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Vamos jogar Uno?


Esse é um convite muito frequente que recebo quando atendo adolescentes. Considero um jogo muito interessante e cheio de surpresas, mas hoje não estou aqui para dizer o quanto jogar é interpretativo, sendo ferramenta importante no cenário analítico e clínico. Sabia que por traz dos jogos há uma lógica? Bem, talvez isso não soe como novidade, mas o quanto essa lógica que o jogo traz, também está falando da nossa lógica enquanto sujeitos. Digo isso, pois passei um tempo observando esse jogar na cena analítica durante os atendimentos, mas foi necessário levar o jogo para a minha vida pessoal a fim de compreendê-lo. Não é um simples jogo escolhido, na prática clínica o sujeito fala de si a partir dessas escolhas. E penso que na vida não tem como ser muito diferente, afinal, nossas escolhas falam sobre nós. E o Uno também é sobre escolhas né?

Bem, vamos ao que observei a cerca da lógica do jogo. Eu já vinha com essa pulguinha fazia algum tempo, e numa noite entre familiares resolvemos jogar Uno. Em determinado momento, me vi com um olhar muito mais clínico e crítico ao jogo que acontecia a minha frente. Cada jogador vai montando seu raciocínio, porém é como se em algum momento esses raciocínios se encontrassem. Quem nunca durante o jogo ficou um tempo numa das cores? Digo que esse é o ponto de interseção - quando a lógica de um encontra a lógica do outro. E parece que a lógica para. Ou ainda, aqueles momentos na vida em que algumas coisas estão estagnadas, quase que sem emoção, até mesmo um vazio. Como o movimento automático de pegar e soltar as cartas. E é aí que surge a necessidade de fazer furo nisso que parou, que estagnou, que pode estar sem graça.

Que emoção é jogar as cartas +2 ou +4 para dar aquela agitada. Ou melhor, mesmo que o jogo esteja nas cartas dos números e cores, que interessante é você quebrar isso com uma carta de outra cor ou outro número, mas não lá de vez em quando, que se possa fazer isso a cada jogada que for sua. E se a cada jogada se permitir quebrar o jogo, para confundir os outros, para sair da mesmice?! A vida tem sua emoção quando permitimos realizar furos no conforto. E foi o que fiz nas partidas seguintes: parti lugares de conforto para poder dar novos sentidos aquilo que é novo e tão difícil. Ou seja as novas lógicas no Uno podem equivaler as novas lógicas de lidar com a vida. Não precisamos girar da mesma forma para o resto da vida. Um clichê retrógrado é pensar na síndrome de Gabriela ("eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim, Gabriela"), que sem graça pensar na vida sendo sempre assim. Já parou para pensar nas imensas possibilidades de ser, crescer e estar onde seu desejo aponta? E não me venha citar as dificuldades, pois isso são consequências de um movimento. Enquanto afirmar que é difícil, continuará sendo, e isso não é frase motivacional ou de autoajuda, é lógica. Quebre esse significante - difícil - por outra possibilidade, por outro sentido. E isso não é tão difícil quanto parece. Se eu disser a palavra Vênus pode-se interpretá-la como um planeta, ou a deusa, ou outra referência que tiver - isso são possibilidades.

Eu considero fantástico realizar fissuras na mesmice. E na minha prática clínica, tenho respeitado esses movimentos que os analisandos fazem. Realizar um furo na demanda que o sujeito traz a partir da sua língua não é um movimento fácil. Mas assim como no Uno são movimentos que falam de apostas. Cada carta que o analisando sustenta em sua jogada é uma aposta; cada carta que um familiar meu jogou é uma aposta; as minhas cartas, a partir da leitura que fui fazendo, também falam das inúmeras apostas que tenho a disposição. E creio que nas apostas o importante não é o ganhar ou perder, mas o quanto que se consegue sustentar os afetos que acompanham.

O Uno não é um jogo só por diversão. É um jogo que faz com que se olhe para a lógica que habita em cada um; as apostas; singularidades; afetos; olhares... É muito mais que um jogo de escolhas!Esse é um convite muito frequente que recebo quando atendo adolescentes. Considero um jogo muito interessante e cheio de surpresas, mas hoje não estou aqui para dizer o quanto jogar é interpretativo, sendo ferramenta importante no cenário analítico e clínico. Sabia que por traz dos jogos há uma lógica? Bem, talvez isso não soe como novidade, mas o quanto essa lógica que o jogo traz, também está falando da nossa lógica enquanto sujeitos. Digo isso, pois passei um tempo observando esse jogar na cena analítica durante os atendimentos, mas foi necessário levar o jogo para a minha vida pessoal a fim de compreendê-lo. Não é um simples jogo escolhido, na prática clínica o sujeito fala de si a partir dessas escolhas. E penso que na vida não tem como ser muito diferente, afinal, nossas escolhas falam sobre nós. E o Uno também é sobre escolhas né?

Bem, vamos ao que observei a cerca da lógica do jogo. Eu já vinha com essa pulguinha fazia algum tempo, e numa noite entre familiares resolvemos jogar Uno. Em determinado momento, me vi com um olhar muito mais clínico e crítico ao jogo que acontecia a minha frente. Cada jogador vai montando seu raciocínio, porém é como se em algum momento esses raciocínios se encontrassem. Quem nunca durante o jogo ficou um tempo numa das cores? Digo que esse é o ponto de interseção - quando a lógica de um encontra a lógica do outro. E parece que a lógica para. Ou ainda, aqueles momentos na vida em que algumas coisas estão estagnadas, quase que sem emoção, até mesmo um vazio. Como o movimento automático de pegar e soltar as cartas. E é aí que surge a necessidade de fazer furo nisso que parou, que estagnou, que pode estar sem graça.

Que emoção é jogar as cartas +2 ou +4 para dar aquela agitada. Ou melhor, mesmo que o jogo esteja nas cartas dos números e cores, que interessante é você quebrar isso com uma carta de outra cor ou outro número, mas não lá de vez em quando, que se possa fazer isso a cada jogada que for sua. E se a cada jogada se permitir quebrar o jogo, para confundir os outros, para sair da mesmice?! A vida tem sua emoção quando permitimos realizar furos no conforto. E foi o que fiz nas partidas seguintes: parti lugares de conforto para poder dar novos sentidos aquilo que é novo e tão difícil. Ou seja as novas lógicas no Uno podem equivaler as novas lógicas de lidar com a vida. Não precisamos girar da mesma forma para o resto da vida. Um clichê retrógrado é pensar na síndrome de Gabriela ("eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim, Gabriela"), que sem graça pensar na vida sendo sempre assim. Já parou para pensar nas imensas possibilidades de ser, crescer e estar onde seu desejo aponta? E não me venha citar as dificuldades, pois isso são consequências de um movimento. Enquanto afirmar que é difícil, continuará sendo, e isso não é frase motivacional ou de autoajuda, é lógica. Quebre esse significante - difícil - por outra possibilidade, por outro sentido. E isso não é tão difícil quanto parece. Se eu disser a palavra Vênus pode-se interpretá-la como um planeta, ou a deusa, ou outra referência que tiver - isso são possibilidades.

Eu considero fantástico realizar fissuras na mesmice. E na minha prática clínica, tenho respeitado esses movimentos que os analisandos fazem. Realizar um furo na demanda que o sujeito traz a partir da sua língua não é um movimento fácil. Mas assim como no Uno são movimentos que falam de apostas. Cada carta que o analisando sustenta em sua jogada é uma aposta; cada carta que um familiar meu jogou é uma aposta; as minhas cartas, a partir da leitura que fui fazendo, também falam das inúmeras apostas que tenho a disposição. E creio que nas apostas o importante não é o ganhar ou perder, mas o quanto que se consegue sustentar os afetos que acompanham.

O Uno não é um jogo só por diversão. É um jogo que faz com que se olhe para a lógica que habita em cada um; as apostas; singularidades; afetos; olhares... É muito mais que um jogo de escolhas!

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