Foto: Renan Mattos (Diário)
No ateliê que montou em casa, Araceli trabalha com cabelos doados pela comunidade. O objetivo dela é colaborar na recuperação de pacientes em quimioterapia
A cabeleireira Araceli Aires Silva, 73 anos, uniu o dom profissional à vontade de ajudar a quem precisa. Há três anos, ela confecciona perucas para serem doadas a pacientes com câncer que perderam o cabelo durante o tratamento. Segundo a voluntária, a ação tem objetivo de ajudar a restabelecer a autoestima dessas pessoas, e assim, ajudar a amenizar um pouco desse processo. A partir do momento em que se aposentou, Araceli montou um ateliê, ou uma "mini-indústria", como ela se refere a sala de casa, onde confecciona as perucas.
- Desde que abracei esta iniciativa, já distribuí inúmeras peças. Gostaria de ter iniciado o voluntariado antes, já que sempre tive vontade de realizar esse tipo de ação - diz Araceli, que conta com o apoio do marido João Otelo Silva, e das filhas, Larissa e Francisca, para levar adiante a iniciativa.
Entre as motivações de Araceli, está o empenho em levar um pouco de alegria a quem não tem condições emocionais ou financeiras de investir na autoestima enquanto passa por quimioterapia.
- A Casa Maria tem me fornecido os cabelos recebidos em doação. Assim, a instituição me ajuda na produção, enquanto eu retribuo com o que sei fazer. No fim do ano, pude entregar seis perucas à instituição.
IDEIA
Em meados dos anos 1970, um profissional do Rio de Janeiro veio a Santa Maria ministrar um curso de produção de perucas. Curiosa e observadora, como se autodefine, Araceli conta fez questão de aprender e tornou-se especialista na área. Com persistência, aos poucos, ela começou a montar as perucas. Em busca de aperfeiçoamento, contava com a parceria de colegas para troca de informações e ideias. O novo ofício, rendeu a santa-mariense um novo negócio, que ajudou a complementar o orçamento da família.
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Assim, o que anos atrás era única e exclusivamente uma fonte de renda, se tornou uma atividade voluntária. Araceli não sabe precisar números, mas desde que começou a produzir perucas para serem entregues a pessoas que perderam o cabelo devido à doença, foram cerca de 30 moldes distribuídos.
- Quando a gente faz o bem para os outros a recompensa é maior para a gente. É difícil de descrever a gratidão. Na verdade é dos dois lados. As pessoas são gratas ao receberam ajuda. Eu sou grata por ter oportunidade de ver a expressão de quem fica muito feliz ao colocar uma peruca. Isso me deixa em estado de graça - conta a cabeleireira.
GRATIDÃO
A Casa Maria Amparo Assistencial a Pessoas em Tratamento Oncológico é um dos beneficiados pelas perucas produzidas por Araceli. No início de dezembro de 2018, a instituição entrou em contato com a cabeleireira em busca de doações. Prontamente, a voluntária se disponibilizou para fazer novos modelos. Segundo a assistente social da Casa Maria Cristina Marian Lago, a ideia é entregar mais perucas ainda em janeiro. Ela explica que uma ação como a de Araceli influencia positivamente vários aspectos de quem está enfermo:
- As pessoas que recebem perucas tem uma melhora significativa na autoestima. Com frequência recebemos doações de vários tipos de cabelos e de todos os tamanhos. Assim que eles chegam, encaminhamos a Araceli, que vai confeccionando e nos entregando as perucas.
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Assistente social da Casa Maria, Thiago Donadel diz que o ato voluntário de Araceli está diretamente relacionado a recuperação dos pacientes. Mesmo assim, ele acrescenta que, hoje em dia, muitas pessoas não se importam em perder o cabelo e preferem não usar nenhum adereço durante o tratamento.
- Esse auxílio é muito importante. A confecção das perucas e a boa vontade da Dona Araceli faz parte de todo o processo terapêutico de recuperação do paciente. As perucas ficam à disposição daqueles pacientes que optarem por usá-las - fala Thiago.
Araceli faz questão de produzir as perucas sozinha. Ela revela que, "no seu cantinho" e sem a companhia de ninguém, consegue confeccionar uma peruca em 7h ou 8h, sem dispensar, é claro, aquela paradinha para o almoço. Ela lembra que para chegar ao produto final, é preciso ter talento e paciência.
- O cabelo deve ser cortado especificamente para isso, já que em um corte convencional se perde muitos fios. Usar as perucas é fácil e prático. Porém, é preciso conservá-las com tratamentos específicos. Pode-se fazer luzes e lavá-las naturalmente. Se forem bem cuidados, esses adereços tem grande durabilidade - conclui a voluntária.
QUER AJUDAR TAMBÉM?
- Para doar cabelos para a produção de perucas, basta ligar para (55) 99153- 8467 ou entregar direto na Casa Maria, à Rua Erly de Almeida Lima, 447. Bairro Camobi