÃO COM SANTA MARIA

A relação com a Boca do Monte não se restringe ao Todo Dia a Mesma Noite. Há 15 anos, a jornalista investigou Milton Soares de Castro, militante político santa-mariense que integrou a primeira guerrilha contra a ditadura,a Caparaó, e que ficou conhecido na história como suicida, embora ele tivesse sido assassinado.

A vinda de Daniela, na próxima quinta-feira, irá celebrar um encontro da jornalista com os santa-marienses mediado por Márcia Denardin, com a participação do jornalista Marcelo Canellas, que assina o prefácio da obra.

- Costumo dizer que nem sempre é o jornalista quem escolhe as histórias que conta. Muitas vezes, ele é escolhido. No caso da Kiss foi um radialista do meu grupo de comunicação, o Marcos Moreno, quem, em 2016, me disse que eu precisava contar. Me lembro perfeitamente do dia em que desembarquei na rodoviária de Santa Maria. Era domingo, fazia um frio de renguear cusco, como vocês dizem aí, e eu pensei: Meu Deus, o que estou fazendo aqui? Naquele momento, eu não sabia o quanto essa história transformaria a minha vida.