Cartazes antirracistas sofrem vandalismo e são arrancados de prédio da UFSM

Vitória Parise

Cartazes antirracistas sofrem vandalismo e são arrancados de prédio da UFSM
Fotos: Saéli Ramos (Arquivo pessoal)

Pela terceira vez neste ano, atos racistas voltam a ser pauta entre os alunos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Agora, os cartazes antirracistas colados nas paredes do prédio do Centro de Artes e Letras (CAL) foram rasgados e riscados. O ato de vandalismo aconteceu pela primeira vez em junho e, desde então, foi registrado mais cinco vezes. Em um desses casos, o material retirado da parede foi levado do local para impedir que fosse colado novamente pelos estudantes. Os cartazes foram colados no prédio após uma aluna do 3º semestre do curso de Artes Cênicas publicar manifestações de cunho racista em uma rede social.

A partir disso, o diretório realizou um mutirão com a participação de cerca de 20 estudantes do CAL, que substituíram os cartazes danificados por novos. A ação foi realizada no dia 19 de agosto e durou até às 18h. No entanto, no dia seguinte às 7h, os mais de 50 cartazes estavam rasgados, e até mesmo, rasurados com mensagens de ódio.

De acordo com Saéli Ramos, de 23 anos, acadêmica do sétimo semestre de Artes Visuais e membro do diretório acadêmico do curso, foram escritas mensagens ofensivas à mão nos cartazes, e na porta da sala conjunta do Diretório Acadêmico de Artes Visuais e do Diretório das Artes Cênicas e Teatro. O relato foi repassado para o Diretório Central dos Estudantes (DCE), que teria encaminhado o caso para a reitoria.

– Os funcionários (limpeza e segurança da UFSM) e professores se demonstraram bem preocupados, porque não temos câmera nem vigilância dentro do CAL. A segurança é bem precária, nenhum guarda ou zelador alegou ter visto qualquer ação de depredação feita quando não tinha ninguém no prédio.

Leia mais

Diário Explica: qual a diferença entre racismo e injúria racial?UFSM trabalha na construção de uma política de igualdade racial

Ao retornarem do recesso da UFSM, os estudantes perceberam que todos os cartazes foram removidos das paredes do prédio. Saéli explica que muitos dos cartazes foram pintados à mão por outros estudantes e colocados em pontos de grande movimento, como o hall do CAL, para evitar novos ataques. No entanto, a estratégia não foi suficiente e as artes foram rasgadas novamente.

Gustavo Rocha, ativista social antirracista e criador de conteúdo digital, mais conhecido como AfroGuga comenta que a universidade já tem se posicionado mais sobre estes casos, mas que ainda falta transparência nos processos burocráticos. Ele complementa, ainda, dizendo que o Movimento Negro está se organizando para além de atos e cobra que os responsáveis pelos crimes sejam punidos e investigados junto a universidade.

– Está sendo criado uma força-tarefa, só notas e atos não estão adiantando. Queremos punição e expulsão. Precisamos que a lei seja colocada em prática. E que se ouça o Movimento Negro.

Arte confeccionada por aluno.

O material arrancado do cartaz foi levado para evitar a reconstrução feita pelos alunos.

Fotos: Saéli Ramos (Arquivo pessoal)

O que diz a UFSM

A pró-reitora de Assuntos Estudantis (Prae), Gisele Martins Guimaraes, explica que os fatos de cunho criminal são gerenciads pelo Gabinete do Reitor, junto da Polícia Federal. No entanto, nenhuma denúncia foi registrada nos órgãos da instituição.

– Esses fatos não passam por nós, mas somos sempre comunicados. Nesse caso em especial, não tivemos comunicado formal, que geralmente chega pelo canal da ouvidoria da universidade, apenas comentários dos estudantes. A formalização das denúncias através da ouvidoria é fundamental para que o gabinete possa divulgar um posicionamento institucional. Até o momento, o fato não está sendo apurado pela equipe – explica Gisele.

Em contato com o gabinete do reitor, a vice-reitora Martha Adaime confirmou que nenhum registro via ouvidoria sobre o caso havia sido feito até o momento e reforçou que somente é possível dar encaminhamento sobre esse de situação a partir da formalização destes protocolos.

Luiz Bonetti, membro do Diretório Central Estudantil (DCE) da UFSM, comenta que as denúncias de vandalismo foram recebidas por meio de outros colegas do próprio DCE, alunos do CAL. Após, encaminharam para a diretoria do CAL e relataram em reunião com a reitoria o fato ocorrido.

– O retorno da UFSM foi de que seria necessário um mapeamento do caso para ver com que frequência estava

Procurada pela reportagem, a direção do Centro de Artes e Letras afirmou que não foi notificada formalmente sobre o fato, e alegou que não teria como responsabilizar alguém pois ninguém foi identificado até o momento.

Outros dois casos foram registrados em 2022

No início das aulas do primeiro semestre de 2022 da UFSM, o campus foi tomado por protestos por conta de publicações racistas produzidas por uma aluna de Artes Cênicas em seu perfil pessoal. O caso tomou notoriedade nacional.

Neste mês, frases racistas e desenhos de suásticas foram escritas em uma parede do banheiro masculino do Restaurante Universitário (RU), no campus sede da instituição. O local foi isolado e o registro foi feito junto à Policia Federal.

*Colaborou Letícia Klusener

Leia todas as notícias

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Será que eles são bons na cozinha? Conheça os participantes do BaitaChef Anterior

Será que eles são bons na cozinha? Conheça os participantes do BaitaChef

MDB confirma Simone Tebet em Santa Maria Próximo

MDB confirma Simone Tebet em Santa Maria

Geral