economia solidária

Depois de 35 anos, irmã Lourdes Dill deixará Santa Maria e o projeto Esperança/Cooesperança

Leonardo Catto e Pâmela Rubin Matge

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Maiquel Rosauro (Divulgação)

O projeto que deu a Santa Maria a alcunha de Capital Latino-Americana da Economia Solidária mudará de coordenação, e sua idealizadora deixará Santa Maria. Dos 70 anos de vida, Irmã Lourdes Dill, que dedicou 35 na coordenação do Projeto Esperança/Cooesperança, passará a responsabilidade a José Carlos Peranconi, o Zeca, 56 anos. Ele também é um dos líderes dos grupos de economia solidária na cidade e há décadas trabalha junto de irmã Lourdes. O anúncio oficial ocorreu ontem após uma reunião entre lideranças e voluntários do projeto e causou repercussão no Legislativo municipal e uma a surpresa na cidade. 


A despedida da religiosa está marcada para o dia 2 de abril de 2022, quando serão comemorados os 30 anos do Feirão Colonial e 34 anos do Projeto Esperança/Cooesperança. A pedido da Congregação Filhas do Amor Divino, ela se mudará para a Diocese de Grajaú, no Maranhão. Lá, atuará na cidade de Barra do Corda, a cerca de 450 km da capital São Luís, onde seguirá com atuação semelhante e junto dos povos indígenas e população socialmente vulnerável.

- Serão três meses de transição. É um novo tempo. Já faz 35 anos que estou aqui. Agora tem uma nova realidade na Arquidiocese. A Feicoop, o Feirão Regional vão seguir. Quero fazer uma transição tranquila e zelar para que nada volte atrás. No projeto, Feicoop e Feirão, ninguém vai mexer, vão ajudar a fortalecer. O Dom Leomar garantiu autonomia para os projetos, que vão ter o respeito que sempre tiveram - falou ao descartar que a mudança tem relação com seu posicionamento político partidário.

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Também estão previstas alterações administrativas. A sede do projeto será transferida da Rua Silva Jardim, no centro de Santa Maria, para o Centro de Referência de Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter, nos fundos do Parque da Medianeira, onde ocorre o Feirão Colonial nas manhãs de sábado e, anualmente, sedia a Feicoop.

O arcebispo de Santa Maria, dom Leomar Antônio Brustolin, relatou que a transferência não foi uma escolha pessoal, mas, sim, da congregação:

- Uma irmã fica geralmente de 6 a 9 anos em um trabalho. Eu sei que a cidade pode estranhar, mas é normal. Perguntem quais são as irmãs que duram tanto tempo em um processo. Acho que a gente tem que parar de olhar a questão pontual e ver a questão macro. Eu sei isso não é fácil. Muita gente nem compreende isso, e eu respeito, cada um tem um nível de compreensão e de capacidade de entender processos. A irmã Lourdes está muito tranquila e nós fizemos uma transição muito importante - disse Leomar em entrevista exclusiva ao jornalista Alexandre De Grandi, apresentador do programa Bom Dia Cidade, da CDN. 

Outra troca também é a do vigário geral da Arquidiocese de Santa Maria, padre Ruben Natal Dotto, que deve ir para Diocese de Júlio de Castilhos. 

- Com a mudança da coordenação da arquidiocese, com um novo arcebispo, ele pode imprimir a orientação conforme a visão dele. A irmã serviu com mais de 30 anos, um trabalho que a gente não viu em nenhum lugar, era linda a movimentação que ela fazia e vai continuar fazendo por onde for. Tenho certeza que outras pessoas continuarão a caminhada dela, mas eu lamento muito que isso aconteça. Eu penso que foram 9 anos fazendo o meu melhor, pude contar com a ajuda de todos a comunidade devota da mãe medianeira e por isso não tenho do que me lamentar. Fiz a minha parte e o meu melhor, por isso parto contente.  Precisava de mais espaço para tratar a minha saúde de forma séria, mas se o bispo quis assim, eu vou onde ele quer que eu vá e vou com alegria. Espero que levem meu trabalho adiante no santuário, em nome da devoção de todos no coração do Rio Grande. Saio de cabeça erguida porque sei que fiz a minha parte - disse padre Dotto, que fica até o dia 3 de fevereiro.

LEGADO

Lourdes Maria Staudt Dill nasceu em São Paulo das Missões, em 1951. Em 1969, aos 18 anos, ingressou na Congregação das Filhas do Amor Divino. Ela tem licenciatura em Economia Doméstica e extensão urbana e rural. Ambas formações foram feitas na Universidade de Passo Fundo (UPF). A mudança para Santa Maria foi em 1987, a convite da congregação e de Dom Ivo Lorscheiter, que era o bispo da Diocese de Santa Maria. Foi quando iniciou o trabalho com economia solidária na cidade e assumiu a coordenação do Banco da Esperança. A Feicoop, uma idealização de irmã Lourdes e sucesso desde as primeiras edições, teve público recorde na última edição anterior à pandemia, em 2019. Foram 302 mil pessoas nos quatro dias de feira. Em 2020, em reconhecimento ao trabalho com economia solidaria, a irmã Lourdes Dill foi eleita 'Mulher Transformadora', pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon).

O PROJETO
O surgimento do Projeto Esperança/Cooesperança foi inspirado no livro "A Pobreza,  Riqueza dos Povos", do autor Albert Tévoèdjeré. O estudo iniciou em 1980 e,em 1986, iniciaram os primeiros Projetos Alternativos Comunitários (PACs). Em 15 de agosto de 1987, foi criado o Projeto Esperança.

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