Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Bares e cantinas estão mudando cardápios e expositores para atender nova legislação
Um projeto de lei aprovado no início deste mês na Assembleia Legislativa gaúcha está mobilizando bares e cantinas de escolas. Isso porque o texto proíbe a venda de produtos como refrigerantes, balas, doces, salgadinhos e frituras. Assim que for sancionada pelo governador, José Ivo Sartori, os responsáveis pelas cantinas já instaladas nas instituições de ensino terão o prazo de 180 dias para fazer as adequações.
Em Santa Maria, a maioria das escolas já pratica a lei, em partes ainda. O Diário ouviu 10 escolas privadas de Santa Maria para saber o que vendem em suas cantinas.
BLITZE NAS ESCOLAS
- Escola Adventista - Norma da rede determina a venda de, somente, produtos saudáveis
- Sant'Anna - A direção afirma estar trabalhando no processo de mudança para adaptação à lei
- Santa Maria - Já incentiva a alimentação saudável, deixando expostos alimentos naturais. Ainda comercializa produtos industrializados (salgadinhos e refrigerantes), mas os produtos não ficam à mostra
- Santa Catarina - Já disponibiliza saladas de frutas, sucos naturais e gelatinas, mas ainda vende refrigerantes, balas e doces
- Medianeira - Há três anos, a escola proibiu a comercialização de salgadinhos, balas, doces e frituras. Refrigerantes ainda estão disponíveis
- Coração de Maria - Incentiva a alimentação saudável, mas ainda comercializa produtos como refrigerantes, que ficam em locais menos expostos aos alunos
- Centenário - Promove a alimentação saudável, deixando expostos alimentos naturais. Ainda comercializa produtos industrializados (salgadinhos e refrigerantes), mas os produtos não ficam à mostra
- Nossa Senhora Providência - Orienta a venda de produtos naturais
- G 10 - Direção destaca que mudança será gradativa. A primeira etapa prevê o fim da venda de refrigerantes, balas e doces
- Marcopolo - Disponibiliza produtos naturais aos alunos, mas ainda comercializa produtos como salgadinhos, frituras e refrigerantes
O QUE DIZEM AS ESCOLAS
A vice-diretora do Colégio Sant'Anna, Helena Rohde, explica que a instituição já desenvolve um trabalho com os alunos, mas que é necessário, também, ampliar uma ação junto às famílias.
- Há algum tempo, estamos trabalhando nessa readequação. Sempre é importante ter uma alimentação saudável. Dependemos de uma conscientização dos pais, de uma parceria família-escola - afirma Helena.
De acordo com o diretor do Colégio Marista Santa Maria, Carlos Henrique Pires Sardi, o processo de enquadramento na nova lei é uma questão de tempo.
- Aqui, no Santa Maria, viemos numa caminhada para desenvolver ações que incentivem uma alimentação saudável. Diminuímos guloseimas e, com a chegada da lei, vamos nos esquadrar - disse o diretor.
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Mesmo que o processo de proibição de comercialização dos produtos seja lento, e que o prazo de adequação seja de, praticamente, um semestre letivo, as instituições já trabalham para oferecer opções saudáveis. É o caso do Colégio Coração de Maria, que, há alguns anos, já adotou algumas medidas de olho na alimentação dos estudantes.
- Para nós, não é novidade. A nossa orientação é disponibilizar apenas lanches nutritivos - declarou a diretora da instituição, irmã Maria Zeni.
Conforme apuração do Diário, boa parte dos proprietários de bares e cantinas nas escolas particulares já recebem recomendações das direções.
- Estamos aguardando a confirmação da lei. Viemos conversando com pais e alunos para explicar que vamos mudar nossos tipos de lanches. No momento em que a escola for notificada e que o projeto virar lei, vamos nos adaptar - destacou a administradora da cantina do Colégio Coração de Maria, Elisabeth Pozzebon.
Na Escola Santa Catarina, a proprietária do bar, Vera Terezinha da Rosa dos Santos, explica que o cardápio está sendo adaptado. No entanto, ela revela que aguarda a sanção para que o projeto vire lei.
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- Aos poucos, estamos disponibilizando saladas de frutas, sucos naturais, gelatinas. Salgadinhos, balas e doces, já não vendemos - afirmou Vera.
NOVA CULTURA
A diretora de comunicação e projetos institucionais do Colégio Marcopolo, Isabel d'Avila, que a lei vai ajudar a reforçar conceitos de alimentação saudável que já são trabalhados em sala de aula. Porém, ela destaca que é preciso haver uma mudança de cultura, inclusive junto às famílias.
- A cultura alimentar do aluno vem de casa. Então, podemos proibir a venda de determinados produtos nas cantinas, mas não podemos impedir que o estudante traga de casa - ressaltou.
O QUE DIZ O TEXTO APROVADO
- Balas, pirulitos, gomas de mascar, biscoitos recheados
- Refrigerantes e sucos artificiais
- Salgadinhos industrializados e frituras em geral
- Pipoca industrializada
- Bebidas alcoólicas
- Alimentos industrializados cujo percentual de calorias provenientes de gordura saturada ultrapasse 10% das calorias totais
- Alimentos cuja preparação seja utilizada gordura vegetal hidrogenada
- Alimentos industrializados com alto teor de sódio
Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Administradores se reúnem para debater a nova lei
Com a intenção de se adaptar o mais rápido possível à nova lei, os proprietários de bares e cantinas de escolas do Rio Grande do Sul participaram, no último sábado, em Porto Alegre, de uma reunião para debater os principais pontos que terão que ser readequados nos estabelecimentos. Ana Amelia de Freitas Saccol, proprietária da cantina do Colégio Santa Maria e diretora do bar do Colégio Centenário, de Santa Maria, participou do encontro e destacou a importância da troca de ideias nesse momento de mudanças.
- No último sábado, nos reunimos com as nutricionistas de cada empresa para tentar entender de que forma essa nova lei irá impactar nos nossos negócios e como a gente poderá se adequar de maneira que o aluno queira comprar no bar e goste do produto. Isso será um grande desafio. Temos a preocupação de como tornar atrativa a cantina com coisas naturais. No Colégio Santa Maria e no Centenário, temos um trabalho no sentido de valorizar o que é saudável e "esconder" o que não é. Por exemplo, as geladeiras com refrigerantes são todas adesivadas, já o suco natural fica bem na frente, como um expositor - completou.
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Segundo a proprietária das cantinas é necessário elaborar um processo de educação alimentar. Não só necessariamente proibir o que é industrializado, mas sim mostrar o valor de consumir aquilo que teoricamente é mais saudável.
NOVOS HÁBITOS
A nutricionista Aline Braido Pereira avalia a importância da lei que limita a venda de determinados produtos como fator de mudança na cultura alimentar. Segundo ela, é preciso reforçar esse processo nas escolas, onde os alunos passam boa parte do dia.
- Estamos atrasados com relação aos outros Estados aqui do Sul. Em Santa Catarina, uma lei semelhante foi aprovada em 2001 e, no Paraná, em 2005. Penso que a escola é um grande influenciador e também um espaço de construção de hábitos de alimentação e, portanto, deve oferecer segurança alimentar para o público que ali está - avalia a profissional.
Aline aponta ainda que projeto de lei define que as escolas devem promover ações sobre alimentação saudável. As pessoas que trabalham nas cantinas deverão ser capacitadas, e isso será exigência para a concessão de alvará de funcionamento.