santa maria

Vítimas contam como agia professor que virou réu por suposto estupro e importunação

18.398

Nesta semana, a Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público contra o professor Vinícius Pompeo, 37 anos, de Santa Maria. Com isso, ele virou réu por suposto estupro de vulnerável e importunação ofensiva ao pudor. Ele já havia sido indiciado pelos mesmos crimes após investigação conduzida pela Polícia Civil em agosto.

Os casos vieram à tona depois que uma ex-aluna do professor usou as redes sociais para falar de situações de assédio e recebeu relatos de outras meninas que diziam ter passado pela mesma condição. O Diário conversou com três das vítimas dos abusos. Elas terão a identidade preservada. Em comum, todas carregam reflexos como a dificuldade de confiar em professores na vida acadêmica e o sentimento de alívio por terem sido escutadas.  

Uma ex-aluna contou que o comportamento do professor causava constrangimento: 

- Ele colocava a mão na nossa perna. Se a gente estava sentada num lugar, ele chegava do nada fazendo uma massagem que apertava bem o ombro. A gente ficava bem tensa com aquilo. Ele dava beijo no rosto já chegando perto da boca - detalha a ex-aluna. 

VÍDEO: câmeras de segurança flagram briga entre telemotos em Santa Maria

A vítima relatam que ele costumava ficar amigo dos alunos. Segundo ela, certa vez, o professor teria dito que estava namorando outra menina, que também seria aluna do mesmo curso.

- Ele dizia que, como ela era "menor de idade", e ele era bem mais velho, o relacionamento era algo que tinha que ser escondido, que os pais e professores não podiam ficar sabendo porque iria trazer uma imagem negativa para a instituição. Até que eu fiquei próxima da menina que ele supostamente estava namorando e descobri que aquilo era mentira - relata. 

A ex-aluna recorda, ainda, que quando se esquivava do contato físico, o professor reagia como vítima: 

- Quando a gente demonstrava que não gostava, ele se fazia de coitado, dizia: "ah, por que tu estás fazendo isso comigo?", "tu não me amas mais?", "eu sou teu amigo". E a gente ficava se sentindo muito mal. 

Outra vítima diz que percebe hoje como o formato das aulas e avaliações eram estratégias para que ele se aproximasse das alunas. Foi em uma atividade no pátio da escola, enquanto fazia exercícios no caderno, que ela teria sofrido um dos abusos: 

- Eu estava sentada fazendo exercícios, e ele chegou por trás e me abraçou e passou a mão no meu peito. Eu lembro que fiquei apavorada, minha reação foi levantar rápido e sair de perto, fingir que ia no banheiro, tomar água. Nem comentei com ninguém, nem em casa, fiquei pensando que foi sem querer, que estava maliciando. 

VÍDEO: estacionamento de shopping vira pista de treinos da PRF

A jovem diz, ainda, que em várias oportunidades ele teria passado a mão na perna dela, pegava na mão, falava baixinho e até teria chamado de "meu amor". 

Uma terceira ex-aluna disse que, quando foi aluna dele, tinha um namorado e que o professor dava opiniões de que o rapaz não a "merecia". Segundo a vítima, ele argumentava que ela era madura e merecia alguém mais velho. Depois, quando ela já não namorava mais, o professor passou a ser mais "invasivo".   

A menina narra um episódio durante uma prova oral em que teria sofrido uma espécie de "represália": 

- Eu estava respondendo a uma pergunta e ele botou a mão na minha coxa e pediu para eu me acalmar e prestar atenção nele, para ficar tranquila. Eu me afastei, tirei a perna, ele pegou na minha mão e falou para que eu prestasse atenção nele. Ele descontou metade da nota e falou que eu não tinha prestado atenção nele, que ele tentou me ajudar e eu não quis. Na época, aquilo foi muito confuso para mim porque eu sempre ia muito bem na disciplina dele. 

A mesma vítima também descreve o comportamento do professor no ambiente escolar, mesmo antes de ele ser professor dela: 

- Ele encontrava a gente no corredor, abraçava, com aqueles abraços apertados. Cheirava o pescoço e falava o quanto a gente estava crescendo e ficando lindas e o quanto ele estava ansioso para ser nosso professor. 

REFLEXOS
O impacto dos acontecimentos do passado ecoa até hoje para as vítimas. Uma delas disse que ainda tenta elaborar os sentimentos. 

- No fundo do meu coração, eu sei que não sou culpada, mas a gente fica pensando: por que eu o deixei passar a mão em mim? Eu me sentia muito incomodada, mas eu não queria acreditar que aquilo era uma coisa a mais, eu pensava que ele era meu amigo, meu professor de história - reflete. 

O medo de comentar a sensação de desconforto com as abordagens do professor é outro lugar comum entre as vítimas: 

- Fui tomada pelo discurso da época. Pensava: "não vou falar nada, porque não é nada demais". Percebi que é um processo quase que automático da gente se desvalidar, se desconsiderar. Retomar isso com amigas, se dar conta da vulnerabilidade que a gente tinha na época. É muito difícil. 

Outra vítima, que conversou com mais meninas que passaram pela mesma situação, disse que muitas usam medicamentos e fazem acompanhamento psicológico para tratar as sequelas do que sofreram. 

- Espero que as escolas tomem consciência e implementem algum tipo de orientação e amparo para que isso não aconteça com outras meninas - declara. 

CONTRAPONTO
No dia 5 de outubro, após denúncia do MP, a reportagem ligou para o professor. Um familiar atendeu o telefone e disse que, naquele momento, não se manifestariam em relação ao caso. Neste dia, o familiar também informou que o advogado que defendia o professor quando ele foi indiciado não estava mais no caso, e que Vinícius constituiria uma nova defesa no momento em que fosse citado no processo. Nesta sexta-feira, o Diário tentou contato com o professor novamente por telefone, mas as ligações não foram atendidas. A reportagem também entrou em contato pelo WhatsApp, mas não teve as mensagens respondidas. 

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Polícia investiga morte de cachorro como crime de maus-tratos

VÍDEO: estacionamento de shopping vira pista de treinos da PRF Próximo

VÍDEO: estacionamento de shopping vira pista de treinos da PRF

Polícia/Segurança