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Mauro Menezes Fetter fala de acessibilidade sob o ponto de vista de quem tem muito a ensinar

Gabriele Bordin

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Fotos: arquivo pessoal

O monitor de informática aposentado Mauro Menezes Fetter, 44 anos, nasceu em Santo Ângelo e, desde os 10, mora em Santa Maria. Tetraplégico desde os 22 anos, ele garante que as limitações físicas não o impediram de seguir em frente. Nesta entrevista, ele que faz de cada dia uma forma de aprendizados, adaptações e superação, comenta a trajetória pessoal e fala de acessibilidade sob o ponto de vista de quem tem muito a ensinar.

Diário - Qual é a sua relação com a Cidade Coração?

Mauro Menezes Fetter - Cresci em Santa Maria. Quando nos mudamos de Santo Ângelo, a intenção do meu pai era morar em uma cidade maior, já que trabalhava na área de vendas. Então, o município enquadrou-se muito bem devido ao aspecto populacional e por estar no centro do Estado, fator importante para deslocamento a outros municípios.

data-filename="retriever" style="width: 100%;">No registro, com a mãe (à esq.) e a irmã, em cerimônia em comemoração ao dia do soldado, no Regimento Mallet, em 1995

Diário - Fale da trajetória profissional. Em que áreas já atuou e o que faz hoje?

Mauro - Fui militar no Regimento Mallet, por aproximadamente um ano, em 1995. Do ano seguinte até o início de 1998, auxiliei meu pai, que era proprietário de uma loja de equipamentos de segurança eletrônica. Ajudei no escritório e nas instalações e assistenciais. Em 28 de março de 1998, sofri uma tentativa de assalto e reagi tentando correr do assaltante, que me atirou pelas costas. O tiro acertou a vértebra cervical 7. Foi assim que passei a conviver com a tetraplegia parcial. Tenho o movimento dos braços, mas não mexo punhos e dedos.

Diário - Como vê a inclusão de deficientes físicos nas instituições de Santa Maria?

Mauro - Quanto à inclusão de deficientes físicos nas instituições em Santa Maria, vou comentar sobre a área educacional, onde tive experiência. A cidade vai bem nesse aspecto, tanto para quem trabalha, quanto para quem estuda sendo deficiente físico. No meu caso, não cheguei a procurar emprego. Mesmo assim, pouco tempo depois de estar cadeirante, fui procurado pelo Colégio Adventista para ver a possibilidade de trabalhar lá. Acertamos os detalhes e fiquei no colégio por muitos anos. No Adventista, participei de palestras e debates com os alunos a respeito da rotina do deficiente físico.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Junto do instrutor artístico do Instituto Sarah Kubitschek, em Brasília, em setembro de 1998. Eles mostram duas pinturas feitas por Mauro

Diário - Chegou a participar de atividades esportivas?

Mauro - Participei de um evento sobre esportes adaptados, no qual funcionários e alunos interagiram. Na ocasião, fiz parte da banca de bocha adaptada da Associação Santa-Mariense Paradesportiva (Assampar). Por essas e outras, sinto-me acolhido em Santa Maria. No início de 2004, comecei a trabalhar no Colégio Adventista de Santa Maria, na área de monitoria de informática. E, no início de 2018, encerrei as atividades por lá. Em outubro do mesmo ano, aposentei-me.

Diário - Com base na própria experiência, os deficientes físicos podem dizer que têm respeito da sociedade?

Mauro - Na minha experiência, a maioria das pessoas nos respeita e nos ajuda. Raras vezes, ocorreu o contrário.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Mauro e as amigas Claudia (centro) e Adriana, em um jogo de bocha no Clube Cruzeiro do Sul, em outubro de 2016

Diário - E quanto à acessibilidade? É uma realidade?

Mauro - Há tempos atrás, havia menos cuidado quanto a isso. Hoje, com certeza, existe interesse e dedicação para resolver essas questões. Em Santa Maria, ainda há muitos lugares sem acesso adequado. No entanto, o interesse em resolver essas questões é uma realidade. As modificações adequadas demoram por conta de bloqueios burocráticos e questões relacionadas à arquitetura. Ou seja, esses são motivos antigos, sempre a serem resolvidos.

Diário - Aposentado, que atividades gosta de praticar?

Mauro - Gosto de me exercitar. Faço três seções de fisioterapia por semana. Às vezes, jogo bocha, em canchas adaptadas a cadeirantes. Minhas principais atividades de lazer incluem

utilizar meu notebook, onde navego muito na internet, escutar vários estilos de música, jogar e auxiliar meus sobrinhos em pesquisas escolares. Na televisão, gosto de assistir a filmes, séries e documentários.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Em momento de descontração, com o amigo Virgilio Magalhães, na cancha de bocha do Chico, em dezembro de 2016

Diário - Você também é uma apreciador da natureza.

Mauro - Sou, sim. Tenho uma pequena coleção de plantas e quatro peixes Betta.

Diário - Que perspectivas têm para os dias atuais?

Mauro - Continuar vivendo feliz, como tenho vivido. Desejo que possamos passar bem por essa fase de pandemia.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Evento do Projeto Alegria no Viver, em junho de 2017, no Colégio Adventista. A ação unia pessoas com deficiência e comunidade escolar em atividades esportivas

Diário - E um sonho?

Mauro - Seria ótimo conseguir restaurar minha medula. Esse é um belo sonho.

Diário - A pandemia que preocupa o mundo agora também é um desafio. Como tem lidado com a situação?

Mauro - Que momento turbulento estamos vivendo! É complicado enfrentar isso. Acredito que, se seguirmos bem as recomendações de prevenção e procurarmos ao máximo manter a calma, iremos vencer. O pânico ou preocupações em excesso só pioram a situação. Desejo que todos tenhamos calma e discernimento para enfrentar da melhor maneira possível esse tempo muito difícil na história. Logo vai passar. Acreditemos.

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