Santa Maria, 17 de agosto de 2025. Duas horas antes do jogo decisivo entre Inter-SM e Veranópolis, o aeronauta Lucas Fitz, 35 anos, já estava com a bandeira estendida na arquibancada atrás do gol no Estádio Presidente Vargas. O sobe e desce, inquieto, entregava a apreensão. O Alvirrubro precisava subir, repetia. Eram 14 anos de espera. Os quilômetros percorridos de casa até o palco da grande decisão eram proporcionais à dedicação do clube.
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O torcedor alvirrubro saiu de São Borja às 5h. São quase 400 quilômetros até Santa Maria. Na companhia de viagem, a esposa que, por superstição, não foi ao estádio. Junto à torcida organizada Fanáticos da Baixada, Fitz comentou sobre a expectativa pelo jogo válido pela semifinal da Divisão de Acesso. O palpite era 2 a 0.

– Entramos no estádio cedo. A preocupação de muitos é garantir um lugar na arquibancada. E a Fanáticos faz sua participação mais uma vez. Estávamos ansiosos por esse momento. Queremos o acesso, vamos empurrar o time para isso. Não só pelo Inter, mas a cidade merece isso – disse Fitz.
Alguns degraus acima, na arquibancada, estava o pequeno Mathias, 4 anos. Nos ombros da mãe Camila Oliveira, 35, ele apoiava o time no vai e vem dos braços que acompanham o ritmo da música. No rosto, um traço vermelho e outro branco. “Vai filho”, incentivava a mãe, que também estava acompanhada do marido Rodrigo Lopes, 32 anos, e da filha mais velha Marcela, 12.

A família mora no Bairro Passo das Tropas e, desde o início da competição, acompanha os jogos pela arquibancada. Para eles, não tem preço torcer para o time da cidade:
– Eu não tinha time do coração até conhecer o Rodrigo, que me apresentou o Inter-SM. Hoje, meu coração é alvirrubro – comentou Camila, antes de a bola rolar.
Na entrada dos jogadores para o aquecimento no gramado, o canto “vamos subir, Inter” ganhou ainda mais fôlego. “Tua cidade merece”, gritou um dos torcedores para o goleiro Copetti, que buscava a bola atrás da goleira. A sede pelo grito de gol era tamanha que, nessa hora, até uma bola na rede durante o aquecimento era motivo de comemoração. Fitz, próximo do alambrado, cantava e apontava para a torcida, quase como um maestro.
No apito inicial, o canto tomava conta da arquibancada. Não demorou muito para que se encontrasse com o grito de comemoração com a marcação de pênalti logo aos 2 minutos de jogo. Para Camila e a família, foi motivo de abraço e um aperto de mão forte na cobrança de Morbeck, que parou no goleiro Lucas Alves.
A oportunidade de gol desperdiçada não parou o canto incessante atrás do gol. Nas investidas do Veranópolis, que vieram na sequência, a apreensão a cada lance próximo ao gol defendido por Copetti. No gol, marcado por Alan Bald aos 39 minutos da primeira etapa, a explosão no estádio. O acesso à elite do futebol gaúcho estava próximo.
Com os punhos cerrados, Lopes erguia os braços em forma de comemoração. Fitz, por outro lado, colocava a mão no escudo do clube e celebrava:
– É inesquecível isso que estamos vivendo.
Final do primeiro tempo: Inter-SM 1, Veranópolis, 0. Ainda vivendo a euforia do gol, Camila tinha dificuldades para descrever a emoção da partida. Já o pequeno Mathias, no colo da mãe, falou sem titubear:
– Eu amei ver o jogo. Agora “tá” 1 a 0.

Respira... que ainda tem jogo (e história)
Intervalo de jogo e, na arquibancada, do lado direito do gol, estava Dora Pires, 54 anos, acompanhada de duas gerações de mulheres da família: a mãe Ioli Pires, 74, e a sobrinha Luana Puntel, 17. Foram poucas as vezes em que foram ao estádio. A maior parte dos jogos foi visto da janela do prédio onde moram e que oferece uma visão privilegiada da Baixada – como o estádio é chamado por elas. Mas, conforme Dora, esse precisava ser visto ainda mais de perto:
– Moramos do lado do Inter-SM, então, nos criamos vendo o time. Estamos sempre por dentro de tudo. E vamos ganhar. Santa Maria em peso está prestigiando o time da nossa cidade.
Antes de o segundo tempo começar, um respiro e mudança do palpite. Se antes do jogo apostavam em um 2 a 1, agora, estavam confiantes no 2 a 0.
Os 45 minutos até o acesso
Na volta do intervalo, cada ataque ou posse de bola era motivo de comemoração. Nos ataques não convertidos em gol, Marcela levava as mãos ao rosto como um lamento. A mãe Camila, quase como um consolo, avisava "agora vai, filha". E assim o tempo do marcador corria. A partir dos 40 minutos, Fitz, a família e boa parte da torcida atrás do gol pulava insistente e pedia pelo fim de jogo. Quando o árbitro da partida, Jean Pierre Gonçalves Lima, finalmente apita, comemoração. A festa parecia não ter hora pra acabar.
– Não tem explicação. É muita alegria – comemorou Camila.
Lucas Fitz celebrava e carregava a emoção após uma espera de 14 anos. Para ele, foi uma “explosão de felicidade”.
– A sensação do acesso é algo que mexe profundamente com a gente. O torcedor aguardava há 14 anos por esse momento. Então, foi uma explosão de felicidade, de alegria. Passou um filme na cabeça — contou.
Na comemoração, que se estendeu ao gramado do Estádio Presidente Vargas, o torcedor da Fanáticos da Baixada lembrava sobre os altos e os baixos que testemunhou com o clube nas últimas quatro décadas. Emocionado com a vitória, ele comentou sobre a relação duradoura com o clube:
— A gente olha para a Baixada, e ela já não é como há 20 anos. O entorno, as ruas, a avenida... parece um filme que a gente já viu, como em 2007, naquele acesso. Naquela vez, fiquei de fora do estádio. Agora, consegui entrar. Isso torna tudo ainda mais especial.

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